Skip to content
A música conecta

Em novo álbum, BLANCAh vai de encontro ao seu lado mais humano

Por Elena Beatriz em Xpress 09.06.2025

No dia 06 de junho, a DJ e produtora musical BLANCAh apresentou seu novo álbum de estúdio, Music For When The World Is Silent. Com uma sequência de 12 faixas, que incluem momentos de ápice e contemplação, do Ambient à estética cyberpunk, o disco propõe uma experiência que se desenrola como uma narrativa contínua, onde o início e o fim se complementam para formar um ciclo de introspecção e redescoberta. Este é o terceiro álbum de BLANCAh em dez anos. O lançamento, feito pela HIATO, simboliza um novo ciclo artístico na carreira da produtora catarinense e sucede o debut do projeto HARPIA no Lollapalooza 2025, reafirmando sua magnitude na constante ampliação da arte.

É válido ressaltar que a criação de um álbum tão sólido e coeso exige paciência, entrega e uma visão minuciosa sobre aquilo que deseja ser comunicado, o que vai na contramão da lógica de mercado nos tempos atuais, que tende a impulsionar criações cada vez mais vagas, rápidas e descartáveis. O álbum nasceu exatamente como resposta a esse sistema e, acima de tudo, como um reencontro com a própria capacidade criativa.

Music For When The World Is Silent se consolida como um relato da jornada pessoal da artista, que transformou momentos de inquietude e auto análise em uma construção musical que reflete o confronto com seus próprios anseios e esperanças, em relação à busca coletiva para se encaixar em uma realidade tão frenética que acaba nos deixando reféns das nossas próprias demandas. Ele nasceu de um momento de ruptura interna. Ao falar sobre o momento que antecedeu o desenvolvimento do projeto, BLANCAh revelou que se viu imersa em uma sensação de afogamento criativo, que veio de uma sensação de deslocamento e impotência perante as exigências realizadas pela indústria nos tempos atuais, em que a arte existe para ser comercializada, não para ser sentida. 

“Fiz o que nunca tinha feito em 20 anos de carreira: me comparar incessantemente com os outros e, ao me comparar, eu perdia. Quanto mais eu trabalhava para tentar enquadrar meu som em uma gravadora, para cair no gosto de algum artista, para pertencer a um determinado estilo e seguir padrões, mais eu me entregava às armadilhas perigosas da minha própria mente”. Essa fala é muito potente e levanta um sinal de alerta: se uma artista tão consolidada como BLANCAh está suscetível à pressão da padronização para que haja reconhecimento, o que isso diz sobre o espaço real para a liberdade criativa na indústria?

Essa contradição não é novidade, mas parece ter se intensificado à medida que a lógica das redes e dos streamings passou a ditar o que vale ou não ser ouvido. A fala de BLANCAh não é só um desabafo pessoal, é um retrato do desgaste que se impõe a quem escolhe produzir com autenticidade e profundidade em um cenário que valoriza o imediatismo. 

O silêncio que dá nome ao álbum é uma forma de atenuar o ruído externo e voltar a compor para si mesma. BLANCAh inaugura um movimento de retorno à origem, que relembra o porquê de fazer música, rompendo com o ciclo da validação externa que muitas vezes aprisiona a potência criativa. E o posicionamento da artista sobre o seu desenvolvimento, embora na contramão da quietude, é o que mais humaniza esse novo projeto.

A faixa-título, por exemplo, traz uma composição contemplativa e calma, que sugere a cena de um personagem descobrindo um novo caminho, um novo mundo, em um momento de transformação e introspecção. Conforme o disco avança, a narrativa se revela em diferentes camadas, como em Out Of The Dark, faixa que mistura um tom cyberpunk com uma atmosfera futurista e um vocal que mescla o humano e o eletrônico, uma referência distópica à nossa própria e intensa realidade. Já Beneath The Ground, track que encerra o álbum, retoma a sensação de mistério do início, mas carregando uma atmosfera mais densa, com elementos sonoros fragmentados, como se estivessem buscando seu lugar em um universo em constante mutação. A densidade emocional da composição parece guiar o ouvinte por um território desconhecido, profundo e cósmico. É um final que não oferece resolução, mas sim abertura. Ao invés de fechar um ciclo, a faixa aponta para outras possibilidades de uma mesma jornada. 

Fato é que neste novo álbum, a artista nos convida a não refrear o que é humano. BLANCAh expõe esse sentir, mostrando que é no confronto com as próprias imperfeições que se revela a força da autenticidade. A sensação de deslocamento, na verdade, pode ser o ponto de partida. Esse percurso é um lembrete de que a verdadeira conexão se revela quando se aceita a própria singularidade.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025