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A música conecta

A jovem Cashu é parte importante da cena paulistana

Por Alan Medeiros em Troally 25.02.2016

A experiência trazida no curso de Arquitetura abriu os horizontes artísticos da jovem Carolina Schuzter aka Cashu para as festas de ocupação, um dos grandes símbolos dessa nova cena paulistana. Com o coletivo Voodoohop ela adquiriu boa experiência na produção destes eventos e logo criou sua própria festa, a MAMBA NEGRA. O projeto é um dos mais autênticos de São Paulo e garante experiências artísticas que vão além da música para os seus frequentadores.

Sua identidade musical é eclética e formada por minimal techno, house e ritmos afro-brasileiros. Isso garante que suas apresentações transitem com sutileza por elementos ora mais chill, ora mais enérgicos. Cashu também é residente da Carlos Capslock – que completa 5 anos esse fim de semana – e da Voodoohop. Além de seus trabalhos na produção de festas e como artista, ela também é uma das responsáveis pela RADIO VIRUS, ao lado do produtor L_cio.

Carolina nos traz um set gravado ao vivo no Festival Contatos Sonoros em Minas Gerais. Na ocasião, ela abria o evento, que possui uma energia singular e um visual encantador. Música de verdade, por gente que faz a diferença!

As perguntas foram elaboradas por Lucas Doné.

1. No seu release, lemos que através da tua formação em arquitetura você começou a organizar festas de rua e ocupações no centro de São Paulo, através da Voodoohop. O que exatamente te fez tomar essa decisão?

No final da minha faculdade comecei a me interessar por projetos de intervenções em ruas e praças, e comecei a pesquisar esses movimentos de ocupações. Simultaneamente junto com o coletivo Muda, que contava com alunos da Escola da Cidade também, e mais outros parceiros, fizemos um projeto de ocupação das vagas de carro no dia mundial sem carros, com a construção de mobiliários urbanos seguido de festa, chamado Parking Day. Realizamos duas vezes esse projeto, a minha contribuição era muito mais focada na área de produção do evento como um todo. Após isso acabei entrando para coletivo Voodoohop, e participando ativamente nas festas ao ar livre, intervenções em espaço degradados, ocupações e também festivais. Aí percebi que era disso que eu gostava mesmo, tanto que meu projeto de finalização do curso foi em cima das intervenções que realizamos com Mamba Negra, Voodoohop e Capslock no centro de São Paulo.

2. As tuas apresentações viajam entre sons bem ambientes, passam pelo chill out e vão até o minimal techno, deixando um clima misterioso que condiz totalmente com a identidade da Mamba Negra. Como tu enxerga a importância de um DJ manter a identidade e trazer em sua linha de som traços da marca qual faz parte em suas apresentações?

Tanto o som que faço quanto a identidade da festa estão em diálogo a medida que refletem quem eu sou, as experiências que tenho e os meus interesses estéticos. Por isso ambos também estão em constante mutação, não tenho interesse em enquadra-los em um modelo apesar de algumas características se manterem.

O ambiente que estou tocando também reflete totalmente no som. No caso desse podcast que mandei para a Troally foi gravado no Festival Contatos Sonoros em Minas Gerais, a energia de lá é bem forte com um visual maravilhoso. Fiz o set de abertura do festival por isso comecinho é mais chill e termina mais pesado. É sempre muito especial para mim tocar lá.

3. A Mamba Negra é uma das principais festas independentes de São Paulo. Ela é conhecida por apresentar uma viagem de sentimentos guiada pela música, através de ocupações e intervenções artísticas como a dança, iluminação e decoração que proporcionam uma experiência diferenciada aos frequentadores. Como tem sido desenvolver esse conceito? Quais são as principais dificuldades?

O conceito foi sendo desenvolvido através de pesquisas e de tentativas, o Teto Preto é um exemplo de uma tentativa de fazer algo novo que já havíamos experenciado nos primeiros anos de festa e que culminou com o surgimento do mesmo. Mas de maneira geral é um trabalho difícil, porque as coisas tem sido tão parecidas que fazer algo diferente exige muita pesquisa, sensibilidade e também orçamento para incluir estéticas diferentes, esta ultima parte as vezes atravanca certas idéias.

4. Esse modo irreverente de todo o núcleo da Mamba Negra e Carlos Capslock me faz lembrar o estilo berlinense underground, sem rótulos, sem nada, apenas vivendo e deixando a música conduzir o dia entrando na noite e assim nascendo outro dia. Você acredita que este modelo é o ideal para diminuir as diferenças sociais na pista, fazendo com que as pessoas escolham suas festas principalmente pela música?

Sim, esse é o ideal. No entanto não é sempre assim que acontece já que não estamos em Berlim e sim no Brasil onde temos problemas econômicos e sociais muito maiores.

5. A Radio Vírus é o outro projeto teu que recentemente surgiu com a ideia de dar suporte e mostrar a qualidade que temos no Brasil em apresentações no estilo live. Como funciona a parte da curadoria e como tem sido manter esse fluxo semanal de ações?

A curadoria é bem harmônica. Quem faz a ela e as transmissões sou eu e o Laercio (L_cio), mas tem outras pessoas que também atuam eventualmente na rádio como a Laura Diaz (minha sócia na Mamba) e a Danila Moura, ambas que tem feito as entrevistas e também filmado em algumas edições e o Benjamim Sallum que também sugere artistas. Para não acumular muitos podcasts e também para não cansar muito estamos tentando fazer uma vez a cada duas semanas, mas tem meses que temos 3 edições seguidas também. Temos um calendário com os artistas que nos interessa mas ele pode ser moldado a medida que surgem artistas que estão por São Paulo de passagem. Tentamos sempre ter um live e um DJ por edição, mas já ocorreu de ter apenas DJs também.

6. Você como uma mulher atuante na cena eletrônica, certamente possui um posicionamento sobre assuntos delicados, como a ausência de mulheres nos line ups de grandes festivais e o sexismo. De que maneira você lida com estes assuntos diariamente?

Eu lido sendo uma mulher que atua com presença na cena. Obviamente já passei por situações de machismo, mas não deixo que isso me desanime, pelo contrario isso da mais força para continuar fazendo. É uma pena não ter muitas mulheres em line ups, mas também acredito que eles tem que ser feitos pelo som e não pelo gênero. Isso vai mudar quando tivermos mais mulheres produzindo e tocando.

7. Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música eletrônica representa na tua vida?

A elevação da mente e do espirito, o estado meditativo e o que eu sinto ao ouvi-la.

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