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A música conecta

15 to understand | Rose Ringed

Por Alan Medeiros em 15 to understand 09.10.2024

Rose Ringed é um artista que enxerga e busca, na música, uma forma de conexão emocional profunda. Este talentoso DJ e produtor holandês vem conquistando seu espaço na cena com o aval e parceria de grandes gravadoras, como Diynamic e Spectrum, selos que são expoentes de suas cenas e também foram casa de alguns de seus recentes lançamentos. Rose também fundou seu próprio selo, Closed Eyes, que serve como um ambiente mais amplo e livre para experimentações de sua discografia. 

Seu perfil enquanto produtor pode ser definido como uma mistura de referências primárias oriundas do Trance, estilo com o qual ele começou a se relacionar ainda muito jovem na Holanda, somadas a elementos do Techno, tendo um plano de fundo suavemente melódico também presente. Rose Ringed tem sido um dos nomes que players gigantes da música eletrônica têm acompanhado de perto, caso de Solomun, Joris Voorn e do próprio staff do Tomorrowland, festival no qual ele já se apresentou na edição belga e agora chega para sua estreia no Brasil. Antes disso, ele nos atendeu para um bate-papo sobre vida e carreira que você confere a seguir:

1. Quando a música deixou de ser apenas um hobby para você?

Quando eu tinha 20 anos, comecei a produzir e fazer música eletrônica. Mas as coisas ficaram sérias quando larguei meu emprego para seguir meu sonho de me tornar um artista.

2. Você se imagina produzindo, se apresentando e viajando com a música para o resto da sua vida?

Sim, especialmente produzindo. Quero ser capaz de produzir um hit sob demanda. Esse é o “Santo Graal”, e quase ninguém jamais alcançou isso, exceto por alguns poucos.

3. Qual é o lado negativo de uma carreira na música?

Como há muitas pessoas que gostariam de ter isso como profissão em tempo integral, é difícil se destacar. Então, antes de conseguir uma renda decente só com música, você precisa trabalhar muito e ter sorte. O processo até esse ponto é realmente difícil e também solitário, pois você trabalha muito sozinho. Mas, como em tudo na vida, quanto mais difícil é chegar lá, maior é a recompensa.

4. Como você lida com críticas direcionadas à sua arte?

Para mim, opiniões negativas sobre qualquer forma de arte não são importantes, pois é subjetivo se você acha algo “bom”. Todos podem ter sua própria opinião e estar certos à sua maneira. Mas não há verdade sobre o que é bom ou não.

5. Algum artista ou música já mudou sua vida? Se sim, qual?

Existem tanto artistas quanto músicas. Freddy Mercury mudou minha vida, pois ele foi o primeiro artista de quem fui fã e eu ouvia muito Queen quando adolescente. Para mim, ele foi o maior artista que já existiu; sua presença no palco nunca foi superada, na minha opinião.

Tenho uma lista de reprodução no Spotify com meus “Favoritos de Todos os Tempos”, e há muitos lá que mudaram minha vida. Para citar um: Sky and Sand do Paul Kalkbrenner. Esta música tem uma história tão bonita e provavelmente foi a primeira música eletrônica que me fez chorar. Ainda tem o lugar mais especial no meu coração.

6. A indústria musical está em um estado saudável agora?

Eu acho que não. E, se eu puder mudar isso, vou tentar ajudar. Vejo muito pouco apoio para artistas menores e acho que muitos produtores muito talentosos não recebem as oportunidades que merecem. Se eu me tornar grande e tiver o poder de impulsionar novos talentos, vou fazer muito isso. Eu adoraria uma indústria mais “comunitária” do que a competitiva que temos hoje.

7. Fale um pouco sobre o que você considera mais importante: uma grande ideia ou uma rotina de trabalho disciplinada?

Eu diria que uma rotina de trabalho disciplinada leva a ideias melhores e maiores. Se você cuida da sua saúde mental, estuda música, se exercita e vai ao estúdio regularmente, você acaba criando músicas melhores.

