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A música conecta

Ícone da música eletrônica, Daft Punk investe em flashbacks analógicos

Por Alan Medeiros em DJ's 01.07.2013

Thomas Bangalter, metade do influente grupo francês de dance music Daft Punk, tem uma casa no alto de Hollywood Hills. Ele e seu parceiro musical, Guy-Manuel de Homem-Christo, dividem seu tempo entre Los Angeles e Paris, onde moram suas famílias. Apesar de tanto jet-setting, porém, há poucas evidências de estrelismo de roqueiros (bem, a não ser o Porsche que Homem-Christo estaciona na entrada de sua casa).

Construído com vigas de madeira, no estilo de meados do século passado, o bangalô exala um ar retrô que reflete a estética retrô-moderna que percorre todos os palcos do Daft Punk em seus 20 anos de carreira.

Desde seu primeiro sucesso de dance-floor, “Da Funk”, em 1996, até a loucura sintética do álbum de 2001 “Discovery” à trilha em 2010 do filme “Tron: o Legado”, a dupla vem desbravando terreno enquanto invoca eras anteriores de música club, como o disco.

O Daft Punk expandiu o público da dance music juntamente com outros grupos do final dos anos 1990, como os Chemical Brothers, influenciou Madonna e Kanye West e ajudou a moldar o lado visual das apresentações ao vivo de dance music. Suas famosas máscaras de robôs e formação de palco espetacular em pirâmide inspiraram as performances high-tech de astros mais jovens da dance, como Skrillex. Nos oito anos passados desde o último álbum de estúdio da dupla, “Human After All” [Humanos, afinal], a dance music tornou-se um grande negócio, enquanto sons parecidos com o do Daft Punk se infiltraram nas Top 40 do rádio.

Agora o Daft Punk inverteu o rumo com seu novo álbum, “Random Access Memories” [Memórias de acesso aleatório], gravado pela Daft Life/Columbia. Rejeitando softwares de áudio digital, o álbum é uma revisão analógica da era das apresentações ao vivo, envolvendo um time de craques de tocadores de session, as lendas da disco Nile Rodgers e Giorgio Moroder, roqueiros independentes como Julian Casablancas e o astro do hip-hop Pharrell Williams.

“De certa maneira, é como se estivéssemos correndo por uma estrada na direção contrária a todo mundo”, disse Bangalter, 38.

O resultado é um álbum impressionante, mas que parece retrógrado, usando influências como soft rock, rock progressivo e new wave. O título é uma brincadeira sobre a ideia de memória do computador versus memória humana.

A noção de restaurar um toque humano na dance music parece central no novo álbum, cuja faixa inicial se intitula “Give Life Back to Music” [Restitua a vida à música]. Mas os membros da banda, que se conheceram na escola em Paris em 1987, insistem que a nostalgia não é sua principal motivação. Tampouco há algo de “julgamento”, disse Bangalter, sobre a posição antidigital que ele e Homem-Christo, 39, adotaram para fazer o álbum.

Mas ele se referiu a tecnologias como Pro Tools e Auto-Tune como tendo “criado uma paisagem musical muito uniforme”, e se entusiasmou sobre a flexibilidade dos músicos de carne e osso que recrutaram.

“É uma infinidade de nuances, nas misturas e tendências”, disse Bangalter. “Essas coisas são impossíveis de criar com máquinas.”

As qualidades de sentimento e vibração exaltadas pelo Daft Punk estão fora do alcance da maioria dos jovens músicos, cujas faixas dance “faça-você-mesmo” contam com a tecnologia que impeliu a carreira do Daft Punk nos anos 1990. Um garoto no quarto com um laptop e software pode fazer discos que parecem ter custado US$ 1 milhão. Fazer música como “Random Access Memories” realmente exige US$ 1 milhão, ou mais.

“Os computadores não foram criados para ser instrumentos musicais, para começar”, disse Bangalter. “Em um computador, tudo é estéril – não há som, não há ar. É totalmente código.”

A intenção da dupla é revelada na aparentemente improvável colaboração com o ator-cantor-compositor Paul Williams, que ajudou a compor as canções para os Carpenters e os Muppets. Williams escreveu a letra de “Beyond” [Além] e “Touch” [Toque] e cantou em “Touch”, uma suíte-canção grandiosa que funde prog-rock e pop schlock.

Para o Daft Punk, Williams parece representar uma espécie de espírito puro do entretenimento.

“Você tem essa sensação extraordinária, esse sentimento sobrenatural de ser transportado para outro lugar”, disse Homem-Christo. “Acho que tivemos um pouquinho desse pique, eu e Thomas, nos últimos 20 anos.”

Via Folha de São Paulo

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