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A música conecta

A histórica passagem de Ricardo Villalobos pelo Brasil em 2011

Por Laura Marcon em Editorial 23.10.2020

Não sei você, mas eu sou aquela pessoa que guarda muitas festas na memória com tamanha nitidez em minha mente que consigo lembrar o flyer do evento (quanto eles existiam), a sequência de funções que fiz na festa até chegar à pista, o lugar onde me instalei, momentos emblemáticos, quem estava junto comigo e, juro, eu lembro até mesmo do ano, mês e algumas datas bem precisas dos eventos. Digo isso porque essa noite/dia em especial a qual irei discorrer nos próximos parágrafos está entre as noites mais peculiares que já vivi nesses anos de colaboradora assídua da pista de dança.

E se tem uma palavrinha que pode definir realmente o que foi vivido ali é PECULIAR, mas para que você possa entender o porquê vamos aos fatos: Era janeiro de 2011 e, como todos já sabiam naquela época, o Warung Beach Club vinha sondando e buscando uma apresentação do polêmico, porém aclamado, Ricardo Villalobos há algum tempo. Naquele verão as informações vinham de que as chances eram grandes, mas a programação foi divulgada e sua presença não estava confirmada. Eis que, peculiarmente ao que geralmente acontece no Warung, Ricardo foi anunciado para uma noite que aconteceria em duas semanas, no dia 28 de janeiro. 

O público que esperava por esse momento ficou atônito e, como não poderia ser diferente, os ingressos bombaram para mais uma noite que prometia ser histórica no templo. Na pista principal teríamos Ricardo Villalobos, Robert Babicz, o venezuelano Argenis Britto e a residente à época Aninha abrindo os trabalhos. Já no Garden a noite era comandada pela turma do 128 bpm e os convidados eram Renato Ratier, Dubshape e Leo Janeiro. Assim como a maioria dos amantes da música eletrônica, também fiquei altamente empolgada e curiosa para estar lá e, conversa com um amigo daqui, outra dali, tudo estava pronto para mais um Warungão daqueles.

Chegado o dia, o litoral catarinense vivia o que foi um dos dias mais quentes do ano, mas nem o clima desconfortável (de verdade) era capaz de diminuir as grandes expectativas para aquela noite. As atividades do club iniciaram às 21:30 na pista principal com Aninha e eu fui literalmente a primeira pessoa a estar na pista, juro por tudo. A catarinense como sempre trouxe um warm-up de extrema elegância e alto nível enquanto amigos, conhecidos e o público iam se fazendo confortáveis no longo corredor de madeira. Entra Argenis Britto na cabine principal e iniciam-se as batidas no Garden e, até então, aparentemente tudo correndo normalmente. Lembro-me de presenciar um ótimo set do projeto Dubshape, que era comandado por Ale Reis e João Lee, enquanto Robert Babicz apresentava seu live act, que inicialmente tinha a duração de 02 horas.

Eis que em uma roda com amigos surge a notícia de que Ricardo Villalobos não havia chegado em Itajaí – e pasme, nem no Brasil ainda – e que as chances dele não se apresentar naquela noite eram grandes, mas que o club não estava medindo esforços para fazer com que a apresentação acontecesse. Como qualquer outro fato “pe cu li ar” como este, não demorou muito para que ele se transformasse nO assunto da noite. E aí, será que chega à tempo? O que será que aconteceu? Seu set estava previsto para iniciar às 03 horas da manhã e quando a notícia começou a correr já dava pra saber que haveria um grande atraso.

Chegada a hora do chileno e com sua ausência, Robert Babicz continuou a apresentação, mas não por muito tempo, já que o formato live não lhe permitia estender. Aí aconteceu mais uma peculiaridade da qual me lembro muito bem: passadas 04 horas da manhã, Aninha assume o pistão mais uma vez e segura o público de uma forma belíssima até a chegada de Ricardo Villalobos porque sim, ele apareceu! Por volta das 6h30 da manhã, em um estado de lucidez um pouco duvidoso (nada fora do normal), ele aparece na cabine para uma pista de dança consideravelmente reduzida, já que muitos acreditavam que ele não viria mais e o sol já dava suas caras, dando o horário de partida para muitos. 

Com uma intro demorada, como num grande break, Villalobos começa o seu set e a partir de então levou ao público uma enxurrada de referências musicais em uma construção dançante e sempre tendendo às suas raízes latinas. O long set se estendeu até o meio dia, mais ou menos e, não satisfeito, ele desceu para um segundo round na pista do Garden, onde tocou por até umas 15:00 horas. “bons tempos em que o Warung ficava aberto até altas horas da tarde”, dirão os saudosistas. Neste caso esse fator foi crucial para que tudo isso acontecesse, mas não dá pra negar que mesmo no início da apresentação Ricardo pegou uma pista já cansada de uma noite de dança e também de espera.

Como tudo o que norteia a carreira de Ricardo Villalobos, sua apresentação musical dividiu opiniões: houve quem achou digna de um gênio, teve quem achou ela esquisita e morna. Assim também foram as opiniões sobre sua performance PECULIAR (olha quem apareceu de novo), que causou um certo desconforto em alguns mas fez a festa de outros. Não consegui ficar até os últimos minutos da apresentação, mas confesso que eu era uma das pessoas que já estava bem cansada quando ele entrou na cabine – já que, lembrem-se, fui a primeira a entrar na pista. É claro que isso não abonou minhas impressões quanto a competência do artista enquanto grande seletor musical, capaz de fazer construções de set realmente impressionantes, mas infelizmente eu já não estava com aquela energia para curtir apropriadamente.

Depois rolou aquele diz que me diz sobre o que aconteceu. Teve quem disse que ele quis trocar o vôo internacional e aí rolou uma baita confusão com o novo horário, teve quem disse que o artista “se perdeu” e o vôo se foi também, as histórias foram algumas e eu sinceramente não sei até hoje o que é real ou não. O que não se pode deixar de destacar e enaltecer foi o trabalho desenvolvido pelo club para que a gig acontecesse. Remarcação de vôo, escala nacional, transporte terrestre, tudo foi feito para que ele estivesse no Warung e assim foi. A verdade é que essa noite deu o que falar por vários motivos, tanto é que se torna agora um editorial sobre.

Tá aí. Nem sempre uma festa histórica é marcada por conta de uma sequência de sets memoráveis e um andamento mais do que perfeito do evento, não é mesmo? Mas sem sombra de dúvidas eu adorei a noite e lembro dela com muito carinho. No fim,  Ricardo Villalobos e a palavra P E C U L I A R caminham juntos e a gente teve uma provinha disso. Termino este editorial mandando aquele beijo saudosista aos meus amigos João Anzolin, Aninha, Antonio Neto, Leo Janeiro e outras figuras que dividiram comigo aqueles momentos. Quando é a próxima?

A música conecta.

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