8. Qual foi o momento ou conquista mais importante da sua carreira até agora?

Houve alguns, mas o maior foi tocar no palco principal do Tomorrowland este ano, foi inacreditável. Um mês antes, toquei uma noite inteira na lendária casa de shows Paradiso, em Amsterdã, e quase esgotou. Foi a realização de um sonho.

9. Como você encontra o equilíbrio entre autenticidade e tendências da indústria?

Excelente pergunta. Atualmente, tenho dois tipos de estratégias: música que faço puramente para mim, que acaba na prateleira para álbuns futuros, e músicas que faço para momentos mais voltados para a pista de dança, que são mais influenciadas por tendências da indústria. Ainda assim, sempre tento fazer o meu próprio trabalho o máximo possível, mas, inconscientemente, você ainda coloca coisas que estão “na moda” no momento. Para mim, o mais importante é que tudo o que eu faço deve ser algo que se conecte emocionalmente comigo ou que me dê uma quantidade insana de energia.

10. O que traz inspiração prática e contínua para o seu processo criativo?

Minha rotina regular é meditar pela manhã e tocar piano depois. Acho que muitos produtores esquecem que a música flui de forma mais natural se você souber como praticar um instrumento. Caso contrário, você está apenas esperando que acidentes aconteçam ou procurando o sample certo por horas. Para mim, a boa música começa com a composição. Se você consegue criar uma batida incrível na bateria ou tocar uma bela progressão de acordes, o resto da faixa flui muito mais fácil.

11. Ao final da sua carreira, como você gostaria que as pessoas lembrassem de sua arte?

Pergunta maravilhosa. A música significou muito para mim emocionalmente. Espero que minha música ajude as pessoas em suas vidas, seja em momentos de dor ou alegria. Se eu puder ter algum significado para as pessoas, isso me dará toda a gratidão que eu poderia desejar.

12. Como você vê a relação entre sua identidade pessoal e sua identidade como artista?

Elas se sobrepõem muito, mas também diferem bastante. Na minha arte, vou muito fundo, tento encontrar e mostrar meu eu mais verdadeiro, minhas emoções mais profundas. Na minha vida cotidiana, sou mais “leve” e me divirto bastante. Quero que as pessoas me vejam como eu sou, pois quero inspirá-las a sempre serem autênticas. É você quem faz você ser único e permanecer assim te dará a maior felicidade na vida. Para mim, a autenticidade é muito importante.

13. O que te deixa orgulhoso sobre seu trabalho/música?

Que encontrei meu próprio tipo de som sem nunca ter “planejado” racionalmente. Eu apenas sigo o que meu coração me diz e isso fez minha música se destacar como algo original e difícil de rotular. Isso é algo de que me orgulho muito.

14. Qual é a principal mensagem que você deseja transmitir com sua música?

Euforia, energia, melancolia e nostalgia são as emoções que eu gostaria de transmitir. Permaneça fiel a si mesmo e não fuja dos seus sentimentos mais profundos. Deixe a música e sua intuição te guiar pelo caminho de quem você realmente é e abrace tudo o que vem com isso. Quanto mais você se conhece, mais fácil a vida se torna e mais feliz você será.

15. Como você lida com os altos e baixos emocionais que podem acompanhar a vida de um artista?

A saúde mental é extremamente importante, e a meditação, para mim, foi uma prática que mudou minha vida. Ela me ensinou a não me apegar demais aos “altos” que você experimenta ao se apresentar. Estar no centro das atenções é uma experiência insana para um ser humano, então eu aprecio, mas sei que não é algo normal, nem algo que eu deveria ansiar ou me acostumar. Quando lido com os momentos baixos, o que sempre me resgata é a música. Se eu não amasse tanto fazer música, acho que não teria conseguido chegar onde estou agora.

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