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A música conecta

Eduard e sua paixão por pianos

Por Alan Medeiros em Weekchart 30.10.2015

O fim de semana aqui no Alataj será embalado por melodias de piano. Isso por que nosso convidado, Eduard Marquardt, preparou um chat que traz 5 faixas com o instrumento musical em destaque. Eduard já participou da coluna Troally, onde respondeu perguntas para o que foi uma das nossas melhores entrevistas até hoje. Além disso, ele contribui periódicamente com textos sobre os lançamentos da Psychosomatic e recentemente escreveu sobre o último release do produtor Le Calve. Todos esse material na coluna Releases. Portanto, ter ele assinando o Weekchart na véspera de um feriado, sem dúvidas é especial para nossa crew. Confira a seleção que passa por Francis Harris, Tom Ellis e Patrice Scott. Todas as faixas detalhadas com uma riqueza singular de detalhes 🙂

Segunda-feira: Francis Harris – Pensum

Francis Harris, pra quem não sabe, é Adultnapper. ‘Leland’ (2012), o álbum que inclui esta faixa, foi originalmente concebido com uma pegada mais club, na linha das outras produções do Adultnapper, como ‘Tewa’ ou ‘Juror n. 9’. Só que durante o processo, Francis acompanhou o declínio da saúde de seu pai, e por fim, sua morte – o que, como é de se esperar, deu outro tom ao álbum. Pra mim, é o seu melhor trabalho. Há um remix de Steve Bug para ‘Pensum’, na pegada club, mas prefiro a original, definitivamente. Se enquanto ouve a track você olhar a capa do álbum, que reproduz uma paisagem em uma fotografia dobrada, pode sentir o frio, a névoa, a umidade da vegetação… e o trompete de Greg Paulus dá o toque final a esse ambiente nostálgico, de uma vida que se esvai aos poucos.

Terça-feira: Vid Vai – Perpetually

Vid Vai é um produtor e DJ esloveno. ‘Perpetually’ faz parte da coletânea ‘Across The Borders’ (2013), do selo alemão Musik Gewinnt Freunde. Talvez esta seja a composição mais introspectiva de Vid Vai. Está na mesma linha de ‘Pensum’, do Francis Harris, mas enquanto esta é um exercício de memória, de remexer as gavetas e evocar lembranças, ‘Perpetually’ é um passo adiante: desapego, assimilação, mas, ao mesmo tempo, dureza. Enquanto o piano remete a algo etéreo, que se foi, a base da track é forte, decidida. Para o final de um set, como naquele momento em que o Dj oferece um pouco de brisa e descanso à pista.

Quarta-feira: Tom Ellis – Envelope

‘Envelope’ é a faixa título de um EP lançado pelo selo 22 Digit Records, em julho de 2013. Tem um toque jazz, mas não qualquer jazz. É o jazz arejado de ‘Kind of Blue’, de Miles Davis, que abre silêncios e deixa os instrumentos à vontade para fazerem a sua parte. “Let the music take your mind” é o que pede a voz ao primeiro minuto, seguida de um piano de salão, espaçoso, ao início de uma noite, talvez, que será longa, exuberante. Consegui encaixá-la uma vez, durante um warm-up na edição “Movimento Troop”, em dezembro de 2014, para Stekke e Ney Faustini. Lembro do astral introspectivo dessa edição da Troop, com as pessoas dentro do Estúdio 566, em Cacupé, passeando entre as bancadas forradas de objetos de arte, design, os mil quadros que o Caetano pendura incansavelmente nas paredes, moda, drinks. Por aí.

Quinta-feira: Doubtingthomas ‎– Apikoros

“Doubting Thomas” é uma expressão referida ao cético Tomás, o apóstolo, que se recusa a acreditar sem a experiência pessoal e intransferível do ver e tocar. ‘Apikoros’, por sua vez, refere uma problemática semelhante, tratando daquilo ou de quem desobedece a sabedoria e lei dos rabinos. A inquietude do tema é o que faz Aurelien Riviere, nosso produtor, trabalhar em sentidos que vão muito além da música club serializada. ‘Apikoros’, do EP ‘Avec Parcimonie’, de 2014, mostra uma pegada dançante, com fortes linhas de baixo. Em um warm-up, é faixa para quando a coisa já está encaminhada, o Dj percebe que já se está além do movimento das cabeças que balançam suavemente, acompanhando o compasso, e os quadris já dão sinais de que querem mais. Entretanto, prevalece a experimentação em cordas dissonantes e no improviso jazzístico ao momento final da track.

Fim de semana: Patrice Scott ‎– Distance Against Time

‘Distance Against Time’ é uma faixa que merece o adjetivo “clássico”. Lançado em 2010, pela Sistrum Recordings, o EP de mesmo nome inclui duas outras tracks com o mesmo apelo anos 90. É a música mais tecnológica desta breve série de pianos que proponho, e um único acorde é o bastante para movimentar quase 9 minutos de um ambiente poderoso. Isso é deep house. Tive um momento especial com Fred P tocando ‘Distance Against Time’ em Curitiba, na Vibe, durante sua passagem pelo Brasil. Depois de várias tracks mais pesadas, esse clássico de Patrice Scott surgia no set de Fred com toda a sutileza e refrescância que um acorde de piano pode fornecer.

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