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A música conecta

Vitrola | Tata Ogan é uma artista que sempre tem algo interessante e surpreendente para mostrar

Por Alan Medeiros em Vitrola 26.05.2017

Tatá Ogan é uma mulher conectada com a música. DJ, percussionista e produtora musical, ela atua de forma ativa na cena há quase 20 anos. Ao longo dessa caminhada, se aprofundou em estilos densos e ricos como música africana, latina, nordestina, MPB e claro, dance music. Seu som híbrido é um dos pontos fortes de sua identidade, que também merece destaque pela forma aconchegante que convida os ouvintes para a pista.

Tatá é uma das atrações do RBMA Festival que acontece pela primeira vez em São Paulo no próximo mês. Além disso, já possui um mix agendado em nosso Vitrola Radioshow. Antes, a encontramos para um bate-papo sobre influências, origens, Rio de Janeiro, RBMA e muito mais. Confira a seguir:

1 – Olá, Tata! Prazer falar com você. Seu som é uma mistura de texturas provenientes de diferentes influências, certo? Como você buscas organizar isso para que tudo faça sentido durante a discotecagem?

Olá ! Meu som é um misto de pesquisa e paixão, aonde tento interligar todas essas linguagens e sentimentos . A organização vem no ato da troca numa pista de dança. Algumas sequências já clássicas dos meus sets aonde achei o encaixe perfeito dessas linguagens surgiram naturalmente durante minhas apresentações.

2 – Sabemos que você é uma pesquisadora da música nordestina e por isso queremos saber: na sua visão, a cultura musical dessa região ainda é subestimada pelo restante do país?

Pesquiso não só a nordestina como a nortista e todas as formas tradicionais de sonoridade que temos no brasil e no mundo. Não acho que a a música nordestina é subestimada, é uma das mais ricas do brasil em termos de gêneros e expressões artísticas.

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3 – Fale um pouco sobre suas origens e o caminho que você percorreu até se tornar essa DJ tão interessante e multifacetada

Bom, a música me encantou quando ouvi e vi um menino tocando berimbau , comprei o meu berimbau com 6 anos de idade [risos]. Daí pra frente estudei violão com 15 anos, depois contra baixo acústico com 18 e aos 20 me apaixonei pela percussão brasileira. Foi aí que comecei a fazer música eletrônica no fruityloops. Aos 22 anos eu adorava ouvir duas músicas ao mesmo tempo [risos]. Ali comecei a entender a arte de um DJ e fiz algumas festas em Niterói aonde tocava a noite inteira e diversos estilos musicais se uniam na pista. Tive bons mestres que colei ali do lado para sacar o que ele fazia na hora do vamo vê [risos]. DJ Castro, Marcelinho da Lua, Yanay e Marky foram grandes influências. Eu amo dnb e nunca deixei de colocar alguns clássicos em meus sets. No início eu misturava tudo com dnb [risos]

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4 – Como o Rio de Janeiro, sua cidade natal, forneceu a você uma visão mais ampla enquanto artista e pesquisadora musical?

O Rio me mostrou e me uniu a pessoas muito importantes para a minha formação musical. Minha cidade natal , Niterói, me fez ter encontros maravilhoso com músicos que admiro como, Paulinho Guitarra, aonde gravei e lancei um compacto Lo-fi com ele nas guitarras, e Gerson King combo nos vocais. Tive o prazer também de realizar uma Vitrolinha em homenagem ao grande Chico Batera, um dos músicos que mais gravaram percussão e bateria com artistas como Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, Ney Matogrosso. Abri shows maravilhosos no palco do Circo Voador, como Nação Zumbi, Otto, Cátia de França, Céu, Elza Soares e Tom Zé.

5 – Após tantos anos discotecando dentro e fora do país, quais foram os principais ensinamentos que a cultura DJing te proporcionou?

Vish, estou sempre aprendendo. A cada set que vejo aprendo, cada DJ tem seu estilo de mixar e de comandar uma pista. Fico muito feliz quando escuto uma musica maravilhosa que nunca ouvi. Acho que o ensinamento é seja ousado e não obvio [risos]

6 – Fale um pouco sobre seu trabalho com a Vitrolinha e como ela ajudou a difundir a cultura do vinil em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba

A Vitrolinha sempre foi um evento de guerrilha, toda quarta-feira por 2 anos, a partir de 2006, eu levava um engradado com LPs para o espaço cultural São Dom Dom e aquilo gerava uma inquietação nas pessoas que achavam que eu era louca de discotecar daquele jeito, já que com a modernidade todos viraram DJ com um laptop e um programa de computador. Foram dois anos maravilhosos, depois dei um aparada com o projeto e em 2012 retomei ocupando a Praça da Cantareira, berço da cultura local. Foi guerrilha máxima fazer por mais 3 anos mensalmente um baile a céu aberto com vinil, unindo todos com um só objetivo. Fiz algumas edições da Vitrolinha em São Paulo, em lugares clássicos da cultura do vinil como Casa Brasilis, Boteco Prato do Dia e Sobrado.

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7 – Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser uma mulher no mundo da música? Qual conselho você deixa para as jovens DJs?

Sofro diariamente. Não é fácil ser mulher. O conselho que eu dou é acredite em você e faço por onde que tudo vai acontecer no momento certo.

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8 – Quais são suas expectativas para o Red Bull Music Academy Festival em São Paulo? Quão importante é para a cidade e o país ter eventos desse porte e curadoria?

As melhores. O line up está incrível e estou muito feliz por poder mostrar um pouco da minha pesquisa e trabalho para o público do festival. A troca musical é muito importante para nossa formação como seres humanos e musical. Que tenham mais eventos como esse no Brasil todo e que possamos nos comunicar melhor.

9 – Para finalizar, uma pergunta especial. Como você avalia o papel do DJ na construção cultural de uma sociedade? E na noite?

O DJ é um grande propagador de conhecimento e pesquisa. Música para refletir, dançar ou incomodar. Na noite somos as acupunturistas de frequência e a diretora de clima.

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