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A música conecta

Alataj entrevista Toman

No início de março, quando ainda não tínhamos nem ideia do que viria pela frente, o Brasil recebia pela primeira vez o DJ e produtor holandês Toman em um momento de pura efervescência em sua carreira. Ele tocou em duas festas, no At Home, em Itajaí, e no Clube Inbox, em Curitiba, com pista cheia e galera feliz em ambos os eventos. Mas, logo na sequência, essa realidade mudaria.

Essa entrevista com Toman também estava prevista para março, mas optamos por aproveitá-la em outro momento e esse momento chegou. No início de junho, falamos sobre seu debut na Eastenderz e agora, nesta sexta-feira (10), ele celebra outra conquista importante: um EP de quatro faixas produzido com Chris Stussy e assinado pela Locus, gravadora da Fuse de Londres.

Numa crescente constante, Toman é um nome que vem caindo nas graças de muita gente pelos quatro cantos do globo e tem boas histórias para compartilhar. Mais uma entrevista super bacana para você ler e conhecer esse artista que é uma grande promessa da cena de Minimal House.

Alataj: Olá Toman, tudo bem? Um prazer entrevistar você e pode saber mais sobre sua história. Vamos girar o disco um pouco… você começou na música tocando bateria, não foi? Quantos anos você tinha e quais eram suas influências musicais na época que te levaram até esse instrumento? Como foi a transição para o eletrônico e como isso aconteceu?

Toman: Olá, pessoal. Obrigado por me receber! Comecei a tocar bateria aos cinco anos de idade. Antes disso, sempre usava as panelas e frigideiras da minha mãe. Lembro que ela costumava ouvir esses velhos CDs de compilações da House Music, os chamados Turn Up The Bass. Quando consegui meu primeiro walkman alguns anos depois, era isso que ouvia. Durante o ensino médio, gostava de Hip Hop oldschool e comecei a fazer meus próprios beats. Foi assim que aprendi o básico da produção musical. Aos 17, fui para o Welcome To The Future Festival em Amsterdã. Lembro de ver Marco Carola tocar e perceber imediatamente o que eu queria. Os anos se passaram, comecei a tocar e produzir House Music. Nessa época toquei no festival pela primeira vez. Poderia dizer que encerrei o círculo completo.

Você se mudou para Amsterdã, um dos epicentros da música eletrônica. Não somente pelas festas e festivais, mas porque funciona como uma das inteligências no mundo que colocam a música em um patamar mais amplo, seja em termos tecnológicos, comportamentais ou de impacto social. Você sente que estar lá acelerou seu amadurecimento nessa jornada? Alguma experiência em especial que te trouxe essa sensação de crescimento?

Amsterdã não é tão grande e por causa disso é muito fácil de ir para qualquer lugar de bicicleta. Os festivais ficam em volta da cidade e os clubes no centro. Geralmente leva 20 minutos, às vezes 30, para você chegar no seu destino. Meu primeiro verão em Amsterdã foi um dos melhores. Eu podia ir para todas as festas e festivais, conheci todos que trabalham comigo hoje em dia. Temos uma cena legal com muitas festas e gravadoras underground. Quando viajo ao redor do mundo, muitas pessoas sabem o que fazemos com PIV e No Art. Somos todos amigos e trabalhamos juntos, isso nos torna um time forte.

Ao ler sua biografia um nome me chamou atenção: Underworld, como sendo uma de suas principais referências. Isso chama muito atenção porque, ok, eles são absurdos; é uma banda de música eletrônica e isso é muito incrível. Como você decodifica suas influências na hora de produzir? Quem mais te influencia? Algum nome novo para nos apresentar?

Na minha juventude, fizemos algumas viagens pela Europa de carro. Na maioria das vezes, Underworld ia tocar. É uma mistura perfeita de música eletrônica e banda. Suas batidas repetitivas e melodias melancólicas são definitivamente algo que você percebe nas minhas músicas. Sinceramente, nos últimos meses, tenho focado bastante na minha própria música e aprendido cada vez mais sobre produção e parte técnica. Em casa, estou ouvindo principalmente músicas relaxantes e Hip Hop. Dois caras que vocês deveriam procurar conhecer são Oden & Fatzo. Eles estão trazendo um novo som melódico, Electro e Deep House.

