Skip to content
A música conecta

Editorial | O que há de melhor e pior em Ibiza?

Antes de começar, repita o mantra que assina o subtítulo comigo!

Sim, vamos falar de Ibiza, Eivissa, la Isla Blanca, um dos pontos magnéticos da Terra e um dos berços da música eletrônica. Localizada no Mar Mediterrâneo, a ilha pertencente à Espanha, tem um passado conturbado sobre domínio de terras, invasões, vandalismos e um bocado de treta. Não é de se estranhar, afinal, aquilo é o paraíso e todo mundo queria um pedacinho para chamar de seu. Mas, como não precisamos cavar tanto, adiantarei a história para chegar em um ponto que marca a convergência de um dos locais mais belos do mundo com a música eletrônica. A herança sobre o estilo de vida que se leva ali se deu nos anos 60, época em que hippies passavam férias ou moravam lá. As festas seguiam a tendência da época: psicodelia, muita liberdade e libertinagem. Sabe aquele velho dito popular sobre três pilares do caos? Sexo, Drogas e Rock n’ Roll? Então, a turma Flower Power só trocou o último por algo mais rítmico e alucinante.

Isso se prolongou até os anos 80 com as devidas evoluções, mas como sabem, a famigerada década causou um efeito ‘metamorfose’ no mundo. Foi nessa virada de chave que Ibiza passou a absorver mais a Dance Music e clubs começaram a crescer e evoluir, bem como o lifestyle que amamos e carinhosamente chamamos de clubber. Eu estava nascendo quando o lendário Space começava a escrever sua história, que mais tarde viria a se transformar em um legado global.

O Café Del Mar nascia nessa década com a promessa de ser um santuário para os clubbers. Você festaria noite adentro, dormiria pela manhã e à tarde poderia relaxar em um local agradável com sonoridades ambientais e sublimes – mas, ainda assim, eletrônicas – e que te preparariam para o próximo round. E voilà: um conceito surgiu. Beach clubs foram fundados, hotéis temáticos, restaurantes, bares, mansões e muitos clubs escolheriam a ilha para fazer morada a partir desse marco, transformando o território em um lar espiritual da Dance Music. Não basta tocar o som que curtimos, existe algo místico, misterioso e tudo isso é levado bem a sério pelos residentes.

Hoje vamos olhar para os dois lados da moeda: o que Ibiza tem de melhor e o que tem de pior? Já tive algumas experiências lá e contarei minhas percepções, que podem ser distintas de quem lê. Uma única ressalva: levem em consideração que o mundo mudou, logo, algumas coisas por lá podem ter mudado também.

Acessível para chegar, não para ficar

Ponto positivo e negativo. Se você está pela Europa, é possível dar um pulo lá na boa, os voos da Ryanair, Easyjet e Vueling são acessíveis, com bilhetes que não chegam a 15 euros, se comprados com antecedência. Porém, ao chegar lá prepare o bolso porque a brincadeira é salgada. Vou discorrer mais sobre isso.

Praias paradisíacas

Não é segredo, basta “dar um Google” e cair para trás. O Mar Mediterrâneo tem a magia das águas cristalinas em high definition. Uma experiência surreal de praias sequenciais impactantes. Muitas delas são praias virgens, com rochedos, relevo irregular e vegetação intacta, parecem ter sido feitas à mão. São mais de 60 praias em sua extensão de 120km. Deixo aqui alguns nomes imperdíveis: Cala Salada, Saladeta, Punta Galera, Benirras, Cala den Serra, Cala Sa Caleta, Cala Baja, Cala Conta, Cala d’Hort, Cala Lenya, Cala Jondal, Cala Es Cavallet, Cala Portinatx. Todos paraísos reais oficiais e, acredite se quiser, tem muito mais. E uma vez em lá, não deixe de pegar a balsa e ir para Formentera, outro paraíso inacreditável. 

Es Vedrà

A famosa pedra que tem toda a pinta de radar alienígena – eu acredito. 

Muitas lendas rolam sobre embarcações desaparecidas e naves espaciais. Existem diversos mirantes para curtir o visual impactante e é definitivamente um ponto muito bom de Ibiza. 

Vida Noturna

Novamente, sem grandes segredos aqui. Se DJs fizessem parte de um álbum de figurinha a ser completado a cada festa que você fosse, em uma semana lá você conseguiria as douradas, aquelas mais raras. Conte comigo: DC-10, Amnesia, Pacha, HÏ, Ushuaia, Eden, Privilege, Destino e festas como Circoloco, Paradise, Ants, Cocoon, Afterlife, Elrow, Glitterbox, Music ON, Defected, Solomun+1, Rumours. Isso sem falar em clubs e festas que já encerraram sua jornada lá, como a Space e a Enter. Deixei várias de fora, mas a conta é grande. Quem quiser ter uma experiência mais insana pode buscar as festas tradicionais também. Por enquanto, zero chances, porque a premissa de tudo isso é aglomerar.

Disco Bus

Esse talvez seja um dos pontos mais legais e conscientes que vivenciei lá. Existem ônibus temáticos que transportam os clubbers doidinhos das festas para outras festas, pontos centrais e principais hotéis. E pasmem: o rolê é de graça, você pode dar uma contribuição, se quiser. Tudo para você não cometer a besteira de dirigir sob o efeito de substâncias – o que vai de encontro ao próximo ponto.

