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A música conecta

Liderada por mulheres, equipe de segurança revoluciona a noite de BH

Por Arthur Cobat em Editorial 09.10.2020

A cena noturna de Belo Horizonte tem ganhado cada dia mais destaque no circuito de música eletrônica nacional. Coletivos, DJ’s, performers e produtores da cidade têm reconstruído nos últimos cinco anos uma identidade de eventos com perspectivas mais inclusivas, que abraçam não só um público mais diversificado, mas também um staff que entende as particularidades dos frequentadores destas festas. Foi através desta busca por um modelo de equipe mais humanizada que surgiu a Nath Security: um time de seguranças, guardiãs e bombeiras formado majoritariamente por mulheres. 

Natália Lanças, responsável pela equipe, começou a sua vida profissional trabalhando no comércio de Belo Horizonte, até que um dia resolveu fazer um curso de vigilante e ficou surpresa com a discrepância entre homens e mulheres na sala – eram ao todo 25 alunos, sendo que apenas cinco eram mulheres. Após se formar, encarou mais um grande problema na área de segurança, pelo fato dos produtores contratarem mulheres apenas para preencherem uma cota de revista feminina. Foram surgindo algumas oportunidades em pequenos eventos como casamentos e recepções, onde ela conheceu novas vigilantes e então formou um grupo de segurança só de mulheres que revezavam entre si nos trabalhos que apareciam. “A formação desse grupo veio a partir da vontade de dar visibilidade às mulheres da área de segurança privada e de uma indignação ao ver o machismo estrutural em nosso setor, que nos impede de ter oportunidades de crescimento”, ressalta.

Maria Geralda (esquerda) e Natália (direita) durante a festa Mandarina. Foto: Lucas Chagas

O primeiro contato com a cena eletrônica da cidade aconteceu na festa Sintética, núcleo de Belo Horizonte onde a representatividade feminina ocupa todas as linhas de produção. Casos de assédio constantes nas festas eletrônicas da cidade fizeram com que a produção da Sintética tivesse a ideia de solicitar para uma empresa de vigilância privada uma equipe só de mulheres para trabalhar no evento. Foi nessa ocasião que as profissionais da equipe Nath Security se reuniram pela primeira vez. “Depois que conhecemos o mundo eletrônico, nossa vida mudou. É um púbico consciente, basicamente são os melhores para se trabalhar. O problema sempre acontece com pessoas que vem de fora, que não conhecem a festa”.

Ela destaca que grande parte das equipes de segurança liderada por homens seguem uma linha militarista e conservadora, que acaba dificultando a relação com públicos mais diversificados. Isso acaba gerando conflitos e até ações preconceituosas, pois muitos destes profissionais não estão preparados para dividir o mesmo espaço de pessoas LGBTQI+, pretas e até mesmo entender e agir em casos que envolvem assédios com mulheres. Para Natália “é preciso aprimorar a humanização da segurança nos cursos de vigilância, porque até mesmo profissionais femininas acabam lidando com situações desagradáveis em determinados eventos, como o machismo, racismo, classicismo”. Mas que ela garante que não se sentem intimidadas, porque estão preparadas e treinadas para lidar com estes problemas tanto quanto um segurança masculino. Quando precisam chamar vigilantes homens para completar a equipe, sempre repassa as diretrizes que o time preza profissionalmente. “Ser mulher nunca foi fácil, ser mulher preta é ainda mais difícil, então muitas pessoas desacreditam do nosso potencial para resolver conflitos, mas para lidar com qualquer, acima de tudo, é necessário atenção, cuidado, verbalização e respeito”.

Parte da Equipe Nath Security durante evento da festa 101Ø

O sucesso da gestão da Nath Security conquistou todos os coletivos independentes de Belo Horizonte, tornando-se indispensável nestas festas. O trabalho exercido por essas mulheres já dura 3 anos e revolucionou a forma de se fazer segurança de eventos na cidade. Hoje elas transitam não só em festas independentes eletrônicas, mas também em grandes festivais e eventos dos mais variados gêneros. 

Natália trabalhando na segurança do Trio Elétrico da festa Mientras Dura, no Carnaval de BH

 “Não podemos esquecer do lado humano de cada pessoa. Meu direito termina quando eu invado o espaço do outro, então isso que devemos levar em consideração. Temos ocupado novos espaços com a equipe e isso acaba ajudando a construir novas ideias, influenciando novas mulheres, pretas, trans, a se juntarem com a gente para fazer um trabalho bem feito. Por que no final, nosso objetivo é apenas oferecer o melhor para vocês” – finaliza Natália Lanças.

Agradecimento especial a Claudinha, Roberta, Michelle, Maria Geralda, Débora, Ana Cris, Marinela, Vânia, Renata, Rejane, Rafaela, Lu Calô, Adriele, Amanda e Léo.

A música conecta.

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