É estranho pensar que em 1972, apenas 4 anos após Arthur Verocai largar a engenharia cívil para se dedicar plenamente a música, foi produzido um dos álbuns mais ricos da cultura musical brasileira. Arthur Verocai, álbum que leva seu próprio nome, só conquistou a confiança para ser concebido da forma que foi graças ao trabalho de Verocai como arranjador e instrumentista para nomes como Jorge Ben, Ivan Lins, Gal Costa, Célia e Marcos Valle. Tal bagagem possibilitou que Verocai conquistasse a confiança do presidente da Continental (gravadora) e colocasse como condição inicial 100% de liberdade criativa para produção de seu disco.
Arthur então escolheu todos os músicos da gravação: o time de artistas possuía uma sessão de cordas completa, composta por 12 violinos, 4 violas e 4 violoncelos, somados a dois percussionistas. Com tal composição, Verocai podia misturar traços da música contemporânea com características únicas obtidas através do som dos 20 instrumentos de cordas. Ele comenta: “A ideia de misturar cordas com música contemporânea veio do meu desejo de percorrer novos caminhos. Eu acredito que o álbum é muito rico, tanto na quantidade, como na qualidade dos músicos.”
Guiado por referências provenientes principalmente do jazz, com uma pitada de funk e fouk, Verocai construiu um enredo de faixas sólido, variando estilos mas permanecendo fiel ao ponto do partida do disco. O álbum possui vários solos de artistas, alguns deles com pitadas de música genuinamente brasileira, como nos casos de Pela Sombras e Karina. O funk americano também é digno de registro, já que aparece em destaque em uma das principais composições, Presente Grego, faixa que recebeu tal nome por conta de uma brincadeira por conta da ditadura militar, uma realidade da época.
O sucesso do disco permitiu que Verocai levasse seu interesse pela música experimental ainda mais longe. O brasileiro então passou a trabalhar na composição de trilhas sonoras elaboradas, como é o caso do cinema. Apesar do álbum não ter obtido grande apelo frente a público e crítica na época em que foi lançado, ele abriu as portas para Arthur trabalhar ainda mais com a publicidade. Desde então, o arranjador e multi-instrumentista se tornou um profissional de sucesso no setor, com diversos prêmios conquistados e trabalhos para super marcas como Brahma, Petrobrás e Souza Cruz.
Após o disco de 78, Verocai voltou a trabalhar em um trabalho solo novamente somente em 2002 – posteriormente em 2008. Durante anos seu trabalho permaneceu praticamente esquecido, até que DJs e artistas do hip hop e música eletrônica nacionais e internacionais o descobriram. Então, houve um processo de grande valorização de seu trabalho e o nome do genial compositor brasileiro voltou a ficar quente. Uma das recompensas desse momento foi a gravação de um DVD ao vivo em Los Angeles, com uma banda formada por mais de 30 músicos brasileiros. Um verdadeiro presente para uma das mais brilhantes cabeças da música verde e amarelo.
++ Relembre nossa entrevista com Arthur Verocai
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Vitrola | Coluna de brasilidades do Alataj
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