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A música conecta

Serp4f encara a música como uma relação de amor e trabalho

Por Alan Medeiros em Troally 07.07.2016

Ao falarmos no Rio de Janeiro certamente a música eletrônica não é a primeira coisa que vem a sua cabeça. A capital carioca embora seja uma das principais cidades do país, não possui historicamente uma cena tão ativa e intensa se comparada a outros grandes centros. É verdade que por lá já passaram alguns grandes nomes das cenas house e techno, mas de uma fora geral a dance music underground não está em foco. Entretanto, isso não significa que não há bons artistas e projetos rolando pela Cidade Maravilhosa. Juliano Serpa aka Serp4f e toda crew da 4finest Ears há alguns anos vem desenvolvendo um trabalho de base forte com muita qualidade. Por aqui na Troally a talentosa πollanda já mostrou seu talento e falou conosco, agora é a vez de Juliano dar as caras por aqui. Música de verdade, por gente que faz a diferença!

1 – Olá, Juliano! Obrigado por falar conosco. O primeiro contato de um entusiasta com a música eletrônica normalmente é algo marcante. Como isso aconteceu com você?

Eu que agradeço pelo espaço. Para falar a verdade, a música sempre foi muito importante para mim, além de uma companhia, meus pais, que são músicos, me criaram cercado por caixas de som, instrumentos e melodias. Quando criança costumava juntar varias músicas das rádios em uma fita cassete e meus amigos iam à minha casa para ficar escutando. O primeiro contato foi como o de todo mundo, comecei a ir para raves e pequenas festas, até que conheci uma pessoa de Dublin que me mostrou um universo mais bonito – e secreto – dentro da música eletrônica e me explicou que aquilo que eu ”consumia” não era o que realmente rolava lá fora. Foi então que tive o contato com Ricardo Villalobos, Losoul, músicas como La Boheme, Legowelt, Joy Orbison, entre outros. Acho que esse foi o grande momento onde aprendi, de fato, a escutar e pesquisar música.

2 – Apesar do Rio de Janeiro ser uma das principais a cidade do país a cena eletrônica não é tão desenvolvida e destacada como em outros centros como São Paulo e Curitiba. Quais os principais desafios e vantagens de se trabalhar com house e techno no Rio?

Os principais desafios possivelmente são: a falta de um canal de mídia que fale mais sobre a música eletrônica, o desconhecimento dos donos dos clubes sobre melhores sistemas de som, mixers, etc. Alguns clubs ainda usam CDJ 400 (que nem .wav toca) e o soundsystem é, no máximo, razoável, por mais que alguns sejam melhores que outros. Falta também um clube que seja só música eletrônica, mesmo que não seja muito grande. Acho que uma vantagem seria que não tem muita gente que realmente leva a sério os gêneros house/techno, muitas festas e pessoas usam esses nomes mas o público aos poucos tem se educado e, cada vez mais, aumenta o nível de exigência, forçando um tipo de “seleção natural“ onde só os bons ficam.

3 – Fale um pouco sobre seu trabalho frente a 4Finest Ears. Na sua visão, quais são as grandes conquistas da marca até então?

A 4F nasceu a partir do meu desejo de escutar a música na qual acredito e de ter a chance de trazer, eventualmente, artistas que admiro, além de dar espaço para aqueles que fazem por merecer. Livre de rótulos, dentro do nosso modo minimal, e focado na qualidade de audio que entregamos para o público. Fomos os primeiros a trazer o sistema Funktion-One ao Rio de Janeiro e, na ocasião, uma festa com entrada gratuita. Foi uma das experiências mais iradas que proporcionamos e acredito fortemente que devemos abrir a mente do público para os DJs e labels que tocam o verdadeiro deep house music, techno e minimal. Hoje vemos as pessoas começando a se interessar e respeitar mais o trabalho da galera por trás dos decks.

