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A música conecta

Editorial | Um passeio por momentos épicos da série DJ-KiCKS

Por Caio Stanccione em Editorial 02.02.2021

Mais um editorial daqueles que me fazem pensar e pensar por onde começar. Afinal de contas, tô aqui pra falar de uma série que muito me influenciou – e continua a influenciar – quando comecei a receber os sinais do que eu me tornaria. Sem sombra de dúvidas, essa série de sets mixados criada pela iK7 Records há 28 anos é um grande divisor de águas para os aficionados pela música eletrônica que receberam o seu despertar divino entre os anos 90 e 2000.

Série de sets mixados? Você quis dizer podcast, né? Não, meu jovem iGen, eu quis dizer série de sets mixados. Podcasts são programas de áudio gravados on demand, disponibilizados de forma online e gratuita. A vantagem? Podem ser reproduzidos a hora que você puder e onde você quiser. Uma série de set mixados como o DJ-KiCKS vai um pouco mais além, já que não é só o conteúdo musical que é explorado. Existe uma veiculação física desse trabalho, existe também o desenvolvimento da arte que vai encapar esse set mixado, além da curadoria absurda de quais artistas serão convidados a participar da série e, por sua vez, cuidado gigantesco do artista na hora de montar a playlist que irá definir seu trabalho tanto artisticamente quanto tecnicamente. Não é só mais um bounce de músicas sequenciadas no Ableton. 

Esse é o grande problema dos arquivos digitais, são descartáveis em sua grande maioria, não são táteis e tudo que a gente não consegue experienciar com dois ou mais sentidos acaba caindo no esquecimento. Deu pra entender a diferença de podcast e série de sets mixados?

Como o próprio nome sugere, DJ-KiCKS é uma série que começou com os dois olhos na música eletrônica de pista. A ideia sempre foi convidar artistas que se destacavam pela sua singularidade e irreverência dentro e fora das pistas. Apesar do nome DJ-KiCKS existir desde 1993, foi em 1995 que o primeiro volume da série deu as caras ao mundo, e claro, ninguém menos que CJ Bolland poderia cuidar dessa estreia. Vou me limitar a falar do DJ-KiCKS, afinal de contas é sobre isso que esse editorial se trata, mas caso você seja fã de Techno e não conheça o som e a história do CJ, meu amigo, minha amiga, acho melhor você ouvir o DJ-KiCKS dele.

Agora, se você é um conhecedor de DJ-KiCKS sabe que os primeiros anos da série são uma mina de ouro quando o assunto é música do amanhã. Aliás, essa é outra pira que a série tem, fugir do comum, buscar artistas que de fato conseguem expressar o que há de mais inesperado na música como um todo. Eu sei, eu sei, você já deve estar pensando em voz alta “fala do DJ-KiCKS do Kruder & Dorfmeister!” – né, Laura Marcon? – E eu não vou falar. Esse é DJ-KiCKS de fato é ótimo, mas vou falar de dois sets dessa fase strictly to the dancefloor que pra mim são importantíssimos se tratando de indicadores de tendência. 

Se você é fã das sonoridades que Detroit colocou no mapa, em especial o Minimal, você precisa ouvir o DJ-KiCKS do Claude Young que saiu em 1996. Olha, eu aposto com você que muita gente nunca nem ouviu falar nele e muito menos na importância que ele tem dentro da música Techno/Minimal e eu entendo. Claude Young decidiu largar o sucesso e realização que tinha em seu auge por conta de quão corrupto e podre pode ser o nosso meio. Até aí, sem novidades não é mesmo? Mas, só pra te deixar com um pouco mais de curiosidade, o nome Underground Resistance significa algo para você? Então faça esse favor a você mesmo e escute o DJ-KiCKS desse true hero.

E claro, né? Estamos falando da virada do milênio, eu me recuso de deixar de citar o DJ-KiCKS dessas minas que eram embaçadas demais e que são o principal pilar do Drum ‘n’ Bass ao lado do Goldie. Pra começar, Kemistry & Storm e Goldie fundaram a Metalheadz, label seminal para o DnB e o legado deles vive de forma intensa até hoje. Kemistry & Storm são creditadas como uma das primeiras minas a quebrarem o paradigma de que somente os homens eram capazes de entregar um bom trabalho quando o assunto era discotecagem, já que o DJ-KiCKS delas vendeu como cerveja em bloquinho de carnaval. Infelizmente, Kemistry veio a falecer em 1999 em um acidente de carro voltando de uma gig. Seu DJ-KiCKS foi lançado três meses antes. 

