O universo dos equipamentos analógicos é como uma caixinha de surpresas. Fonte inesgotável de timbres, atmosferas, texturas e possibilidades sonoras que vibram através de uma estética ímpar, e claro, mais “viva”, já que a conexão física e direta com o artista traz assim, um diferencial único para o resultado. E é no mergulho apaixonado pelo oceano dos analógicos e modulares, que Eduardo Ramos a.k.a Pandit Pam Pam e Bruno Protti procuram trazer um painel sonoro que mistura a complexidade orgânica, a dinâmica de gravações ao vivo e a experimentação analógica, através da gravadora Boston Medical Group.
O catálogo da BMG teve sua primeira faixa em 2019, fruto de uma época em que Ramos e Protti sentiram que as produções locais estavam enfraquecidas, e procuravam por algo diferente tanto na cena, como também em suas próprias produções. “Foi uma época de transição para nós, bem como de transição de equipamentos. Começamos a nos interessar radicalmente por equipamentos analógicos, synths modulares e tocar mais “ao vivo” e gravar em fita (e ou apenas em stereo)” explica Eduardo.
O label então, se tornou um espaço para artistas que realmente colocam a “mão na massa”, com trabalhos que resultam de uma relação íntima do produtor com os instrumentos – sejam orgânicos ou sintetizadores -, deixando em segundo plano o modus operandi dos softwares digitais. “A questão do equipamento influenciou demais o Boston Medical Group. Não é nada ultra dogmático pois existem – poucas – faixas que são 100% Ableton, mas mesmo estas são altamente influenciadas pela maneira de trabalhar com o modular por exemplo.” completa Ramos.
Bruno Protti, um dos fundadores da Gop Tun e que assina por meio das alcunhas TYV, fériasdasférias e Vontades Aleatórias, é um artista que procura explorar ao máximo as possibilidades analógicas, sobretudo dos synths modulares. Desenvolvendo narrativas através de construções experimentais, que permitem a livre combinação de timbres e nitidez de texturas, Protti também utiliza dos métodos virtuais para operar a dinâmica com sintetizadores modulares. Seu álbum Os Grandes Sucessos, como fériasdasférias, lançado no último mês pela BMG, reflete bem esse viés livre de criação e ao mesmo tempo, a originalidade do sound design na construção dos timbres.
Com treze lançamentos até aqui, a Boston Medical Group já chancelou trabalhos de artistas como De Sena, Belagio, Ōe, Soruma FC, Raffaele Garofalo, Alkinora, TLQT, além do próprio Pandit Pam Pam. “O primeiro single do De Sena eu considero um clássico absoluto, em todos os quesitos (incluindo capa) acho que é um clássico baleárico nível Padila. O segundo single do Belagio, Mundo A Revelia é outro clássico baleárico (também incluindo capa). No caso do Marcus, e todos seus heterônimos, é absolutamente impossível escolher algo, até porque o corpo de trabalho dele é absolutamente insano. Então vou pegar um dos últimos: “Segundo Verão Da Tartaruga” com o heterônimo de TLQT que é uma viagem trip hop / warp / beach boys que resume muito a mentalidade do selo” define o label head.
A Boston Medical Group prefere não utilizar os meios de redes sociais para a divulgação de seu trabalho, apostando em um perfil mais low profile para sua dinâmica de vendas e discos. Entretanto, a gravadora adota o Bandcamp como plataforma principal para suas distribuições, e o Spotify como via de stream. Porém ainda neste ano, a BMG promete entrar com uma novidade: uma revista semestral com o objetivo de conectar o público, e até mesmo novos artistas, com os trabalhos do selo.
Se você procura por um tipo de sonoridade díspar, trabalhadas com uma estética vívida e majoritariamente analógica, certamente o experimentalismo intrigante da Boston Medical Group não pode passar despercebido em suas buscas!
A música conecta.