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A música conecta

As experimentações de Scott Franka sob diferentes nuances estão o catapultando para um next level

Por Alan Medeiros em Troally 26.09.2017

Não se intimide pelo baixo número de releases no catálogo do holandês Scott Franka – apenas três até aqui. A chave para seu sucesso até aqui reside na qualidade e profundidade do trabalho e não na quantidade. Este jovem produtor inglês, natural de Amersfoort, é uma das gratas surpresas do catálogo da Quartet Series, label dirigido pelo holandês Nachtbraker (relembre chart dele por aqui) e tem entregue uma mistura entre house, disco e elementos psicodélicos que soa de maneira absolutamente natural.

Seu debut release no digital, The Gym, reflete exatamente esse lado. As faixas possuem aquela atmosfera “difícil de classificar”, mas não parecem estranhas. Pelo contrário, a música de Scott é um tanto quanto familiar, mas diferente do que já ouvimos ao mesmo tempo. Em seus outros dois releases, Franka colabora com KAAP numa proposta mais low e experimental pela Working Tittles (seu próprio selo), comprovando que seu caráter sonoro ainda está em formação, mas já se apresenta grandioso. A nosso convite, Scott preparou um mix exclusivo para edição 117 da Troally e respondeu algumas perguntas com inteligência e sobriedade. Confira abaixo: 

1 – Olá, Boris! Tudo bem? Sinto que a cena house holandesa está sendo turbinada por um time de jovens produtores. O que você pode nos falar a respeito disso? Como tem sido viver este momento e ser parte disso?

Olá! Estou bem, obrigado. Devo dizer que viver em Amsterdam neste momento, tendo música eletrônica, artes e filmes como paixão é ótimo. Muitas coisas diferentes acontecendo – pequenos labels emergindo a todo momento. Eu gosto muito do conceito DIY (Do It Yourself) que muitas pessoas têm, pegando as matérias, começando a colocar os discos e fazer os shows. Moro em Amsterdã há uns anos, mas meus primeiros passos no house, techno e na cena da música eletrônica foram alimentados por uma cena muito pequena em uma cidadezinha chamada Amersfoort. Começamos a fazer festas em um café e começamos o nosso primeiro coletivo de DJ/artes: BARRE TIJDEN (traduz-se em tempos difíceis). É realmente inspirador ver todas essas pessoas em novos papeis agora: como parte da organização do DGTL Festival, como residente na De School e como programador do clube Claire por exemplo. Há apenas alguns meses, comecei um live act e um label chamado Working Titles com meu irmão musical Robbert Van Der Bildt (KAAP), lançando discos e improvisando ao vivo no palco. Gosto disso em Amsterdã: a quantidade de pessoas criativas no ambiente, conhecendo constantemente novos profissionais e começando novos projetos com elas.

2 – Em sua bio, você cita que produz música desde os 11 anos de idade. Como exatamente isso começou? Naquela época, por quais estilos e artistas você foi influenciado?

Por mais estranho que pareça, fazer música eletrônica começou com meus pais abrindo uma conta bancária para mim. Com isso veio um sequenciador DAW muito barato e o primeiro que encontrei: eJay. Era um sequenciador de arrastar e soltar samples, por isso era muito limitado, mas eu tinha 11 anos, então para mim era o melhor no momento. Foi muito diferente de tocar bateria (eu tocava desde os 6 anos). De repente, se eu passasse algumas horas na música, poderia gravar e escutá-la várias vezes. Eu pulei para Magix Music Maker, depois Reason e adorei. Na mesma época, meu pai me levou no Pinkpop (um festival que predominava o rock, mas também teve grandes nomes da dance music) onde artistas como Underworld, Faithless, Moby e The Prodigy estavam tocando. Eu estava acostumado apenas com rock nos grandes soundsystems. Quando escutei 808 bass drums limpos e as batidas do Moby, eu estava vendido. Então, houve o início do KaZaa (lembre-se quando o download de 7kbps foi rápido), e acabei baixando tudo que eu poderia encontrar. KaZaa sempre deixava artistas relacionados em suas listas de pesquisa, assim encontrei muitas músicas ótimas e muito ruins também, bastante coisa desconhecida. Acho que foi um bom momento para pesquisar, encontrar e escutar música, pois eu era ingênuo de uma maneira muito positiva, aberto a tudo.

