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A música conecta

A The Lab aposta em uma relação direta com o público

Por Alan Medeiros em Troally 05.08.2016

“Deixe um pouco de si. Leve um pouco de nós.” A descrição disponível na página da The Lab no Facebook diz muito a respeito do trabalho do núcleo, que vem desempenhando um trabalho original, autêntico e de muita importância para o estado do Paraná. A marca que nasceu no ano passado, possui desde o início uma curadoria artística muito bem definida e diferenciais que vão desde um contato próximo e intenso com o público, até a performance tradicional de long sets pelos headliners do evento. Amanhã eles recebem L_cio, Zopelar e Davis, para mais de 12 horas de música. Antes disso, conversamos com Netaum Santos, um dos idealizadores do projeto. Confira o resultado da entrevista a seguir. Música de verdade, por gente que faz a diferença!

1 – Olá, Netaum! Obrigado por falar conosco. A estreia de vocês foi há pouco mais de um ano e na ocasião vocês trouxeram o Danee, artista de carreira consagrada e muito respeitado aqui em Santa Catarina. Como foi o feedback desse evento e o que levou vocês a implementarem logo na primeira festa uma curadoria musical bastante avançada?

Olá Alan, eu quem agradeço a oportunidade. Tudo aconteceu de maneira natural. Nós estávamos na praia brava de férias e com ingressos na mão para o long set do Hernan Cattaneo no Warung. No dia da festa, eu lembro que mostrei a alguns amigos, que também iriam comigo, um set do Daniel e comentei: “Olha que legal o som do cara, vamos conferir?”. Chegando ao inside, faltando uma hora para o Hernan entrar, não conseguíamos sair. Ficamos surpresos com a qualidade sonora do Daniel e dali não arredamos o pé. Warm up incrível, muito coerente e respeitoso, deixou o Hernan na cara do gol.

Na época, no momento de concepção da festa, o que mais nos motivou a fazer o projeto foi o fato de praticamente não ter iniciativas sérias, independentes ou não, voltadas ao House, Techno e suas vertentes. Somado a isso, pertencemos a um grupo de amigos apaixonados por música que se encontrava obrigado a viajar para poder escutar algo de qualidade. Ter um DJ relativamente desconhecido em nossa região como headliner, foi por mérito do próprio Daniel em nos presentear com seu trabalho quando o ouvimos. E também, pela vontade construir um projeto que não se prostitua, sendo fiel ao nosso princípio de deixar a música ser mais importante que qualquer nome ou o retorno financeiro.

2 – A The Lab é uma festa itinerante, que organiza eventos em lugares diferentes de edição para edição. Quais são as principais vantagens e desvantagens de se trabalhar nesse formato?

Olhando daqui, a vantagem é saber que temos um público fiel, que nos acompanha sempre, independente do local. Um exemplo disso foi nossa quarta edição, realizada no Paraguai. Além de termos sido muito bem recebidos pelos anfitriões paraguaios, nosso público brasileiro compareceu em grande massa, resultando em casa cheia. A desvantagem sempre foi a incerteza no sentido operacional, às vezes tal local não estava disponível, às vezes seria emperrado pela liberação do Corpo de Bombeiros pela falta de adequação, etc.

3 – Na sua visão, como está a cena na região de Foz do Iguaçu? Qual o caminho a ser percorrido para que cada vez mais pessoas se interessem pela música eletrônica na região?

Vem evoluindo positivamente. Surgiram mais projetos bem legais, não só daqui, como da região, que também fazem um bom trabalho. Da parte de quem realiza, acreditamos que o comprometimento com o público, através da curadoria deva vir em primeiro lugar. Desde a escolha artística, até a montagem dos horários. Muitas vezes vemos line sendo montado levando em consideração apenas as perguntas: “O quanto de gente esse cara pode trazer?” ou “O quanto vamos ganhar?”. Nós sempre buscamos perguntar: “O quanto esse cara pode nos ensinar?”. Quem promove deve ter em mente esse papel educativo e formador de opinião que tem em mãos. Da parte do público, acho que a falta de interesse em pesquisar sobre música e entender de fato aquilo que consome.

