Um estudo recente publicado com o título Shaping the Night: Policies and Strategies Governing the Night Time Economy, analisou políticas de governança e estratégias para a economia noturna em grandes cidades e indicou que a ampliação dos serviços de transporte público durante a madrugada é uma medida recorrente — e central — para equilibrar desenvolvimento econômico e bem-estar dos residentes. À medida que centros urbanos se tornam pólos de atividade contínua, garantir mobilidade eficiente entre meia-noite e 6h da manhã é visto como condição básica para o funcionamento de setores culturais, gastronômicos e de lazer, além de assegurar acesso seguro para trabalhadores que dependem desses turnos. A pesquisa reforça que a dinâmica noturna exige instrumentos próprios de gestão, que não podem ser atendidos integralmente pelas estruturas de governança pensadas para o horário diurno.
Londres se tornou um exemplo emblemático dessa abordagem com a criação do Night Tube, em 2016. Integrado à visão política de transformar a capital em uma “Cidade 24 horas”, o serviço noturno ampliou o alcance do transporte em fins de semana e atendeu uma demanda crescente por deslocamentos seguros após o encerramento de atividades culturais. Avaliações independentes registraram impacto direto na segurança, na redução do tempo de viagem e no acesso de trabalhadores de hospitalidade, logística e eventos às suas rotinas. O Night Tube, pensado como ferramenta para aumentar diversidade e inclusão, também melhorou a percepção de qualidade de vida dos residentes que dependem do transporte público fora dos horários convencionais.
A incorporação de sistemas 24 horas em políticas urbanas reflete um entendimento mais amplo: mobilidade é o eixo que sustenta qualquer ecossistema noturno próspero. Ao lado de iniciativas como a nomeação de night mayors — responsáveis por articular setor público, comerciantes, moradores e indústria criativa — o transporte ampliado forma um conjunto estratégico para responder a desafios históricos desta economia: acessibilidade desigual, falta de rotas seguras, disputa de espaço entre atividades diurnas e noturnas e ausência de infraestrutura adequada para trabalhadores. Ao mesmo tempo, os estudos ressaltam que a ampliação do fluxo noturno traz desafios complementares, como aumento de ruído e demandas adicionais por gestão urbana nos arredores de hubs de transporte.
De forma geral, a análise publicada pela Silesian University of Technology da Polônia, conclui que cidades que tratam o transporte 24 horas como investimento estrutural — e não como extensão pontual do serviço — apresentam resultados mais consistentes na promoção de inclusão, segurança e dinamismo econômico. A consolidação dessa agenda indica que a governança da noite de uma cidade deixou de ser um tema periférico para se tornar parte essencial das políticas urbanas contemporâneas.