3 – Detroit, Chicago, Londres… é possível observar traços de cada uma dessas escolas em sua música. Na sua análise, qual o segredo pra fazer diferentes influências funcionarem de forma harmônica dentro do processo de criação de uma identidade musical?

Há poucas semanas eu encontrei o recibo dos três primeiros discos que comprei. Eu tinha 12 anos e pus as mãos em toca-discos da Numark super baratos. Eram: 1. Pete Rock – Petestrumentals (grande Dilla, como álbum de hip hop instrumental). 2. Tiesto – Suburban Train. 3. Photek – Form Function (álbum muito bom de jungle minimalista, continua um clássico atemporal, grande indicação). Durante esse tempo eu fiz toda música que poderia; breaks, house, lounge, idm, aphex twin. Isso me fez ter um kit de ferramentas colorido, por assim dizer. Produzo tantos estilos de música diferentes, acho que o processo e método de fazer música são o mais importante para o meu próprio som/identidade. O seu método define muito o seu som e quem você é como artista, principalmente se você produz vários estilos. Por exemplo, gosto muito de máquinas pequenas com funções específicas, também gosto de ficar à toa, usando máquinas para uma finalidade totalmente diferente da que elas foram feitas. Particularmente, devo dizer que ainda estou passando por todos os estilos e experiências e realmente aproveitando por não ter escolhido um só.

4 – Logo em seu primeiro release, você emplacou um lançamento na Quartet Series. O que representou pra você trabalhar com Nachtbraker e sua equipe? Há planos para lançamentos futuros no label?

Trabalhar com Maurits foi ótimo, nós temos uma boa conexão juntos. Ele me deu a oportunidade de lançar minha música, sou muito grato por isso. Além disso, ele também me deu a oportunidade de trabalhar com Elsemarijin Bruys no design da capa do meu debut EP. Isso tornou um projeto pessoal totalmente novo. Ela pintou um fisiculturista em 4 cores diferentes (longa história). Recebi muitas reações de grandes inspirações no lançamento. Um novo release sairá, mas quando e como ainda não está confirmado. Eu e Maurits estamos com alguns planos, em breve. Fiquem ligados!

5 – Gigs, novidades, lançamentos. O que vem por aí ainda em 2017?

No ADE, estarei muito ocupado. Apresentarei meu próprio palco sábado no Into The Woods com Awanto3 (Dekmantel), Palmbomen II, Bossoyo, Lullabies for Insomniacs (Izabel), Working Titles, KAAP e mais. Juntamente com grandes amigos Elsemarijn Bruijs e Tim Straver, estou fazendo uma instalação audiovisual para o stage. Além disso, devo tocar em duas festas sexta-feira, ao lado de Paranoid London, Skatebard, Volvox, Kink e Henrik Schwarz. Acho que o ADE é o que estou esperando ansiosamente agora.

Release: o novo EP do Working Titles será lançado no começo de novembro. Estou lançando solo em um sampler muito legal pela Stealth Mission (Acid label com curadoria de Ben Sims), mas ainda não posso falar muito sobre. Também tô fazendo uma instalação de arte e apresentação junto com Nick Verstand, que vamos estrear em janeiro, aqui em Amsterdã. Uma instalação de arte imersiva (embora eu odeie essa palavra) sobre a redefinição do espaço com som e luz. Por fim, como Working Titles, estamos criando um projeto de filme mudo em live improv.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas tocando instrumentos musicais, noite e área interna

6 – Na sua visão, o que difere um bom DJ dos demais?

Pergunta difícil. Gosto de DJs que são divertidos e que ousam tocar de tudo. Eu acho que meus preferidos atualmente são Objekt e Call Super (excelentes produtores também). Eles estão tocando hardcore jungle e combinando raízes do Reino Unido com house, techno, tudo junto. Adoro isso.

7 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. Aonde vocês se imaginam daqui a 5 anos?

Em cinco anos, estarei em uma piscina 24 horas por dia, e esperançosamente um pouco mais longe.

Música de verdade, por gente que faz a diferença! 

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