Podemos dizer que você faz parte de uma nova geração de artistas que tem uma preocupação estética sonora especial. Você flutua entre o House, Minimal e Techno com naturalidade, sem precisar de rótulos. Para você, o que é essencial numa construção de um set?

Não procuro por um determinado gênero quando estou pesquisando música. Gosto de coisas muito diferentes. Em uma gig, trago muitas produções novas, mas também adoro tocar as minhas faixas preferidas do momento. Tento chegar no clube cedo e captar a energia, soundsystem, pista de dança e público. Após isso, já sei com qual faixa começar. Nunca preparo mais do que isso. Separo minhas faixas nas pastas pela atmosfera, apenas para ver o que acontece e seguir o fluxo.

Você já tocou em clubs e festivais importantes e suas produções receberam suporte de grandes artistas. A faixa Fantanized ficou por meses no topo do Beatport e Don’t Hesitate é a mais vendida da NO ART… isso com certeza deve ser um elemento propulsor para continuar. Em algum momento existiu um desafio que te marcou ou te fez repensar sua trajetória?

Nos últimos meses, aprendi que se você passar muito tempo pensando no próximo passo, poderá ficar preso e perder a criatividade. Tento seguir o fluxo e não pensar muito na minha carreira. Adoro o que estou fazendo e isso é o mais importante. Eu posso viajar, compartilhar minhas músicas com o mundo e criar as melhores lembranças. É um sonho que se tornou realidade.

No começo do ano você tocou na Argentina, Uruguai e ainda fez sua estreia no Brasil. Qual é a sua percepção sobre o cenário da música eletrônica na América do Sul e em especial no nosso país? Tem algo desse cenário que você já conheça ou acompanhe? Algum artista, club, gravadora…

A América do Sul tem uma energia de muita paixão. As pessoas amam música e amam dançar, você consegue ver na cena clubber. Vocês também têm a melhor culinária e um público lindo. É definitivamente um dos meus continentes favoritos para tocar. Adorei a Seas em Balneário Camboriú, uma energia de liberdade e praia. Após isso, toquei no Clube Inbox em Curitiba. Foi perfeito, me diverti muito com a crew. A cena do House, Deep Tech e Minimal ainda é bastante nova no Brasil, mas Laguna Records está definitivamente empurrando o som para um next level. 

Toman no Morro do Careca, em Balneário Camboriú

+++ Laguna Records e sua versatilidade frente ao Minimal e artistas sul-americanos

No final de fevereiro, pela Moscow Records, você lançou um EP com músicas e títulos curiosos, como Guarulhos e Turbulência… há alguma história engraçada para compartilhar sobre isso?

Na verdade, essas faixas são inspiradas na minha primeira turnê sul-americana [risos]. Eu estava viajando de Montevidéu para Amsterdã e tinha uma escala em Guarulhos. Produzi a faixa inteira enquanto esperava no portão. Quando partimos para Amsterdã, tinha muita turbulência e quando cheguei em casa fui inspirado a nomeá-las assim por causa daquele vôo. 

Um passarinho me falou que você está trabalhando em uma nova collab com Chris Stussy… ano passado teve o EP Whatudo e o single Ardent. O que estão tramando dessa vez? Você já o conhece há algum tempo? Como surgiu essa parceria?

Dia 10 de julho nosso próximo EP será lançado pela nova gravadora da FUSE: LOCUS. Eles lançaram a gravadora para impulsionar um novo som e geração de artistas. Em todos os lugares do Brasil queriam que eu tocasse Whatudo. É realmente popular por aí. Acho que estávamos compartilhando música por um tempo, mas não tínhamos nos encontrado pessoalmente. Quando finalmente nos encontramos em um festival, conversamos muito sobre música e combinamos de nos encontrar no estúdio. Imediatamente percebemos que temos uma grande conexão no estúdio. Temos estilos diferentes quando produzimos sozinhos, mas juntos combinamos bem. Mal posso esperar para vocês conferirem o próximo EP. 

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa na sua vida?

Música é tudo ao meu redor. Posso ouvir música nos pássaros, vento, em quase todo lugar. Música pode me deixar triste e feliz. É como um melhor amigo que está sempre ali e te escuta sem julgamentos. Amo dançar e me divertir com os amigos em festas, adoro ficar preso em um ritmo e hipnotizado na pista de dança. Sem a música, acho que não gostaria tanto da vida.

A música conecta.

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