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A música conecta

Glen e a essência do real DJ

Por Alan Medeiros em Entrevistas 20.09.2017

Imagine um DJ e produtor brasileiro que já trabalhou ao lado de nomes como Anthony Rother, DJ Hell e Teufelswerk. Lembrou de algum nome? Estamos falando de Glen Faedo, ou simplesmente DJ Glen, um dos ícones nacionais da cena house e techno, responsáveis por lançamentos em labels do calibre de Dirtybird, Cajual, My Favorite Robot e International Deejays Gigolos.

++ relembre nossa matéria especial sobre a Dirtybird

A carreira de Glen despontou a nível nacional em 2006, logo após ele ser indicado como artista revelação pelo portal Fiber Online ao Prêmio Toddy de artistas independentes. De lá pra cá, muitos discos passaram pelas agulhas do brasileiro, que mais tarde viria a ganhar um concurso de remixes organizado pelo Resident Advisor em parceria com a DJ MAG – que responsa!

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A cada novo lançamento, Glen demonstrava mais maturidade, justificada por suportes de nomes como Maceo Plex, Cajmere, Green Velvet, Claude VonStroke e Justin Martin. Em 2012, Faedo lançava um de seus principais sucessos: Boogie Mafioso ganhou as pistas do mundo todo, conquistou a crew da Dirtybird e foi a porta de entrada do brasileiro para o selo californiano – o primeiro lançamento oficial por lá viria alguns anos depois.

Atualmente como parte do casting da Entourage e nome a frente da Discotech (festa que completa 8 anos nesse fim de semana), Glen tem empurrado mais e mais os seus limites em busca de uma constante evolução musical. Debutando no Alataj, ele assina o mix 301 do Alaplay e responde algumas perguntas nesse bate-papo exclusivo:

1 – Olá, Glen! Tudo bem? Você é de uma época onde a discotecagem em vinil era algo muito natural. Atualmente, com esse novo boom da indústria voltada aos discos, como você tem se posicionado? Ainda foca suas compras em mídias físicas ou o digital está prevalecendo?

Olá Alan! Ainda acho a discotecagem em vinil algo bem natural, importo discos há pelo menos 15 anos e ainda compro na mesma loja virtual. Quando estou pela Europa paro em algumas lojas físicas pra comprar alguma coisinha, mas este nunca foi o modo que mais gostei de fazer compras, pois acho que os vendedores fazem uma pressão psicológica e sempre acabo levando discos que nunca uso.

Sempre usei o vinil por achar ser a melhor maneira de tocar, mas a cada dia menos há menos DJs tocando assim e as dificuldades pra se usar essa mídia ficam cada vez maiores. Disposição por minha parte não falta, quando a gig não tem aéreas levo minhas próprias picapes, tenho diversos apetrechos pra lidar com reverberações e excesso de sub no palco, mas não é sempre que consigo fazer um set em vinil atualmente.

Sinceramente não dou tanto valor pra uma música em formato digital, vou pegando elas do jeito que aparecem, gosto de comprar no Traxsource, pesquiso em diversos blogs, amigos me mandam demos, toco produções que nunca serão lançadas e adoro o rekordbox pra organizar tudo. Atualmente pela quantidade de taxas que pago no Brasil, só compro os discos que são certeiros pra tocar e normalmente já toquei digital antes de chegar no meu case.

Há tempos venho ouvindo a mesma história em diversas mídias, “o vinil está voltando, o vinil está voltando”, vi discos novos sendo vendidos em lojões populares no Brasil por preços absurdos, mas é outro mercado, eu compro discos especializados para DJs underground e sim, isso é muito barato na Europa.

Um certo dia parei pra analisar esta nova demanda de discos de vinil e cheguei a conclusão que, as fábricas de discos não vão aumentar nem em quantidade e nem em capacidade de produção, por motivos lógicos de componentes e máquinas obsoletas e pra alguém desenvolver alguma forma inovadora de gravar discos,  [hmmmm] comercialmente o mercado tem que crescer muito e não faz sentido pra mim isso, acho que estes novos consumidores estão numa moda passageira.

Logo, estas mesmas fábricas que estão prensando discos para um novo público, mais caros e em uma tiragem bem maior do que a que os DJs usam, pela lei de mercado, este custo de produção vai fazer o disco underground ficar cada vez mais caro e demorado pra se gravar, o que me deixa um pouco preocupado com o meu nicho de consumo especificamente, no bum do vinil, os artistas que tocam em vinil podem se dar muito mal.

2 – Recentemente você fez sua estreia pela Dirtybird no que foi, provavelmente, um dos principais momentos de sua careira. Pessoalmente, quão importante foi lançar pela gravadora? Como as coisas rolaram desde o primeiro contato até o lançamento?

Na verdade minha estréia na Dirtybird foi com um som lançado por outra gravadora, a track Boogie Mafioso. Em conversa com o boss Claude Vonstroke, ele me disse que este som é um Dirtybird classic desde seu lançamento em 2011, pois todos os DJs da DB tocaram e tocam ele muitas vezes até hoje, o próprio Vonstroke até fez um remix exclusivo pra tocar.

