Para além dos métodos utilizados por cada artista na hora de performar, há um elemento que é unânime quando o assunto é pesquisa musical: o repertório faz o artista — independente dele decidir enveredar pelos caminhos da produção musical ou não. A pesquisa musical conta uma história de vida, um estudo aprofundado sobre vertentes musicais independente do estilo de cada um.
Contar uma história elaborando um set não é tarefa fácil para muitos, por vezes o artista quer iniciar um storytelling que não se trata apenas da vibe, mas de um momento vivido por toda uma geração que pode condizer ao passado ou ao presente elucidando para uma esperança no futuro, trazendo calor, emoção e entendimento aos que escutam. Dentre homenagens à grandes nomes da música incluídos em sets que trazem um mergulho em estudo e técnica, podemos ter a certeza de que o artista traz consigo uma bagagem que vai para além da música e se comunica com os que compartilham um pouco do que é a experiência da vida humana, que se encarrega de criar a própria jornada. É a eterna observação da vida traduzida na música.
A vontade de dançar trouxe sons que dão ritmo à vida de Kaká Franco, que encontrou na batida perfeita a união entre alma e música. É dessa vontade genuína que ele traduz suas histórias em uma pesquisa musical vasta, começando em meados dos anos 90. Atraído por graves vigorosos e bumbos marcantes, que vinham sempre acompanhados por grooves cheios de suingue e melodias recheadas de harmonia, o artista deu as mãos com a House Music e não largou mais dedicando-se aos estudos e a pesquisa musical em busca por lançamentos e raridades do gênero.
Tendo como referência artistas como Frankie Knuckles, Derrick Carter, Joey Negro e Todd Terry, Kaká encontrou sua propria identidade e hoje é referência para muitos quando o assunto é pesquisa musical. Hoje o artista conta um pouco sobre a importância dos seus estudos na elaboração de seu repertório tão admirado por onde quer que vá.
Kaká Franco
Olá Alataj, pesquisa musical está muito ligada ao repertório. Gosto de dizer que uma das coisas mais importantes para se comunicar é vocabulário, se você quer falar uma nova língua com uma única palavra certa, você expressa sem precisar explicar. A pesquisa musical abre muitas possibilidades e as festas possuem suas particularidades, horários, line up, ou até mesmo um bate papo musical. Sua pesquisa e referências são seu maior conteúdo artístico, mesmo que sua apresentação seja um live com apenas produções próprias, algum sample, ou alguma inspiração musical você acaba utilizando no processo. Quando falamos de repertório musical, estamos resgatando a base estrutural do DJ, onde tudo começou, onde o discotecário trazia o inacessível.
A música é cíclica
Por incrível que pareça, nesses 20 anos de atividade tenho percebido a importância da ordem cronológica. Todos sabem que em alguns momentos algum gênero ou subgênero estará em maior evidência, mas como tudo parece ser cíclico através das releituras, podemos quase que prever o que vem por aí ou o que se conecta pra frente. Hoje vejo o Acid House já se conectando com o Electro House e Trance, um resgate dos anos 90 na Inglaterra.
Se joga!
Você já se deparou com aquele DJ que diz que não tem música para fazer warm up? Que oportunidade desperdiçada de pesquisa musical! E digo mais, perca o medo de deixar de lado um pouquinho a sua identidade de tocar músicas mais aceleradas e use a favor a sua pesquisa musical, sua identidade não será afetada, muito pelo contrário, só crescerá.
Existia um projeto da banda Soulwax, chamado 2manydjs, dois irmãos que resolveram se apresentar como DJs, um b2b de músicas eletrônicas clássicas e até mesmo outros gêneros, como rock, pop, etc.. Imagine ouvir uma mixagem de Chemical Brothers com Metallica, ou até mesmo The Clash com Chaka Khan, o repertório era a maior diversão, surpresa a cada virada. O storytelling é a grande sacada, a mesma música pode se tornar errada na hora indevida, mas também a maior alegria na hora certa.
Pesquisar tem que fazer parte do dia a dia
Pesquisar música tem que fazer parte do seu dia a dia e existem muitas formas de começar. Ouça seus DJs favoritos, procure as músicas que eles tocam, conheça esses labels, novos artistas e vá expandindo a sua busca. As lojas de discos são espetaculares, converse com os vendedores, eles te apresentarão músicas que você se surpreenderá.
Importante é que a pesquisa faça parte do seu dia, quanto mais música você ouvir, melhor. Escute também a mesma música várias vezes, isso te dará maior conhecimento sobre ela. A história, te dará uma boa base para entender o contexto, saber da importância dos movimentos te fará abrir sentido em muita música que parecia ser simples. Até para sua organização e classificação de música, no que diz respeito ao gênero ela pertence o movimento faz toda a diferença, pois se falo em Progressive House é natural que venha a sua cabeça nomes como Sasha e Digweed, ou quando falamos em Detroit Techno, voltaremos automaticamente a era da Underground Resistance.
Meu segredo
Compartilhando um pouquinho de como faço, eu estou sempre acompanhando os sites de vendas de música, youtube music é hoje meu melhor amigo. Playlists e playlists que fazem as minhas viagens de carro, se transforma em uma verdadeira pesquisa musical. É incrível que como em uma viagem de 5 horas, consigo buscar um novo set, esses momentos são cruciais para o repertório. A cada música que entra e que gosto, dou um print na tela do meu celular. Quando chego de viagem, a lista está pronta para ser procurada.
A música conecta.