Steffen Berkhahn cresceu em Berlim respirando Techno e Drum’n’bass, mas foi somente quando adotou o nome Dixon que encontrou a verdadeira identidade artística. Mais de duas décadas depois, ele se tornou uma das figuras mais influentes da música eletrônica global. Eleito DJ número 1 do mundo pela Resident Advisor por quatro anos consecutivos (2013-2016), Dixon transcendeu o papel tradicional do artista eletrônico. Co-fundador da lendária Innervisions e criador de experiências que misturam música, arte e tecnologia, ele continua influenciando o presente e o futuro da cultura clubber.
Dixon se mostrou um artista capaz de se reinventar a todo momento. Dos clubs underground de Berlim aos palcos dos maiores festivais, ele construiu um império criativo que vai muito além da música. Sua influência se estende da moda à tecnologia, sempre mantendo a música como centro gravitacional de tudo.
Este é o Raio X do Alataj.
Das raízes underground à revolução melódica
Dixon começou sua jornada nas cenas underground de Berlim nos anos 90, tocando techno e drum’n’bass antes de encontrar sua vocação no house e suas vertentes mais emotivas. Essa formação eclética moldou sua abordagem: ele nunca se limitou a um gênero, mas sempre soube extrair o DNA emocional de cada estilo.
O ponto de virada veio com a co-fundação da Innervisions em 2005, ao lado de Kristian Rädle e Frank Wiedemann (Âme). Inspirada no álbum de Stevie Wonder, a gravadora redefiniu a sofisticação na pista de dança, priorizando faixas com narrativas ricas e profundidade emocional. A Innervisions se tornou uma potência mundial, influenciando uma geração inteira de artistas e gravadoras.
Curadoria em sua máxima
O principal diferencial de Dixon não é apenas a técnica, mas sua capacidade de curadoria e de contar histórias através da música. Seus sets são repletos de faixas inéditas, unreleaseds da Innervisions e, crucialmente, edits que ele mesmo produz. Essa combinação faz com que seja praticamente impossível “copiar” o que Dixon faz em cima do palco.
Ele brilha em longs sets, onde pode construir uma narrativa completa, introduzindo elementos de uma faixa no início para retomá-los mais tarde. Sua seleção musical é descrita por ele mesmo como uma representação altamente subjetiva — e é exatamente essa subjetividade que cria a conexão emocional única com o público.
Evolução constante e recusa às tendências
Após ter papel decisivo no processo de popularização do Melodic House no início dos anos 2010, Dixon fez algo surpreendente: renegou a ascensão do gênero ao mainstream e se aprofundou em uma sonoridade mais conceitual e complexa. Sua música atual é caracterizada por elementos experimentais, vocais robóticos, baterias quebradas e atmosferas mais densas.
“É difícil encontrar o caminho de volta para algo que você aperfeiçoou no passado”, explica Dixon sobre sua evolução. Essa recusa em se acomodar no sucesso é o que mantém sua relevância. Ele sempre se sentiu um “desajustado”, transitando entre cenas sem pertencer totalmente a nenhuma — e transformou essa característica em sua maior força. “A mixagem perfeita é absolutamente o básico. O mais importante é a seleção musical, que deve ser uma representação altamente subjetiva” — Dixon
Visionário além da música
Dixon transcende a figura do DJ ao integrar sua visão artística em moda, tecnologia e experiências imersivas. Em 2017, co-fundou a marca de roupas Together We Dance Alone e, em 2019, lançou a Transmoderna, uma plataforma que mescla música, arte, tecnologia e cultura clubber em experiências físicas e digitais.
Sua aparição no game Grand Theft Auto V como DJ virtual e seus eventos com a série Lost In A Moment — realizados em locais inusitados para focar na experiência do público — demonstram sua visão 360° da cultura clubber. Para Dixon, uma festa perfeita vai além da música, envolvendo ambiente, pessoas e a capacidade de “se perder em um momento”.
Dixon no Brasil
Ao longo dos últimos 10 anos Dixon cultivou uma relação de verdadeira conexão e paixão com as pistas daqui. São diversos sets épicos, memórias, músicas inesquecíveis e a conquista de um lugar especial no imaginário coletivo do clubber brasileiro. Se por um lado é certo que não há unanimidades na música, por outro não é exagero dizer que Dixon costuma flertar com este conceito, sendo amplamente respeitado pela crítica, ao mesmo tempo que consegue dialogar com grandes massas com um som que não faz concessões para ser mais comercial.
Em mais uma importante passagem pelo Brasil, Dixon se apresenta dia 17 de outubro no Surreal Park, em uma noite exclusiva no Nomad, ao lado de Trikk, fazendo sua terceira aparição no club catarinense. Além da performance solo, fará ainda um b2b com Trikk a partir das 5h. No dia seguinte lidera a festa de 20 anos da Innervisions em São Paulo, que acontece no Vale do Anhangabaú.
São duas oportunidades de presenciar diferentes facetas do artista: primeiro, em um ambiente mais intimista no Nomad, onde sua capacidade de construir narrativas longas pode brilhar; depois, celebrando duas décadas de sua gravadora, festa que promete ser histórica por reunir o catálogo que moldou uma geração inteira de produtores e DJs.
A trajetória de Dixon é um lembrete de que a verdadeira inovação vem da coragem de evoluir constantemente. Em mais de duas décadas de carreira, ele sempre preferiu explorar novos territórios sonoros e conceituais, saindo da própria zona de conforto. Provou que é possível ser comercialmente bem-sucedido mantendo a integridade artística — e que o futuro da cultura clubber está nas mãos daqueles que ousam pensar além do óbvio.