Nezello já é um velho conhecido do Alataj, afinal, ele começou a construir sua carreira quase na mesma época da idealização do site e compartilha o mesmo ponto de origem: o litoral catarinense. Foi nessa região que ele ganhou notoriedade principalmente por conta da criação de uma das labels mais respeitadas do estado, a Seas, que já esteve em sociedade junto à Aninha. Em pouco tempo, a festa conquistou destaque e se tornou um evento must-go para qualquer fã de música eletrônica da região, o que naturalmente refletiu no trabalho de Nezello também como DJ.
Mas como construir e manter uma carreira consistente na música eletrônica não é fácil — ainda mais após atravessar uma pandemia — sacrifícios precisam ser feitos e para isso Nezello se manteve distante da cena nos últimos anos para se dedicar ao lado de empresário com o Juistreet, sua marca de Healthy Fast Food que oferece sucos, smoothies, bowls e similares, e que está ganhando o Brasil com novas franquias em diferentes partes do país. Com os negócios mais estabilizados, quase um ano novamente dentro dos estúdios, Nezello sente que é hora de voltar à sua verdadeira paixão: a música. E os primeiros passos já estão sendo dados.
Recentemente, ele somou forças com Bakka e Kobbaia para expandir a atuação da Seas também como gravadora, lançando o single de estreia, Brava. No dia a dia, Nezello busca encontrar o equilíbrio entre uma vida saudável, tempo no estúdio e a continuidade de sua carreira como DJ, sem deixar de lado o espírito empreendedor. Sua agenda de gigs está bem preenchida nos próximos meses com passagem por diferentes estados e até uma ida à Posadas, na Argentina. Com tudo isso acontecendo, é o momento perfeito para entender o que se passa na mente de Nezello, e como ele enxerga o passado e o futuro da música eletrônica, nesta nova edição do 15 to Understand.
Você se enxerga produzindo, tocando e viajando com a música até o fim de sua vida?
Essa é uma das certezas da vida. A música me trouxe tudo que tenho e sou hoje, devo tudo à essa cultura e quero seguir alimentando de corpo e alma todo meu amor por esse universo.
Qual é o lado ruim de uma carreira na música?
Estar longe de quem amamos por algum tempo enquanto estamos na estrada… É triste não poder levar todos que amamos na mala para viver cada aventura conosco.
Qual o diferencial mais importante na preparação para uma gig?
Estar 100% conectado com a sua essência, sabendo absorver o que ouve, a energia do ambiente e a atmosfera criada até o momento, para assim ter um ponto de partida para criar uma história condizente desde o início do set, devemos ganhar a pista já nas primeiras músicas para termos liberdade de criação e condução nas próximas.
Algum artista ou música já mudou a sua vida? Se sim, qual?
Gui Boratto – No Turning Back (Original Mix). Toco depois do Gui no festival da House Mag que vai ser no Surreal Park esta semana, feliz em estar no mesmo palco compartilhando da noite com a lenda.
Qual o maior desafio que a música já te trouxe?
Construir uma identidade própria e insistir nela para conseguir ser lembrado por isso e criar uma fanbase. Se traduz em: Persistência e resiliência, que ambos servem para tudo em qualquer momento da vida.
A indústria da música vive um momento saudável?
Dependendo dos pontos de vista. A cena clubber não vejo como o melhor momento… a questão da moeda e câmbio dificulta muito a vinda de certos artistas para nosso país, mas em contrapartida trás um espaço jamais visto para os nossos “pratas da casa”. Vejo que artistas nacionais, pelo fato de terem mais espaços no Brasil, começaram assim ganhar espaço no mundo todo também, tornando-se referências… Já os clubs do país, observo cada vez mais reduzindo suas datas, pode ser por conta de um ano sem feriado e isso também impacta. Porém, por uma visão empreendedora, pode ser visto como o momento ideal para criar oportunidades e se destacar nesse mercado.
Fale um pouco sobre o que você considera mais relevante: uma grande ideia ou uma rotina disciplinada de trabalho?
Acredito que não existe uma relevância maior sobre um ou outro, vivemos em uma época que para você ser um destaque em qualquer segmento você deve ser um multifacetado na sua área, logo isso remete-se à ser uma pessoa de boas ideias mas que também segue uma rotina disciplinada de trabalho, consistente em ser tudo em uma pessoa só até que consiga ter um fôlego financeiro para construir um time por trás de seu projeto.
O que torna um set realmente inesquecível para o artista e para o público?
Ver a pista encerrar cheia e o pedido de “mais um” acontecer. Vejo essa sendo a música mais bela aos ouvidos do artista, já no mood, vibrando com o público… isso trás a sensação de ter se conectado à tudo que foi escrito musicalmente e não querendo que acabe nunca. [risos]
Como encontrar o equilíbrio entre autenticidade e as tendências da indústria?
Muita gente me pergunta se eu ainda toco “afro-house”. Desde que iniciei minha carreira em 2010/11 sempre toquei uma linha de som voltada à elementos orgânicos, podemos chamar de música natural [risos]. Hoje rotulamos muito por gênero, até pela nossa gravadora tivemos que colocar alguns lançamentos como Afro House nas plataformas. Vejo o projeto Nezello sempre ligado à essência orgânica mas passeando pelos estilos que tem sua tendência de mercado, porém nunca perdi essa essência. Já fui pro lado deep house, house, progressive, tech house, sempre passeando pelo hype mas sempre com linhas de groove e instrumentações orgânicas e tribais, deixando minha pincelada artística e conceito vivos no meu projeto.
Qual aspecto da cena você escolheria mudar ou transformar por completo atualmente?
“Existem pessoas que em silêncio são poetas”. Dirijo-me aos haters, que seria tão lindo pessoas que apoiam o que gostam e o que não gostam apenas não atrapalharem desmerecendo, faltando com respeito ou desmotivando pessoas que buscam seus sonhos através de sua arte. Torço por uma cena mais unida e apoiadora de toda forma de arte e cultura feita com amor.
Qual a sua impressão sobre o futuro da música eletrônica?
Consigo imaginar uma crescente absurda de nosso mercado nos próximos anos, vejo cada vez mais as pessoas interessadas em aprender a ouvir, entender e dançar as nossas músicas. Música é para todas as idades, para todas as classes, aos poucos vamos crescendo nossa comunidade.
Como você vê a relação entre sua identidade pessoal e sua identidade como artista?
Vejo ambas muito conectadas, quem já conheceu o Higor, certamente consegue ver o espelho Nezello no palco sendo feliz realizando o sonho do Higor. [risos]
O que te causa orgulho em relação ao trabalho/música?
Ver, ouvir e receber tantas mensagens de pessoas na qual já tive algum contato, sinalizando que fui um agente de evolução na vida de alguém. Sinto que minha missão por aqui é conseguir ser referência, ferramenta de mudança e transformação na vida de todos que encontro na minha caminhada. Minha maior realização é ver alguém que pude ajudar, alcançando seus sonhos. Transborda amor esse momento na minha vida.
Qual a mensagem principal que você busca transmitir com sua música?
Alegria, leveza e conexão com o agora. Viver exatamente aquele momento no qual se escuta.
Qual é a importância da colaboração com outros músicos em sua criatividade?
Ninguém sabe tanto que não possa aprender e ninguém não sabe nada que não possa ensinar. Estar conectado com outros artistas só traz mais inspiração para todos, isso serve pra vida em todos os aspectos. Pessoas somam com pessoas, vejo o ser humano como o nosso maior ativo do mundo, se bem lapidado ambos podemos ser um ponto de evolução de bem para alguém.