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A música conecta

Faixa a Faixa | Rafael Moraes – Reconnection [Yoruba Records]

Por Laura Marcon em Faixa a faixa 05.05.2021

Não faz muito tempo que Rafael Moraes deu as caras por aqui contando um pouco mais sobre seu EP One Shot, lançado pela Yoruba Records, de Osunlade. O EP era um gostinho do que viria a ser o terceiro álbum de sua carreira, spoiler que a gente deu naquele momento. Agora, é chegada a hora de apresentar a peça principal desse projeto, o álbum Reconnection.

Como grandes admiradores do trabalho de Rafael, seja através da sua atuação como DJ, produtor, digger notável e grande contribuidor para a história da House Music no Brasil, nós estávamos ansiosos para ver o resultado de mais um álbum do artista. O resultado é um conjunto de faixas de altíssimo nível, com colaborações de peso dos artistas OVEOUS, Jesse Ganon, Vitor Lopez, Raul Mascarenhas, Capitol A, L_cio, Nadirah Shakoor e Aroop Roy e a personalidade sonora de Rafael, que é capaz de unir o Deep House, Jazz, Afro e Latin Music de uma maneira deliciosa.

Rafael veio até a gente para contar um pouco mais sobre a produção desse álbum:

Rafael Moraes

Antes de falar de cada faixa, acho importante situar o contexto em que esse álbum foi criado. Esse trabalho começou anos atrás numa conversa sobre carreira e futuros lançamentos com Osunlade, DJ, produtor e nome por trás da Yoruba Records, minha família musical. Desde então comecei a selecionar músicas que representassem a sonoridade do selo e também minha maneira de olhar para o Deep House com todas influências musicais que vem junto comigo.

Earth | A ideia dessa música sempre foi trazer um sentimento de conexão com o solo onde se pisa, desde a escolha dos sons, timbres, até a mensagem da letra. Logo de cara pensei em convidar o cantor e poeta OVEOUS, que além de amigo e artista da Yoruba, leva sua técnica de falar e escrever aos quatro cantos do mundo. Depois de um papo, ele me enviou o áudio com esse conteúdo tão atual e necessário.

Fingers | Na última vez que o DJ Rainer Trüby veio ao Brasil, tive o prazer de hospedá-lo em minha casa. Foi uma semana de muita conversa, pesquisa, visitas a lojas de discos, refeições regadas a vinhos, experimentações culinárias e longas conversas. Um dia sugeri fazermos uma música e ele cantou uma linha de baixo que sempre teve na cabeça. Parti dali e criei o groove principal, que ele comentou lembrar a sonoridade de Larry Heard, daí o nome Fingers.

Um tempo depois, numa visita à minha casa, mostrei o trabalho para o DJ Leonardo Ruas que comentou sobre um possível solo de piano. Eu havia acabado de escutar o disco de um pianista chamado Jesse Gannon, lançado pela Yoruba Records e sugeri à ele fazer uma participação. O resultado foi um groove latin jazz que caiu como uma luva.

Higher | Uma das coisas que sempre tive na cabeça a respeito desse disco era utilizar instrumentos que eu gosto e muitas vezes não vejo numa pista de dança. Numa tarde me reuni com o gaitista Vitor Lopes, amigo de vida e parceiro de tantas bandas para uma experimentação. Já tinha a ideia principal na cabeça, ele chegou, bateu um papo e saiu tocando tudo num take de uns 15 minutos, impecável. Só tive que editar as partes que mais me agradaram e criar essa música um tanto original e inusitada.

Conqueror | Essa faixa foi feita inspirada em Haunted, de Quentin Harris,  uma das poucas faixas que eu realmente gosto com saxofone com esse apelo underground. Minha sorte é ser amigo de um dos grandes instrumentistas brasileiros, Raul Mascarenhas, que já acompanhou todos os pesos pesados da MPB e jazzistas do mundo todo. Numa viagem dele ao Brasil combinamos um papo, almoço, vinho e as ideias foram surgindo. Um loop que servisse de Pad, improvisos que se resolvessem num espaço curto para dar um clima hipnótico… Com tudo em mãos dei uma sonoridade mais old school, deixei os timbres bem crus para ser tocado tarde da noite.

One Shot | Essa faixa foi o single que antecipou o lançamento do álbum Reconnection, contou com remixes de Osunlade e Karizma e mais de 15 mil plays no Spotify. Foi uma tarefa fácil pois Capitol A, além de um grande amigo, foi a primeira pessoa com quem eu trabalhei quando lancei meu EP solo Modern Traditions.

Fiz questão de ter a sua participação no meu álbum pois admiro muito tudo que ele faz, mas a parte interessante dessa música é que eu a encontrei nos meus arquivos quando procurava possíveis opções pro álbum. Tinha sido esquecida após uma noite de shots de sakê num Izakaya com amigos, que me inspirou a fazer a música no final da noite. E foi mais de one shot, com certeza…

In Love Again | Foi criada após o fim de um relacionamento, uma fase que estava muito inspirado e decidi que iria fazer uma música com acordes com um clima feliz  e uma letra na mesma toada, mesmo que aquilo fosse contra tudo que estava sentindo no momento. Um tempo depois reencontrei Nadirah Shakoor, cantora que dispensa introduções, num festival na Croácia em que iríamos nos apresentar no mesmo palco. Já havia trabalhado com ela  num outro lançamento com o Nomumbah, projeto que tenho com Ale Reis e André Torquato, e um dia sentamos pra escutar as demos do que viria a vir ser o álbum. Ela escutou e disse que já estava na hora de trabalharmos juntos novamente. Quando recebi os vocais já sabia exatamente para onde ir e criei a faixa que é minha visão de Soulful House do álbum.

No Scaping | Coincidências da vida, estávamos todos na mesma cidade após o final de longos relacionamentos, Aroop Roy, l_cio e eu. Nos encontrávamos para cozinhar, beber vinhos, fazer música e conversar com certa regularidade e de algumas jams surgiu o embrião dessa faixa, que inicialmente tinha uma letra que era exatamente o oposto da letra que escutamos agora. Enviei para a Yoruba e a resposta que recebi foi “música ótima, letra horrível, muda isso”. Fazia todo sentido pois a maré já havia mudado e a letra já não dizia mais nada. Entrei em contato com Aroop, que concordou, alterou e me enviou uma versão que se encaixou perfeitamente. De uma decepção fizemos uma homenagem aos bons sentimentos afetivos.

Reconnection | Foi a primeira faixa do disco. A kalimba eu gravei com o celular de um africano que tocava na rua no Rio de Janeiro. O vocal em uma exposição sobre cultura Yoruba em Belo Horizonte. Os timbres remetem às minhas influências do Deep House. E representa a síntese de tudo que me reconecta à música, ao meu espírito e a mim mesmo.

A música conecta.

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