Um senso criativo capaz de romper fronteiras do óbvio, e inovar a cada lançamento, sem perder o poder da identidade. Ao analisar o perfil musical do californiano Gene On Earth, é exatamente essa a sensação que sua discografia nos transpassa: inovação, frescor e surpresa a cada detalhe. A caricatura de um mascote sagaz, com bigodinho e o cigarrinho na boca, traz um olhar como de quem sabe muito bem o que está fazendo. O cartoon, não poderia ser mais fiel ao próprio artista, com tal representação que vai muito além da similaridade de sua aparência. O mini Gene é ousado, criativo, experiente e provocativo, assim como seu correspondente humano Gene on Earth.

No comando da Limousine Dream há cinco anos, é por lá que Gene divide a genialidade do seu universo de experimentações com o público. Desde Lazybones, o primeiro EP da carreira do artista, e também da Limousine Dream, não restaram dúvidas de que combinar estéticas do Deep House, elementos minimalistas, detalhes de arranjo que podem soar “esquisitos” a primeira vista e a capacidade de imprimir grooves instigantes por meio de acordes e sub bass, são os peças que fazem da assinatura musical de Gene, um ponto fora da curva.
A pandemia, para muitos artistas, foi um período de recolhimento imersivo dentro de estúdio. Gene soube como aproveitar o momento off pista, para explorar ao máximo seus neurônios criativos. Isolado no litoral do Brasil, e dividindo-se geograficamente com o lockdown em Berlim, o produtor resolveu dar um passo além e brincar com as referências que até então, passavam tácitas em sua assinatura na prática. Combinando um pouco de Drum N Bass, linhas mais Soul do Deep House, um toque de Electro, groove de Funk, releituras contemporâneas do Old School, não foi difícil formar um caldeirão surpreendente ao unir todas essas referências, com sua marca registrada pautada na ousadia.
Foram cinco meses de trabalho árduo em estúdio, para que nascesse então, Time on The Vine, o segundo full-lenght da jornada de Gene On Earth. Com um foco que não é tão engessado na pista de dança – embora todas as faixas caibam muito bem em determinados momentos da noite – o álbum de nove faixas, vem com uma ótica divertida e como um alívio frente ao caos pandêmico em que foi elaborado.
O primeiro single do álbum, Pinseeker, lançado em março deste ano, já ditava o tom que iríamos encontrar no escopo central do disco, porém ainda sim, não imaginávamos que viriam surpresas ainda mais imprevisíveis da mente de Gene. A identidade central marcada por melodias minimalistas que já são familiares do artista, claramente é perceptível na essência de Time on The Vine, acrescida de um calor viajante, solar e alegre nas construções.
Porém, ao ouvirmos faixas como Chuggy Elements, Flux Deluxe, Studio Dobra e Aston Martinez a magia das referências de Gene dá as caras de uma maneira fascinante. Enquanto que as duas primeiras exploram diferentes ritmos de breaks, incluindo o flerte com o calor do DnB, Studio Dobra e Aston Martinez é o resultado das experimentações melódicas de Gene, que percorre uma narrativa sem se preocupar com o apelo de pista, passando por paisagens baleáricas e solares que, muito possivelmente, reflete de sua estadia no litoral do Brasil.
Time On The Vine, ao mesmo tempo que é diferente de tudo que vimos de Gene até aqui, é o reflexo de sua capacidade potencial, de converter fórmulas, subgêneros e ritmos em uma alquimia autêntica, e carrega de gene(alidade).
A música conecta.