4 – Uma das marcas registradas dos eventos de vocês é o fato dos headliners executarem long sets. Quão importante isso é para a crew e público da The Lab?

É parte vital do nosso projeto. O long set é a ferramenta que proporciona a conexão verdadeira do público com o artista. É através dele que podemos, de fato, conhecê-lo. Com tempo suficiente para a apresentação ter início, meio e fim.

5 – Nós estamos observando uma série de eventos a marcas independentes desempenhando um bom trabalho em várias regiões do Brasil. A nível nacional, há alguma grande referência para o trabalho de vocês?

A nível nacional são vários projetos bacanas: ODD, Capslock, Subdivisions, etc. Mas de modo geral, todos os projetos independentes nos inspiram, ainda mais os corajosos, que são comprometidos com o público e essa missão que nos cabe. Não depende apenas de nós a evolução, mas se não for oferecido ao público a opção de tirá-lo da zona de conforto e ofertar algo novo, a cena não evoluirá, a pista não ficará mais inteligente, os DJs não buscarão evoluir, e como consequência toda a cadeia envolvida é prejudicada.

Troally entrevista Márcio Vermelho, ODD.

6 – Em Abril desse ano a cena passou por um episódio muito triste durante a Time Warp na Argentina, envolvendo excessos e despreparos em relação ao consumo de drogas. Qual é a filosofia de vocês em relação a isso e a projetos envolvendo redução de danos?

Nós somos a favor da descriminalização e regulamentação. Mas não é só isso. É necessário promover a conscientização dos seus efeitos e danos e deixando a cargo do indivíduo decidir o seu uso. Acreditamos que a proibição não protege, mas sim prejudica, fazendo com que os mesmo tenham acesso a substâncias de qualidade duvidosa que podem acarretar em resultados semelhantes aos do episódio em Buenos Aires. Caso a descriminalização venha a ocorrer, cremos que seria interessante contar com mini laboratórios na portaria dos eventos fornecendo testes rápidos das substâncias a serem consumidas.

7 – Falando um pouco sobre o próximo evento, teremos um long set no formato live entre Zopelar e L_cio e 7 horas de DJ set com o Davis. Qual a expectativa de vocês em relação aos artistas e por que eles foram escolhidos?

Com certeza a escolha foi motivada pelo que ouvimos deles próprios e também do que sabemos que eles podem oferecer.
Davis tocou no laboratório em março, foram 5 horas intensas que passaram voando. Particularmente, um dos melhores sets que já presenciei. Disso veio a nossa ideia de prolongar ainda mais a apresentação, se com 5 foi bom, imagina com 7?

Além disso, é normal festas rechearem o line com vários DJs, objetivando tornar o evento mais atrativo. Porém, em nossa visão, um DJ set com 1 hora de duração, não dá tempo de, verdadeiramente, conhecer o artista. Esse pensamento nos fez querer mostrar ao público que uma festa com 14 horas de duração e com apenas 3 apresentações no line pode oferecer uma experiência mais imersiva e consequentemente, mais marcante.

Enquanto ao b2b, tivemos a oportunidade de presenciá-lo no Warung Day Festival. E quem foi tem na memória a incrível apresentação dos dois juntos. Sem contar que artistas que tocam no formato live têm menos espaço por aqui. Outro fator que contou na decisão foi o fato do line ser reflexo do que somos. Davis, Laércio e o Pedro, são amigos, já produziram entre si e são inspiração uns aos outros. Isso nos identifica. Nossa pista é formada por amigos que sempre nos apoiaram e fizeram a The Lab ser o que é hoje. Bom, para finalizar, gostaria de agradecer o espaço fornecido pelo Alataj e convidar todos a conhecerem nosso projeto de perto. Valeu!

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