A dança é reconhecida globalmente, desde a história antiga, como uma ferramenta essencial para lidar com o estresse. Ela se distingue de outras atividades físicas por envolver o corpo, a emoção e a mente simultaneamente, todos mediados por um elemento cultural. Como uma experiência multissensorial, que geralmente inclui visão, som, tato e sensação cinestésica, a dança é considerada uma forma mais completa de auto expressão do que a fala ou a escrita.
Além disso, o processo complexo de movimento, ritmo e música envolve o uso simultâneo dos lados direito e esquerdo do cérebro. Estudos indicam que a prática regular da dança pode funcionar como um hábito de saúde preventiva, condicionando o indivíduo a moderar, eliminar ou evitar a tensão, a fadiga crônica e outras condições incapacitantes resultantes do estresse.
O potencial curativo da dança reside na sua capacidade de proporcionar ao indivíduo um senso de controle em relação ao estresse e à dor. Esse controle pode ser obtido de pelo menos quatro maneiras: [1] posse espiritual manifestada na dança (em contextos culturais específicos), [2] domínio do movimento (aumentando a autoconsciência e a autoimagem positiva), [3] escape ou desvio do estresse e da dor através de mudanças no estado emocional e de consciência, e [4] confronto de fatores estressores (trabalhando-os através da representação em movimento). A dança também facilita a liberação de endorfina, produzindo algum nível de analgesia e euforia, e quando praticada regularmente, a melhora do condicionamento muscular, flexibilidade, coordenação e equilíbrio.
No campo da reabilitação, a dança-terapia tem sido usada com sucesso como uma intervenção primária ou componente integral de programas de tratamento. O foco não é seguir uma técnica de dança padronizada, mas sim utilizar intervenções de movimento e verbais que reconhecem a fusão da mente e do corpo. Este método terapêutico permite ao paciente experimentar temas, intensificar ou liberar sentimentos e usar o movimento não verbal como forma de revelar o estado mental e emocional e o leque de comportamentos adaptativos.
Um exemplo notável da aplicação clínica da dança-terapia é o trabalho relatado por Berrol (1990) com pacientes que sofreram lesão cerebral. O principal objetivo era auxiliar o paciente a superar o sentimento de desamparo e medo frequentemente associado à condição médica. A dança foi empregada para permitir a deambulação e para aprimorar a capacidade de realizar tarefas motoras com um repertório ampliado de movimento.
Os resultados focaram na melhoria da postura, equilíbrio, marcha e coordenação motora grossa. Além disso, a terapia visou intensificar a consciência proprioceptiva do paciente e aprimorar a imagem corporal. Em essência, a dança forneceu uma via para os pacientes não apenas recuperarem funções físicas essenciais, mas também ganharem um senso de controle sobre seus corpos e ações, fundamentais no processo de cura.