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A música conecta

Vitrola | A mistura inteligente e explosiva de bossa nova e jazz na música de Arthur Verocai. Confira entrevista exclusiva!

Por Alan Medeiros em Vitrola 30.05.2017

Essa matéria poderia começar de diferentes manerias, mas nenhuma seria tão eficiente como a frase: Arthur Verocai é um dos nomes mais talentosos da nossa rica história musical. Sim, ele é. O carioca de 71 anos é dono de uma mistura explosiva de bossa nova, jazz e música experimental, possui uma carreira ativa desde meados dos anos 60 e ainda hoje arranca aplausos calorosos de plateias do Brasil e do exterior.

Pianista, violonista, compositor, arranjador e maestro. Arthur é um homem que deixou sua vida ser guiada pela música. Com tamanho talento e inspiração, isso não poderia dar em outro resultado que não uma carreira construída através de muitas conquistas, diversos trabalhos de sucesso lançados por selos nacionais e internacionais, e colaborações com alguns dos principais nomes da música brasileira. Jorge Ben Jor, Elizeth Cardoso, Gal Costa e Eramos Carlos, apenas para citar alguns. Seu primeiro disco de estúdio foi lançado em 1972, levou seu próprio nome e foi um marco em sua caminhada. Com o trabalho, Verocai conquistou não só adeptos do jazz e da bossa nova, mas também DJs de hip hop e house, que passaram a adotar suas músicas em seus sets, fazendo que seu som fosse difundido para uma nova geração que logo se interessou em saber quem era o homem por trás de um trabalho tão completo. Seus últimos álbuns foram Encore, lançado pela Far Out Recordings e No Voo do Urubu, pelo selo Sesc. Uma seleção de faixas originais que demonstram bem o incrível potencial de Arthur para experimentação.

Às vésperas do RBMA Festival em São Paulo, conseguimos coordernar um bate-papo com Arthur Verocai. O resultado disso você confere a seguir em mais uma importante entrevista da nossa coluna Vitrola, focada em sons oriundos do Brasil:

1 – Olá, Arthur! Tudo bem? É uma grande honra pra gente poder falar com você. Na década de 60, você participou de inúmeros de festivais de música como compositor. Quais são as melhores lembranças que você guarda desse período?

Olha, uma das maiores alegrias desse tempo foi quando eu estava na faculdade e Elis Regina defendeu uma música minha chamada “Um Novo Rumo”, em 1968, no I Festival Universitário de Música Brasileira. Eu, garoto e empolgado, achei que a música ia ganhar o festival, mas lembro bem de Elis me dizendo: ”Olha, Arthur, música bonita não ganha festival”. Dito e feito. Ficamos em 4º lugar, mas esse momento foi inesquecível.

2 – A colaboração é uma das coisas mais bacanas que a música proporciona e você possui algumas bem especiais ao longo da carreira. Como foi trabalhar junto de nomes como Marcos Valle, Jorge Ben, Gal Costa e Erasmo Carlos?

Graças a Deus, quando eu comecei a fazer arranjos desde cedo fiz para nomes grandes como Jorge Bem, Ivan Lins e Gal Costa. Pra mim foi bem legal, porque eu estava no começo da carreira e era bem jovem. Também fiquei amigo de alguns desses nomes, como Ivan Lins, Paulinho Tapajós, Lucinha Lins e outros.

3 – O jazz com um toque bem brasileiro é uma de suas marcas registradas. Se possível, cite pra gente algumas de suas referências dentro do estilo e fale sobre a importância que ele teve na construção da sua identidade musical.

Eu comecei com a bossa nova, que é irmã do jazz. A partir dela, passei a me interessar pelo jazz e os dois estilos são harmonicamente bem parecidos. O jazz é um tipo de música muito completa em termos de harmonia, é um ritmo muito fácil de inovar e eu adoro essa versatilidade. Na realidade, eu não sei direito quem me influenciou mais, acho que tive influência não apenas do jazz, mas de muitas coisas. Posso fazer uma lista imensa de nomes do estilo dos quais eu gosto muito, como Wes Montgomery, Miles Davis, Charles Christian, Geoge Besson e outros. A lista é extensa.

4 – Além do campo musical, você trabalhou com a TV e publicidade, certo? Você se sentia confortável atuando nessas duas áreas?

Publicidade é venda e não exatamente música. No trabalho com publicidade, não era a essência da música que estava em jogo, mas a venda do produto. Era um trabalho, uma forma de ganhar dinheiro na época.

5 – Mesmo muitos anos depois do lançamento de seus trabalhos, é comum encontrar DJs de música eletrônica trazendo de volta tais preciosidades de forma moderna e contemporânea. Como você enxerga isso?

Eu adoro. É uma prova de que a gente fazia a coisa com qualidade e sentimento, nós dávamos o sangue e por isso que é reconhecido até hoje.

6 – De que forma o lançamento do disco Encore, por um selo inglês, contribuiu para fixação do seu nome no exterior?

Quando o Encore foi lançado, meu nome no exterior já estava crescendo, pois meu disco foi lançado nos EUA em 2003. O encore saiu em 2007. O primeiro disco foi mais conhecido e muito sampleado, pois saiu em vinil. O Encore chegou nesse formato somente este ano, ou seja 10 anos depois. O Encore não foi um divisor de águas, ele foi uma produção que me ajudou a ficar conhecido. O gravei por causa do primeiro disco.

 

7 – Discos, tours, novidades. O que você pode adiantar pra gente a respeito do segundo semestre de 2017?

Eu ainda não tenho muita coisa programada. Estou trabalhando com o lançamento do No Voo do Urubu ao redor do Brasil e vou continuar nessa toada.

8 – Com a música pop brasileira tão pobre, qual saída você enxerga para aqueles jovens que buscam algo realmente diferente para ter como referência?

A música atual ficou muito simplista, muito igual. Se o cara faz um sucesso num determinado estilo, todos vão atrás dele, fazendo a mesma coisa, o que limita a criatividade, que é deixada de lado. Isso também ocorre devido aos fins comerciais, que são sempre o objetivo. O país consume uma música que não é rica culturalmente, muitas vezes até pelo nível cultural. O capitalismo e o sistema corroboram isso, pois valorizam a música fácil, sem arranjos complexos, envolvida sempre em romantismo. O efeito e o reconhecimento são muito rápidos, então o que for mais simples tem maiores chances de dar certo. Para mim, o conselho é simples: cada um tem que fazer o que gosta e correr atrás dos seus sonhos – você pode escolher o caminho mais fácil, apostando em sons mais fáceis, que o sucesso não demorará a chegar. Se apostar em algo mais trabalhado, será preciso ter mais paciência, com certeza.

9 – Quais são suas expectativas para o Red Bull Music Academy Festival em São Paulo? Quão importante é para a cidade e o país ter eventos desse porte e curadoria?

Estou bastante ansioso, pois vou fazer um show de tarde e numa praça, em São Paulo. É um desafio. Não sou um artista com milhares de fãs que possa encher uma praça nessas condições, então estou apreensivo. Mas vou fazer o que sei e espero que quem esteja lá goste do que irei apresentar. Já toquei em uma igreja em Olinda, acho que é a experiência mais próxima com a que vou viver no RBMA Festival.

1o – Para finalizar, uma pergunta especial. O que a música representa em sua vida?

A música está em mim o dia inteiro, o tempo todo. É a minha vida. Estou sempre com um passarinho cantando na minha cabeça, procuro registrar tudo que ele fala pra mim, mas às vezes é bem difícil lembrar de tudo. A música é uma doença louca: não há como se desvencilhar dela.

A música conecta as pessoas! 

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