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A música conecta

Alataj entrevista Crackazat

Por Caio Stanccione em Entrevistas 22.01.2021

Quando Alan Medeiros e Laura Marcon me disseram que havia a possibilidade do Alataj entrevistar o britânico Crackazat, confesso que endoidei. Eu acompanho o trabalho do cara desde os seus primeiros passos pela Futureboogie Recordings e se tivesse que definir sua obra com somente uma palavra, essa palavra seria apaixonante.

Ben Jacobs é multi-instrumentista, estudioso do Jazz e um apaixonado pelo Hip Hop, que foi por onde ele começou suas experiências musicais. Sob o alias Crackazat, Ben faz de forma singular a fusão entre Jazz e House Music, e essa singularidade lhe rendeu releases em gravadoras como Z Records de Dave Lee, Freerange Records de Jimpster, Local Talk dos suecos Mad Mats e Tooli. Mais recentemente, Crackazat entrou para o roster de lançamentos da Heist Records, comandada pelo duo holandês Dam Swindle. Como se não bastasse, Crackzat conta com remixes para artistas como Tom Misch, Moullinex e Dave Lee.

Deu pra se situar, né? Então, sem mais delongas, vamos à entrevista!

Alataj: Olá, Ben! Seja bem vindo ao Alataj! First things first: como você e a música eletrônica se conheceram? Consegue se recordar de quais foram seus primeiros contatos com a música eletrônica e de como eles te levaram até a House Music? 

Crackazat: Olá! Olha, pelo que eu me lembre, meu primeiro contato com música eletrônica foi através das rádios britânicas nos anos 90. House, Trip Hop e UK Garage eram os estilos que estavam em alta na época e, consequentemente, foram os primeiros que eu ouvi. Depois de um tempo, eu descobri o mundo da música underground através do Hip Hop, do Broken Beat e do Neo Soul, foram eles que me conduziram até uma House Music diferente do que me recordava. Meu interesse na House Music e todos os outros estilos que citei vem da ligação que eles possuem com o Jazz e seu ritmo intenso. 

Basta ouvir alguma de suas faixas para notar que você entende muito sobre teoria musical. Desde quando você estuda e pratica música? Você acha que sem esse domínio sua música chegaria onde chegou? 

Eu tinha em torno de 16 anos quando descobri o Jazz, a paixão foi tanta que decidi estudar Jazz na faculdade. Eu contabilizo que a teoria musical é responsável por 50% de tudo que conquistei no meu trabalho, sem ela seria muito mais difícil chegar nas ideias que tenho para as minhas músicas.

Você é de Bristol, na Inglaterra, né? Me conta como a vida noturna da sua cidade natal contribuiu para sua personalidade musical e carreira? Você diria que aprendeu muito com a cena local de Bristol?

A cena de Bristol me ensinou muito! Ela me ensinou que a música é para todos e que todos podem fazer música. Bristol tem uma herança musical muito rica e diversa, pude tocar em bandas de Funk, fui a concertos de música clássica, aprendi a discotecar e produzir, conheci outros artistas e troquei muita informação através da cena que a minha cidade tem. Foi Bristol que me ensinou a não hesitar em fazer a música que eu acredito.

Bem no seu início, você foi o responsável por abrir uma gig do Floating Points e sua apresentação chamou a atenção de muita gente. Me conta um pouco do quanto esse dia significa para você?

Nossa, esse show foi há muito tempo! A sonoridade que Floating Points tinha no começo de sua carreira foi muito inspiradora para mim. Poder tocar com um artista que eu admirava foi um grande desejo realizado naquela época.

Qual a sua história com a Suécia? Seu trabalho passou a ser fortemente difundido através de EPs como Eye Light e Somewhere Else, lançados através da Local Talk. Você se mudou para lá por conta do relacionamento com a gravadora ou foi outro motivo que te fez mudar para lá?  

Me mudei para a Suécia há 10 anos por conta da minha esposa, que é sueca. Quando chegamos no país, eu tinha acabado de lançar meu primeiro trabalho, Tunnel EP através da Futureboogie, que é de Bristol. O pessoal de lá foi muito gente boa e me colocaram em contato com Mats e Tooli. Esse primeiro contato acabou me rendendo um contrato com a Local Talk e aqui estou, com três álbuns lançados por eles!

Indo para a parte nerd da parada. Me conta como funciona o seu processo criativo? Você costuma buscar inspiração em outros lugares, como ouvir um álbum que gosta muito, assistir algum filme e ler livros, ou você é do tipo sonhador, que acorda com uma ideia e corre para o estúdio executá-la?

Quando eu comecei, eu era do tipo que pegava um artista que gostava muito e dissecava ele, tentava reproduzir a sonoridade e ritmos que me fascinavam. Confesso que foi uma excelente forma de aprendizado, tentar chegar na sonoridade de outros artistas pode te ensinar muito. Hoje eu faço de forma contrária, deixo as minhas emoções ditarem as ideias, às vezes a ideia vem, e eu gravo de forma rudimentar pelo meu celular mesmo, só pra não correr o risco de esquecer. 

Me fala um software e um hardware que são indispensáveis para o Crackazat em estúdio? Por que eles são tão importantes?

Se tratando de software, o Ableton Live tem sido minha jóia preciosa nos últimos 15 anos. Já em Hardware, meu baixo é o meu eterno escudeiro. É por ele que me mantenho em conexão com minhas raízes. Recentemente, comprei um Roland V-Combo VR-09, um excelente teclado para performances e que tenho usado muito.

Não faz muito tempo que você lançou a série Period Works através da Z Records, de Dave Lee. Tanto a Z quanto o Dave são peças seminais da House Music. Me fala como esse relacionamento com artista e gravadora começou? 

Minha colaboração com a Z Records começou em 2015 remixando Holding On, música de outro artista importantíssimo para House Music, Sean McCabe. Na sequência, Dave Lee me perguntou se eu queria lançar um EP pela Z. Depois de pensar um pouco, tive a ideia de lançar uma música com forte referência a Disco Music, que é a raiz tanto de Dave quanto da Z. Foi assim que nasceu a série Period Works.

Recentemente você postou no seu Instagram que você e a Heist Records, da dupla Dam Swindle, estavam colaborando em um novo EP. O que podemos esperar desse trabalho?

Alfa EP saiu hoje! Eu sou fã de longa data da Heist Records, e é um grande prazer trabalhar com o duo Dam Swindle. Esse EP é um trabalho desenvolvido em cima de sonoridades mais profundas e modernas, que é a proposta da da gravadora. 

Para encerrar, uma pergunta que fazemos a todos os nossos entrevistados. O que a música significa para você?

De forma direta? Identidade.

A música conecta.

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