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A música conecta

Vitrola | Review: Walter Franco – Revolver

Por Laura Marcon em Vitrola 02.04.2020

Walter Franco não era um artista muito popular. Aliás, é muito possível que boa parte da nova geração não reconheça este nome ou suas obras. Porém, o mais maldito dos malditos da MPB, como era considerado, foi uma das figuras mais inquietas, vanguardistas e talvez uma das mentes mais contemporâneas dos anos 70. 

O cantor e compositor deu suas caras no cenário brasileiro em 1972 em um dos famosos festivais de composição e interpretação que na época eram determinantes na carreira de qualquer um que sonhasse com o sucesso através da música, o Festival Internacional da Canção (FIC). Walter Franco apresentou uma de suas composições mais emblemáticas chamada Ou Não, que de tão diferente foi rechaçada pelo público que acompanhava o festival. O acontecimento, contudo, abriu as portas para ele lançar seu primeiro álbum, em 1973, que levava o mesmo nome da faixa tão comentada e foi considerado um dos trabalhos mais experimentais da música naquele ano.

Dois anos depois Walter Franco já estava com outro projeto pronto e em 1975 nascia sua maior obra-prima: o álbum Revolver. Diferente da levada experimental do primeiro trabalho, Revolver é composto de 14 faixas que são mais aproximadas das canções da época, com uma tendência instrumental mais roqueira, mas obviamente não deixou de lado sua personalidade vanguardista e, para falar a verdade, muito à frente daquele tempo. 

A capa traz o artista em diagonal, todo de branco, perambulando pela noite, enquanto na contracapa, a palavra “sim”, em braile. O disco reproduz as mais diversas frentes da música, com canções fortes como Feito Gente, até as levadas mais delicadas como Cachorro Babucho. Destaque para duas delas onde o artista decidiu deixar sua mensagem de maneira bem curta. Pensamento possui 36 segundos de execução, enquanto Apesar de Tudo é Leve possui apenas 8, onde o cantor declama a frase certeza de tudo, muito leve com dois pequenos acordes de violão ao fundo e nada mais.

O álbum também reverberou no cenário da música com faixas que se tornaram verdadeiros sucessos da MPB à época como a Eternamente, com sua curta e criativa letra que diz “Eternamente / É ter na mente / Éter na mente / Eterna mente” e a já comentada Feito Gente que ganhou outras interpretações de diversos artistas ao longo dos anos. Há quem considere esta obra até hoje um trabalho extremamente moderno, já que não se prende a nenhum estilo sonoro ou arranjo. 

Muitos trabalhos lançados após o álbum e uma carreira realmente peculiar aos artistas que hoje são consagrados na MPB, Walter Franco faleceu em 24 de outubro de 2019, aos 74 anos, por consequências de um AVC. Contudo, ele deixou seu legado através de obras completamente foras do óbvio e engenhosas, que ainda reverberam em nichos mais alternativos do mercado. 

A música conecta.

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