Logo após a fase strictly to the dancefloor que o DJ-KiCKS teve – que contou também com Carl Craig e Stacey Pullen -,a nova sensação na série de sets mixados era o Trip Hop e suas raízes, que estavam em plena evidência no final dos anos 90. Chegamos aqui em uma outra dinastia que eu gosto muito do DJ-KiCKS, afinal de contas a cultura Hip Hop nada mais é que a irmã gêmea da Dance Music. 

O francês DJ Cam foi o responsável pelo oitavo volume da série em 1997, trazendo um um set repleto de samples inusitados e um feeling que só os breakdowns podem causar. Ah, o Hip Hop e seus samples! DJ Cam é tido como um dos criadores do Ambient Hip Hop, que basicamente era como o Trip Hop era chamado antes de se chamar assim.

E pra fechar os anos 90, ninguém menos que a dupla recém-formada Thievery Corporation. De fato, Rob Garza e Eric Hilton já tinham seu projeto amplamente difundido e tornado o Thievery Corporation queridinho de muita gente, mas eles ainda não eram considerados os deuses da Downtempo, status que o DJ-KiCKS assinado por eles em 1999 ajudou a conquistar. Uma pausa pra te dizer que esse é um dos volumes mais bonitos e emotivos que a série tem. Mesmo que você seja bitolado em música de pista, pare um pouquinho pra ouvir esse set, na moral.

https://youtu.be/tMaYAv5rShQ

Uma nova década, uma nova pegada

Ah, os anos 2000! A década que marca um novo início da humanidade devido ao fácil acesso a Internet. Ninguém mais era obrigado a consumir aquilo que não queria, um mundo novo de informações estava nos aguardando através dela. Sabe quem também chegou nos anos 2000? O Electroclash. Amado por muitos e odiado por muitos também, o Electroclash é uma pegada de som que mistura o House e Techno com a pegada de som que o final dos anos 70 e início dos anos 80 tinha na Europa como Kraftwerk e Depeche Mode. Até aí tudo bem, né? O bode do Electroclash veio por conta das músicas sempre falarem sobre ostentações, sexo, drogas e outras coisas libertiginosas e claro, o preconceito por ser um movimento basicamente gerido por homossexuais. E você aí, criticando Baile de Favela, mas quando toca Sunglasses At Night, vira o bicho na pista, né? Tô ligado. 

E falando em Sunglasses at Night, é o DJ-KiCKS do Tiga que abre essa nova era exploratória para a série. Tiga tinha acabado de fazer um sucesso gigantesco com a releitura de Sunglasses at Night, lançada na International Deejays Gigolos de DJ Hell, principal difusora do Electroclash na época. Esse DJ-KiCKS é pra você que gosta de música eletrônica misturada com Indie Rock, vai na fé!

https://youtu.be/SW8yQUw67fg

Não por causa do Electroclash o qual eu sou muito fã e toquei por um bom tempo, mas sim por conta da mudança brusca do público direcionado, essa é a pior fase do DJ-KiCKS. É fácil entender né? Volta no DJ KiCKS do Thievery Corporation e depois volta novamente no do Tiga, não tem nada a ver né? E essa mudança brusca aconteceu do nada, meio que deixando claro que o DJ-KiCKS tinha começado a pensar mais com o bolso do que com o coração, mais um motivo pra galera começar a pegar um certo ranço, se é que posso dizer isso. 

E como já diria o ditado popular “onde passa um boi passa uma boiada”, o Electroclash dominou os volumes subsequentes. Chicken Lips, Erlend Øye, Playgroup e Annie são alguns convidados que participaram da série nesse período. Mas, calma! Nem tudo tá perdido nos anos 2000, ninguém menos que Daddy G, do Massive Attack, aparece em 2004 entre os volumes andrógenos que pautaram os anos 2000 do DJ-KiCKS, dando um refresco aos ouvidos que sempre preferiram sonoridades mais profundas como esse que vos escreve. Mais um belo mix da série!

Ainda nos anos 2000, nomes que eram pequenos e novatos como Four Tet, Henrik Schwarz e Hot Chip também gravaram sets mixados pelo DJ-KiCKS, mas nenhum desses mixes supera a notícia que todos nós recebemos em 2008: o DJ-KiCKS iria parar. FO-DEU. E parou mesmo, só que pra nossa alegria, essa pausa durou muito pouco, coisa de um ano. Em setembro de 2009, DJ-KiCKS estava de volta com a dupla que todos falavam. Funk, Boogie, Soul, Disco: Chromeo. 

E assim, essa volta do DJ-KiCKS foi com força, porque nos anos seguintes a série de mixes ganhou uma força descomunal e voltou a ser motivo de status para qualquer DJ na face da Terra. Mas agora é com vocês, o Mestre dos Magos aqui vai deixar os anos 2010 serem descobertos por vocês mesmos, afinal de contas, são os mixes mais recentes e mais fáceis de achar. 

