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A música conecta

Um verdadeiro artista, esse é Zopelar

Por Alan Medeiros em Troally 03.09.2015

Pedro Zopelar é o tipo de pessoa que se tentasse desviar a sua história da trajetória da música, certamente não conseguiria. Ele possui formação erudita em piano e teoria musical e logo cedo aprendeu a tocar vários instrumentos. Desde 2010 participa de forma ativa da cena de São Paulo e de lá pra cá emplacou uma residência na noite Freak Chic e posteriormente na Mothersip, ambas do D-EDGE.

Atualmente concilia sua carreira solo com os projetos Gaturamo, The Drone Lovers, Teto Preto e Sphynx, onde trabalha com artistas de alta qualidade, entre eles L_cio e Davis. Em 2014, Zopelar participou do Red Bull Music Academy em Tóqui ao lado de nomes como Mathew Jonson, Carl Craig e Robert Hood.

Hoje é um dia especial para a Troally e para Zopelar. Nós estamos felizes por receber esse grande artista – confirmado no Sónar São Paulo – e Pedro completa mais uma primavera. Ele respondeu algumas perguntas para nossa crew e preparou um set bem especial, que merece ser ouvido com bastante atenção. Música de verdade, por gente que faz a diferença.

1 – Olá Pedro, é um prazer fazer essa entrevista. Você é Bacharel em música pelo CBM, uma formação musical muito importante. De que forma aprendizados do curso te ajudam até hoje em seu trabalho?

Qualquer formação, em qualquer área pode se tornar algo benéfico para um artista. No meu caso sempre quis ser músico, antes de pensar em ser DJ ou de conhecer house/techno essa já era a minha vontade, viver de música. Vários produtores como eu, que fazem live e tocam suas músicas em clubs, festivais e vivem disso, as vezes nem mesmo sabem as notas musicais, mas produzem músicas incríveis, eficazes e usam suas outras formações para aumentar o alcance do seu trabalho e chegar mais longe com sua música, sejam elas acadêmicas ou não. Para mim acredito que ajuda na hora executar as idéias, como se fossem várias ferramentas que ajudam e agilizam o processo de composição assim como a sua afinidade com o software ou setup usado para compor. Enfim, é um fator que ajuda sim como diversos outros, porém não é nada decisivo pra se produzir um trabalho autoral e ser bem sucedido na carreira.

2 – Qual foi seu primeiro contato com um sintetizador e quando você decidiu que a sua carreira rumaria para a música eletrônica?

Foi quando o Davis me levou no estúdio do Click Box, faz uns 6 anos isso. Eles estavam com grande parte da coleção de synths do tecladista do Jota Quest em estúdio, fora os deles… tinham todos lá…. Juno 60, Juno 106, KORG MS20, Poly 800, um Oberheim polifônico muito bizarro que eu lembro do Marcão afinando ele oscilador por oscilador… Foi muito marcante. Antes disso o que me chamava mais atenção era a sonoridade nu disco/indie-dance que tava rolando na época. Depois disso e até aqui tive oportunidade de usar muitos synths diferentes. Desde sintetizadores hand-made como os JOLYMODS do Joly até os mais baratinhos que vendem no iPad. Eu curto todos os instrumentos, virtuais, analógicos, digitais… não tenho preconceito com as ferramentas contanto que faça o processo de criação interessante e inspirador, qualquer instrumento pode ser bem vindo.

3 – Você é residente da noite Freak Chic do D-EDGE. De que maneira essa residência contribuiu para o seu amadurecimento musical?

Eu fui residente da Freak Chic, hoje sou residente da MOTHERSHIP aos sábados, onde me apresento mensalmente em três formatos: Live solo, Gaturamo aka. L_cio e Zopelar e DJset. As duas residências foram muito importantes, o D-Edge sempre foi um laboratório incrível pro artista. A minha residência na MOTHERSHIP marca um período mais maduro da minha carreira, onde venho apresentando na maioria das vezes trabalhos 100% autorais (lives). Não só no D-Edge como também nas minhas outras residências nas festas ODD, Carlos Capslock e Mamba Negra (com o projeto TETO PRETO) que acontecem em diversos lugares em SP e fora do estado também.

4 – Além de sua carreira solo você participa de outros projetos. Fale um pouco mais sobre eles e os principais desafios de manter uma identidade para cada um sem que tudo soe parecido.