A minha primeira track lançada na gravadora foi em 2015, a Get Dirty, e agora em 2017 a Move Your Bone, inclusive em vinil. Fora essas tive outras assinadas que foram barradas por direitos autorais de samples que usei, eles realmente são contra o uso de samples externos não autorizados. Troco músicas e informações de estúdio com toda a crew há muito mais tempo, sou fã desde 2006 e provavelmente tenho a maior coleção de discos deles do mundo. Sinto que entrei pra família de fato em 2015, mas sou como um primo de outro país.

Quando conheci o Justin Martin no BPM festival em 2012/2013, a gente de cara virou parceiro pois ele já conhecia meu trabalho e gostava muito, eu já era fã das produções mas depois de ouvir o set dele no festival, o queixo caiu lá no chão. Logo cheguei no Brasil empolgado pra trazer ele, fiquei no pé da minha agência pra fazer a tour dele e rolou já no mesmo ano, ele foi um dos grandes destaques da Kaballah em São Paulo.

Depois da apresentação dele, toda a gravadora Dirtybird despertou interesse nos empresários que criaram aqui no Brasil uma legião de fãs e consequentemente produtores brasileiros começaram a lançar lá. Hoje em dia rola uma ponte artística incrível entre os artistas do Brasil e da costa oeste dos EUA.

3 – Além da Dirtybird, você também já lançou por labels consagrados como Cajual e My Favorite Robot. Na sua visão, as gravadoras ainda exercem um papel fundamental na carreira de um artista de música eletrônica? Você realmente sente que essas marcas transformaram seu posicionamento no mercado?

É relativo. No meu caso foi muito positivo ter grandes gravadoras e grandes artistas tocando sons meus, me elogiando em entrevistas, etc. Eles influenciaram pessoas que influenciaram outras pessoas que me conheciam ou não e resolveram me dar gigs melhores e lugares melhores em line up, onde pude mostrar o que realmente sei fazer que é discotecar e assim atingir o consumidor final, que é o frequentador das festas que está lá sem saber de nada dos bastidores, só querendo ter uma noite de prazer e sensações.

4 – Antony Rother, DJ Hell e Kolombo estão na lista de artistas que você já remixou. Como é pra você trabalhar nessa posição? O que uma faixa precisa ter para possibilitar um bom remix?

É divertido, é empolgante, é desafiador, você se sente angustiado por algum momento, ansioso e não vê a hora de chegarem os feedbacks. Quando consegue fazer a faixa ser considerada melhor que a original é uma endorfina bizarra que rola.

5 – Sobre sua experiência no exterior, discotecando e levando um pouco de seu trabalho para outros países… o que gostaria de compartilhar conosco sobre isso?

É sempre especial conhecer outras culturas e levar um pouco da nossa pra outra pessoa, o crescimento interno é muito grande e a sensação é que você está fazendo o mundo um pouquinho melhor. Eu fico filosofando internamente o tempo todo e uma das minhas grandes conclusões é que todas as nossas sensações são bem maiores quando a gente está fora da zona de conforto, um país novo é o melhor exemplo de como é estar fora da zona de conforto.

https://www.youtube.com/watch?v=9r1LBKGG0XI

6 – Esse ano a Discotech completa 8 anos de vida e como de costume está apresentando um super line up. Fale um pouco sobre como é trabalhar também nessa frente e o que o público pode esperar dessa edição.

Fazer festa sempre me deixa ansioso. É difícil e emocionante, na hora sempre me estresso mas é necessário. Todas as vezes na vida que me envolvi com a produção de eventos foi com o intuito de ser copiado. Isso, eu quero ser copiado. Quando as festas caem o nível, as pessoas não conseguem se divertir de uma forma que eu acho saudável, eu vou lá e faço uma festa mostrando o meu ponto de vista de como a gente deve se divertir. Claro que é uma visão romântica da coisa, que envolve muitas responsabilidades.

A Discotech eu criei quando eu descobri o Nu Disco. A minha região vivia um momento ruim musicalmente, onde só existiam festas de som comercial muito safado ou raves com trance depressivo, minimal depressivo, ou qualquer outra coisa depressiva – talvez eu estivesse depressivo.
Mas aí veio todo esse new disco, colorido, melódico, saboroso, pessoas sorridentes, evoluídas, amizades de outros países, outros estados… foi um refresh na minha vida e a festa veio como uma necessidade de passar isso adiante. Hoje este espírito continua e cada vez mais forte. Todos os amigos presentes, o clima é ótimo!

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7 – Qual norte você seguiu para gravação desse podcast? Quais artistas estão presentes?

Uma história com começo meio fim e um after, claro que já no clima da festa: tem Tiga, DJ Hell, Fango, Dirtybird, minhas produções novas, vinis novos e algumas surpresas.

8 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Música é a linguagem universal.

A música conecta as pessoas! 

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