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A música conecta

O que está acontecendo com a Life And Death?

Por Isabela Junqueira em Análise 13.11.2024

Another Earth (Tale Of Us), Atlant (Mind Against), Make It Good (seja a versão original do DJ Tennis ou os incríveis remixes por Larry Heard e Ryan Elliott), o remix do Âme para Turn Around do Sailor & I, e por aí vai… o que todas essas faixas têm em comum? A Life and Death. Prestes a completar 14 anos de atividade neste mês de novembro, o selo fundado por DJ Tennis nasceu deixando claro, em suas próprias palavras, o conceito por trás da marca: “house lento, profundo e psicodélico e sons da disco alucinantes. Sombrio e descolado ao mesmo tempo. Pequenos pedaços de atitude post-rock combinados com faixas de dança sexy e comoventes. Humor negro e extrema elegância”, anunciava a label no seu primeiro release, Disco Gnome, do Thugfucker.

Com todos os ingredientes possíveis para o sucesso, a LAD nasceu, cresceu, de fato sucedeu e foi além — revelou talentos basilares e deu ignição a um dos movimentos mais astronômicos que partiram da música eletrônica alternativa: o techno melódico. E aliás não só isso. A Life and Death introduziu uma lista parruda de faixas conceituais, mas também nos proporcionou colaborações que hoje nem seríamos capazes de imaginar, como Seth Troxler e Tale Of Us em um edit para WhoMadeWho, em Every Minute Alone

No entanto, recentemente, temos testemunhamos uma mudança notável e radical na direção musical, levantando sobrancelhas e questões sobre o que realmente está acontecendo. Essa nova direção, menos associada às raízes melódicas e psicodélicas do selo, parece indicar um desejo de se distanciar daquilo que indiscutivelmente se tornou um mercado inundado. A saturação do techno melódico é palpável; muitos artistas e selos saltaram neste trem, criando uma paisagem sonora homogênea e previsível. Em resposta, a Life and Death, que já vinha navegando por outros mares, agora parece estar desbravando territórios menos explorados, potencialmente numa tentativa de redefinir seu espaço e se diferenciar dentro do panorama global da música eletrônica.

Esta alteração não ocorre sem suas repercussões, claro. Para os que acompanham a LAD de longa data, isso pode ser visto como uma ruptura com aquilo que foi um grande ponto de destaque inicial da gravadora — o som enigmático e provocativo. A mudança cria uma desordem tangível dentro do nicho do techno melódico, que considerava a Life and Death uma âncora confiável de qualidade e inovação dentro de parâmetros conhecidos, mas até aí é compreensível a busca por novos ares. Contudo, isso tem gerado uma sensação de descolamento no nicho, como se a gravadora estivesse se afastando da sua própria essência, em busca de uma reinvenção que ainda está se revelando.

A questão provocativa aqui não é a mudança em si — afinal a evolução é essencial em qualquer forma de arte e jamais seria diferente na música eletrônica —, mas sim como essa mudança parece ignorar parte do charme que a distinguiu e a elevou a um status de reverência. O desafio está em encontrar um novo equilíbrio que não sacrifique a identidade pela novidade. Existe um risco real de perder o fio da originalidade que forneceu à gravadora seu caráter único.

Pessoalmente, eu acredito que essa transição oferece uma oportunidade para refletir sobre a natureza volátil da música eletrônica e a luta eterna entre inovação e tradição. A Life and Death está claramente em um momento de transformação, e como qualquer organismo vivo, está reagindo ao ambiente ao seu redor — não é sobre a mudança em si, mas sobre como ela é gerida e integrada à identidade que todos reconhecem e apreciam.

A esperança é que, ao explorar novas direções, a Life And Death consiga não apenas surpreender e desafiar seus ouvintes, mas também manter a qualidade e a essência que a transformaram em um ícone ao explorar com distinção as linhas melódicas. Afinal, a beleza da música eletrônica reside também na sua capacidade de desafiar expectativas enquanto se mantém fiel a uma visão singular e, sobretudo, coerente, não é mesmo?

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