A década de 2010 tem Kerri Chandler, tem Mr Scruff, tem Peggy Gou, tem Nina Kraviz, tem DJ Koze… Sério, a lista é gigante e vou deixar o nome de todos os setenta e dois volumes da série logo abaixo pra você, curioso como eu, pesquisar e ouvir um por um.

Um sonho? Lançar um mix pela DJ-KiCKS.

1- DJ-Kicks: C.J. Bolland | 1995
2- DJ-Kicks: Carl Craig | 1996
3- DJ-Kicks: Claude Young | 1996
4- DJ-Kicks: Kruder & Dorfmeiste | 1996
5- DJ-Kicks: Stacey Pullen | 1996
6- DJ-Kicks: Nicolette | 1997
7- DJ-Kicks: Rockers Hi-Fi (The Black Album) | 1997
8- DJ-Kicks: DJ Cam | 1997
9- DJ-Kicks: Terranova | 1998
10- DJ-Kicks: Smith & Mighty | 1998
11- DJ-Kicks: Andrea Parker | 1998
12- DJ-Kicks: Kemistry & Storm | 1999
13- DJ-Kicks: Thievery Corporation | 1999 
14- DJ-Kicks: Kid Loco | 1999
15- DJ-Kicks: Stereo MCs | 2000
16- DJ-Kicks: Nightmares on Wax | 2000
17- DJ-Kicks: Trüby Trio | 2001 
18- DJ-Kicks: Vikter Duplaix | 2002
19- DJ-Kicks: Playgroup | 2002
20- DJ-Kicks: Tiga | 2002
21- DJ-Kicks: Chicken Lips | 2003
22- DJ-Kicks: Erlend Øye | 2004
23- DJ-Kicks: Daddy G | 2004
24- DJ-Kicks: The Glimmers | 2005
25- DJ-Kicks: Annie | 2005
26- DJ-Kicks: Four Tet 2006
27- DJ-Kicks: Henrik Schwarz | 2006 
28- DJ-Kicks: Hot Chip | 2007
29- DJ-Kicks: Booka Shade |  2007 
30- DJ-Kicks: Chromeo | 2009
31- DJ-Kicks: Juan Maclean | 2010
32- DJ-Kicks: James Holden | 2010
33- DJ-Kicks: Kode9 | 2010
34- DJ-Kicks: Apparat | 2010
35- DJ-Kicks: Wolf + Lamb vs Soul Clap | 2011
36- DJ-Kicks: Motor City Drum Ensemble | 2011
37- DJ-Kicks: Scuba | 2011
38- DJ-Kicks: Gold Panda | 2011
39- DJ-Kicks: Photek | 2012
40- DJ-Kicks: Maya Jane Coles | 2012
41- DJ-Kicks: Digitalism | 2012
42- DJ-Kicks: Hercules and Love Affair |  2012
43- DJ-Kicks: Maceo Plex | 2013
44- DJ-Kicks: John Talabot |  2013
45- DJ-Kicks: Breach | 2013
46- DJ-Kicks: Brandt Brauer Frick – 2014
47- DJ-Kicks: Will Saul | 2014
48- DJ-Kicks: Nina Kraviz | 2015
49- DJ-Kicks: Actress | 2015
50- DJ-Kicks: DJ Koze | 2015
51- DJ-Kicks: Seth Troxler | 2015
52- DJ-Kicks: Moodymann | 2016
53- DJ-Kicks: Dâm-Funk | 2016 
54- DJ-Kicks: Jackmaster | 2016
55- DJ-Kicks: Marcel Dettmann | 2016
56- DJ-Kicks: Daniel Avery | 2016
57- DJ-Kicks: Matthew Dear | 2017
58- DJ-Kicks: Michael Mayer |  2017
59- DJ-Kicks: DJ Tennis | 2017
60- DJ-Kicks: Lone | 2017
61- DJ-Kicks: Kerri Chandler | 2017
62- DJ-Kicks: Deetron | 2018
63- DJ-Kicks: Forest Swords | 2018
64- DJ-Kicks: DJ Seinfeld | 2018
65- DJ-Kicks: Mount Kimbie | 2018
66- DJ-Kicks: Robert Hood | 2018
67- DJ-Kicks: Leon Vynehall | 2019
68- DJ-Kicks: Laurel Halo | 2019
69- DJ-Kicks: Peggy Gou | 2019
70- DJ-Kicks: Kamaal Williams | 2019
71- DJ-Kicks: Mr. Scruff | 2020
72- DJ-Kicks: Avalon Emerson | 2020

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