Sim, faço o THE DRONE LOVERS aka Érica, Davis e Zopelar, que faz parte do casting do selo Ganzá, da Skol Music e terá o primeiro álbum na praça ainda esse ano. O TDL segue uma linha mais pop com os vocais e composições da nossa front woman “Érica Alves”. O GATURAMO aka. L_cio e Zopelar, que segue uma proposta instrumental, com influências de lives freestyle como JUJU & JORDASH e MAGIC MOUNTAIN HIGH. Com o Gaturamo já fizemos o Boiler Room, tocamos depois do Giorgio Moroder e vamos lançar esse ano nosso EP gravado em Janeiro com o produtor e pianista virtuoso Francesco Tristano. Tem também o TETO PRETO (aka. Carneosso, L_cio, Bica e Zopelar) que talvez tenha sido a primeira banda de SP originada por uma festa, a MAMBA NEGRA. O TETO é uma jam session que mistura a pegada free style do GATURAMO com trombones, cuícas, percussões, um clima mais lento e denso com vocais em português e referências que vão de clássicos da canção brasileira, versões e até composições autorais da vocalista Laura Diaz (aka. Carneosso). Soar parecido é o menor dos problemas, em vista que cada projeto tem uma formação diferente, naturalmente a sonoridade vai mudar. O desafio maior é conciliar a agenda e a dedicação igual para todos, isso sim é complicado….

5 – Em 2014, você foi escolhido como um dos três representantes do Brasil a integrar o seleto time de alunos do Red Bull Music Academy, em Tóquio. Como foi essa experiência?

Foi incrível. Foi de longe o evento mais organizado que participei. Passar 15 dias com Mathew Jonson, Carl Craig, Branko, todos os outros incríveis participantes de todas as partes do mundo… foi incrível e muito decisivo pra minha carreira. Todas as palestras, baladas e eventos são muito especiais e o fato de ter sido em Tóquio tornou tudo ainda muito mais interessante. Fiquei fascinado pelo o Japão e uma das grandes motivações para voltar pro Brasil e focar mais em minha carreira foi poder ter a oportunidade de voltar ao Japão para uma tour, sonho que espero realizar em breve!

6 – Suas produções já atingiram selos importantes como Soul Clap Records, D-EDGE Records e Get Physical. Há algum trabalho que você considera um ponto de virada na sua carreira?

Acho que participar do RBMA foi um ponto importante, não pela visibilidade ou pelo apoio da marca mas pelo significado de ter sido reconhecido e selecionado em um processo seletivo super concorrido. Isso me deu um outro ar pra poder me dedicar e pensar com mais clareza nos próximos passos da minha carreira. O desenvolvimento do meu live solo também foi muito importante. Mas o mais legal ainda está por vir que são os nossos selos. O MEMNTGN, é o selo da Carlos Capslock, festa criada pelo Paulo Tessuto. Ele vai lançar produções minhas, do Tessuto e do L_cio. Teremos também a série QDUT que são produções feitas por nós três em parceria com outros artistas. O segundo selo é o “IN THEIR FEELINGS”, onde divido a curadoria com meu sócio Davis Genuíno. O primeiro EP do selo será assinado por mim e vão ter quatro tracks originais, duas delas estão no live podcast gravado especialmente para a Troally, e a faixa título do EP, Hamato, já está ta rolando nos sets dos INNERVISIONS DIxon e Ame. Finalmente acho que licenciar, registrar e cuidar dos lançamentos e dos fonogramas mais de perto vai ser uma virada pra nós e espero que essa estrutura possa beneficiar pra frente mais e mais artistas e contribuir de forma significativa pra cena nacional.

7 – Para encerrar, vamos falar um pouco sobre seus gostos pessoais. Atualmente quais são os artistas mais frequentes em seu radar? Quais sãos os trabalhos que você mais admira atualmente?

Gosto muito dos artistas nacionais. Dos lives eu adoro o Domina do rio, L_cio, Seixlack, Érica Alves, Tigre Dente de Sabre, Thiago Salvioni, Benjamin Salum, Stekke. Curto também Juju & Jordash, Ame, Kink, Octave one, Lorenzo Seni, David August, Aphex Twin…. muita coisa, sempre tenho dificuldade em citar referências pra mim. Tudo que que ouvi na vida continua me influenciando então acho que ainda tem muita bagagem de Hermeto Pascoal, rock progressivo e música clássica também que estudei no passado.

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