Se você procurar Sudden Heat no Instagram, vai encontrar um perfil com pouco mais de 20 publicações. No Beatport, são só três músicas lançadas… mas se você acha que estamos falando de um artista novato da cena, está muito enganado. Por trás do projeto está o DJ e produtor ítalo-brasileiro Lucas Amore, com uma bagagem na música que já ultrapassa os 13 anos. No passado, ele fez parte do duo Talking Dirty, onde se apresentou em grandes festivais como Só Track Boa, Tribe e Playground, e ao longo dos anos pôde experimentar diferentes projetos e pisar em variados terrenos; agora, porém, Lucas parece ter encontrado o equilíbrio ideal para dar vazão total a sua expressão artística e pessoal como Sudden Heat.
Aliás, Sudden Heat, no sentido figurativo da expressão, pode ser usada para descrever uma situação ou emoção intensa que surge de repente, como uma onda de paixão ou entusiasmo — e é exatamente isso que ele busca causar nas pessoas. O nome do projeto faz alusão àquele momento de ápice numa pista de dança, transmitindo energia, calor e um feeling quase que inexplicável que mexe com a química cerebral. Com uma forte pluralidade musical e uma sonoridade autêntica, Sudden Heat consegue dialogar com diferentes frentes musicais de forma coesa, o que já lhe rendeu suportes que vão de DJ Snake a Nick Curly, passando ainda por Jamie Jones, Marco Carola, The Martinez Brothers, Adam Beyer e Diplo.
Muitos desses suportes foram para sua track The Hook, em collab com Vinter, que repercutiu mundialmente e já está quase ultrapassando a marca de 2 milhões de streams só no Spotify. No ano passado teve também o single Dessa Vida, que foi Top #1 no Traxsource e #38 no Beatport no chart de Minimal/Deep Tech. E é assim, sem seguir tendências do mercado, mas sim seu próprio instinto, que Sudden Heat vem incendiando as pistas pelo mundo com muito groove e euforia. Se você pensa em seguir o mesmo caminho, vale entender um pouco mais a visão de vida e artística dele através desta nova edição da 15 to understand:
Você se enxerga produzindo, tocando e viajando com a música até o fim de sua vida?
Com certeza absoluta. Já vivo de música há mais de 10 anos, e simplesmente não consigo me ver fazendo outra coisa.
Qual é o lado ruim de uma carreira na música?
Altos, baixos e incertezas. Muitas pessoas reclamam da alta competitividade nos dias atuais, mas eu enxergo isso como algo positivo.
Qual o diferencial mais importante na preparação para uma gig?
A preparação, na minha opinião, vai até o momento de subir no palco e plugar o pendrive. A leitura da pista durante o set do DJ anterior, além do line up como um todo, conta muito. Além disso, procuro sempre trazer alguma novidade, seja uma track autoral nova, ou promo de outros produtores. É muito importante também se sentir confiante e tranquilo.
Algum artista ou música já mudou a sua vida? Se sim, qual?
Vários, na verdade. O momento que virou a chave pra mim foi em 2013, quando decidi fazer meu primeiro projeto profissional, com produções autorais, etc. Na época o Indie Dance e Nu Disco eram gêneros predominantes na cena underground, tive muita influência de Jamie Jones e Hot Natured.
Qual o maior desafio que a música já te trouxe?
Conciliar o meu lado pessoal/artístico com meu lado profissional como produtor. Aprender a fazer da arte uma profissão, um trabalho propriamente dito, acredito que tenha sido o maior desafio. Isso inclui finalizar tracks, enviar para selos, trabalhar ativamente no music business, além de branding e marketing.
A indústria da música vive um momento saudável?
É uma pergunta difícil de responder, pois acredito que a música, assim como a cultura de maneira geral, é um reflexo do momento em que o mundo está passando. Na minha visão, a indústria da música vem sofrendo alguns reflexos de recessão causados pela pandemia, princípios de guerra, etc. Porém, ao mesmo tempo, é um bom momento para arriscar se destacar, ser o mais original possível.
Fale um pouco sobre o que você considera mais relevante: uma grande ideia ou uma rotina disciplinada de trabalho?
Com certeza uma rotina disciplinada. A força de vontade de uma pessoa é capaz de mover o mundo todo, mas uma grande ideia na mente de uma pessoa que não tem disciplina o suficiente para executar, na maioria vezes não se materializa.
O que torna um set realmente inesquecível para o artista e para o público?
Quando há uma troca de energia verdadeira entre público e artista, com certeza são criadas experiências realmente únicas, para ambos. Acredito que o público seja capaz de sentir, mesmo que inconsciente, se o DJ está realmente envolvido no que está performando ou não.
Como encontrar o equilíbrio entre autenticidade e as tendências da indústria?
Para mim, o que funcionou foi buscar minhas referências nas origens da música eletrônica, quando tudo era mais simples e rudimentar, limitado pela tecnologia da época. A composição ‘nua e crua’ é o que me convence sobre a originalidade do material. Para alguns, a roupagem muda dependendo da estética atual do mercado, não há problema nisso. Eu, particularmente, sou muito fiel ao meu instinto.
Qual aspecto da cena você escolheria mudar ou transformar por completo atualmente?
Seria legal que as pessoas se conectassem mais com o presente. Não vejo problema em pegar o celular para gravar alguns momentos, mas o tempo todo, acaba atrapalhando a experiência.
Qual a sua impressão sobre o futuro da música eletrônica?
Acredito que a dance music vai continuar tendo o mesmo propósito que sempre teve, de extravasar na pista de dança, ter um momento especial com os amigos, etc. É natural que o mercado se adapte ao longo do tempo, na minha cidade por exemplo os clubs foram substituídos pelas festas itinerantes. É difícil prever tendências sobre a indústria a longo prazo, mas tenho certeza que nunca vai acabar, apenas se transformar 🙂
Como você vê a relação entre sua identidade pessoal e sua identidade como artista?
Tenho muito respeito pelo meu gosto em tudo que eu faço na vida, seja durante o processo criativo de uma música, seja na hora de me vestir. Sou muito sincero comigo mesmo, e acredito que isso ajuda a comunicar minha identidade pessoal para o público.
O que te causa orgulho em relação ao trabalho/música?
Ter músicas tocadas por artistas que admiro, lançar em labels que aprecio o conceito por trás da marca, assistir pessoas ao redor do mundo groovando com meu som, traz uma enorme sensação de realização pessoal.
Qual a mensagem principal que você busca transmitir com sua música?
Minha música, assim como o tema por trás do meu pseudônimo, tem uma mensagem muito direta: calor. Tudo é desenvolvido para trazer uma experiência eufórica, que faça elevar o humor e o estado de espírito na pista de dança.
Qual é a importância da colaboração com outros músicos em sua criatividade?
Sempre que colaboramos com outros artistas, aprendemos alguma coisa nova. A produção musical é um universo muito vasto, e sempre há espaço para aprender técnicas e insights. Acredito que a soma de identidades, quando a visão dos produtores é alinhada, pode somar para um resultado diferente, inesperado.
A música conecta.