4 – Uma pergunta que pode parecer clichê mas ela soa muito interessante quando a fizemos para artistas que possuem um nível de pesquisa tão interessante como o seu. Quem são suas maiores influências dentro da música eletrônica?

De longe, o primeiro nome que penso é El Gato, escutava seu podcast sempre (podcast 70 se não me engano). Nomes que me faziam ir além como: Losoul, Theo Parrish, Ricardo Villalobos, Kraftwerk, Moodymann, todos os caras que acreditaram no House Music lá no inicio. De perto, minhas duas maiores influências, sem dúvida, são: uma pessoa que não toca nem produz, porém compra discos, vai para boas festas e assim pode me passar uma boa síntese do que é a música eletrônica e qual melhor caminho a seguir; a outra é o, ainda jovem, Dj/Produtor Manara, cujo estúdio tive o prazer de poder frequentar e saber como funciona o processo de criação das músicas que eu admiro. Hoje ele está em Londres, para levar nossa bandeira a novos horizontes.

https://www.youtube.com/watch?v=VXa9tXcMhXQ

5 – VENDi, Lamache, Andrea Ferlin, Dee Bufato e Tati Pimont são alguns dos grandes artistas que já passaram pela pista da 4Finest. Como funciona o processo de curadoria artística da festa?

O nosso foco é trazer o som em que acreditamos, proporcionar para o público a festa que gostaríamos de vivenciar. Sendo assim, não fazemos cada edição apenas por que tem “DJ gringo na area“. Estamos sempre nos atualizando com o que está acontecendo, com os artistas que gostaríamos de trazer e com nomes que precisamos trazer, gente que ta mandando bem e sabemos que a galera da festa vai pirar, assim temos objetivos e oportunidades dentro da nossa linha sonora sem precisar mais fazer muita ”média”.

6 – Gigs, projetos, novidades… O que vem por aí nesse restante de 2016?

Correndo aqui com os preparativos para primeira edição da festa em Curitiba esse final de semana, a convite da Lourene da festa Redoma. Já no próximo fim de semana , apresentaremos para galera do RJ o DJ/Produtor Voigtmann, de Londres (Toi.Toi Musik), que está em tour pela América Latina. Ele é daqueles que, talvez, o público não conheça pelo nome, mas certamente já dançou muito suas produções. Igualmente animado com o projeto novo da 4F, onde a Tati Pimont e Carolina Hollanda apresentam um dinâmico b2b caminhando entre o digital e o analógico de forma sutil. As pesquisas delas conversam harmonicamente, elas se apresentaram em Porto alegre semana passada na “The Bass Queen” onde foram geniais, flutuando do house ao techno numa linha bem minimalista. Elas tocam depois do nosso convidado neste dia 15, dia em que também comemoro meu aniversário e onde farei o warm up dessa bela noite no club Fosfobox -um dos melhores picos que temos no RJ. Mais a frente, estaremos trabalhando para mais uma 4Finest Ears, para celebrar o 4º ano da festa, sempre com a intenção de, mais uma vez, surpreender a galera.

7 – Para encerrar uma pergunta pessoal. O que a música eletrônica representa em sua vida?

A música representa as coisas que mais amo e acredito, antes era só o surf que salvava porque, infelizmente, não puxei a destreza que meus familiares possuem com os instrumentos. O estúdio e a gravação acabaram sempre me chamando mais a atenção. Com a música eletrônica pude acreditar mais em mim e criar algo que viesse do meu próprio desejo de viver, ou seja, é meu trabalho, meu lazer, minha companhia e a fonte de conexão com uma galera muito irada que compartilha dos mesmos sentimentos simples que fazem isso tudo valer a pena. Foi através dela que unimos pessoas nesses tempos de discórdia e também que conheci figuras que me mostraram que não estamos sós. Aprendi que o amor se apresenta em diferentes formas e as vibrações nunca mentem, com o tempo o tom certo aparece.

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