Blitz

Imagine o núcleo de Terra de festas acontecendo a todo vapor e boa parte dos turistas podendo dirigir livremente alcoolizados e/ou drogados? Não dá, party people! Por isso, na alta temporada, a polícia faz uma marcação cerrada com blitz constantes. E definitivamente, se o foco é botar ordem, evitar acidentes e salvar vidas, então indiscutivelmente é um ponto alto.

Você precisa alugar um carro

Ponto que entra em conflito com o anterior. Na verdade, para muitos pode ser um ponto neutro, mas não há estrutura para o “boom de gente” que rola na alta temporada. Tem táxi, tem ônibus e tem uber, mas nos horários de pico as coisas ficam caras e disputadas e, em algumas praias escondidas, o celular não vai funcionar. Aliás, na ponta do lápis, acaba compensando mais pegar o carro para poder curtir as praias mais livremente, mas deixá-lo estacionado na parte da noite.

E por falar em boom de gente…

Superlotação dos clubs

Fato que ainda assombra a vida dos dançarinos que gostam de espaço para seus passos. Infelizmente, os clubs ficam – me permitam dizer – socados de gente, principalmente entre julho e setembro. Se você dormir no ponto, também vai se lascar com as filas. O que piora a situação é que o clima é super quente no verão, então, esteja ciente que você vai suar o bigode ao sair de casa, vai derreter nas festas (hidrate-se muito) e vai dançar colado no coleguinha. Torcer para que no mundo pós-pandemia esse ponto seja revisto.

Fanfarrice

Sim, amamos uma baguncinha, mas convenhamos, existe gente que perde a elegância, muitas vezes por falta de conhecimento de causa. Ibiza é um lugar para férias de gente do mundo inteiro e de gente bem jovem também, que sabe que lá tudo é possível. O que acontece? Muita gente em estados bizarros, principalmente nas festas mais comerciais. Esse é um ponto que me incomoda, talvez não te incomode. Mas você há de concordar que é “bad vibes” ver gente caída pelos cantos, passando mal e desnorteada porque errou a mão…

Tráfico de drogas

Quem já foi pra lá sabe o quão fácil é para conseguir entorpecentes. Lindo poder comprar tudo lá, sem se preocupar com aeroportos, mas o problema começa quando você avalia que as pessoas envolvidas com isso na linha de frente são pretas, imigrantes ou refugiadas. Um ponto bastante problemático. Outra questão: vai comprar drogas recreativas sem saber a procedência. Às vezes, você só vai comprar algo muito falso mesmo que nem fará cócegas. Ponto dual e reflexivo.

Prostituição

Outro tópico muito sensível. Ibiza tem um lifestyle sexual famoso. Até aí, tudo bem, cada um se diverte livremente, desde que não compactue com condutas criminosas. O que acontece é que muitas mulheres acabam caindo em propostas sedutoras para sobreviver. Não são poucas as denúncias e problemas em relação a isso atreladas à violência, abuso e feminicídio. Já rodaram algumas notícias pelo mundo sobre  tráfico de mulheres indianas, orientais e de outras etnias, só para atender desejos de gente muito sick que quer essa diversão a todo custo. Eu nem vou entrar no mérito do submundo, já tem série no Netflix sobre isso.

Sazonalidade e preços

Dois pontos negativos. A parte ativa do turismo acontece de junho a outubro, mais ou menos. Antes e depois as coisas são diferentes. Clubs fechados, praias só para curtir fora da água. Algumas festas até operam vez ou outra na baixa temporada, mas o cenário é outro e faz frio. E como o comércio e turismo precisam lucrar ao máximo nos meses ativos, os preços são salgados. Desde hospedagem, transporte, alimentação, enfim, é bom se planejar e ler bastante. Airbnb, carros mais simples, cozinhar em casa, levar cooler para a praia podem reduzir consideravelmente o custo.

Beach clubs e bares

Ponto alto porque não somos só noturnos, as festas diurnas são maravilhosas. Você pode encontrar espaços famosos e bombados como o Café Mambo ou um festão sunset no Hotel Destino, ou ainda encontrar coisas mais sofisticadas como o Cala Baja Beach Club e o Sunset Asharam. Imagine você curtindo um som enquanto faz uma massagem vendo a praia ou tomando um Cosmopolitan enquanto aprecia uma vista surreal. Nada mal. pena que com o euro no atual preço, só sonhando mesmo [risos nervosos].

LGBTQIA+ e liberdade de expressão

Ibiza é LQBTQIA+! E por sua herança hippie, a liberdade de expressão e ser quem você quer ser é algo valorizado lá. Não vou dizer que é um mundo ideal, primeiro porque não é meu lugar de fala e segundo porque existem problemas como em qualquer outro lugar. O nome histórico de Ilha Branca até mesmo me incomoda, porque lá há sim, uma predominância caucasiana. Mas, em minhas passagens vivenciei momentos muito felizes vendo como a liberdade e o respeito são pilares fortes de lá. 

Old Town Dalt Vila e o centrinho

Toda região praiana que se preze tem um centrinho fofo e badalado, que é ponto de encontro da galera. Em se tratando de Ibiza, o tal centrinho vira Patrimônio Mundial da Unesco, tá bom assim? É um lugar lindo, cheio de história, lojinhas charmosas, bares e restaurantes. Você pode saber mais aqui.

Enfim, é nostálgico revisitar tantas boas lembranças. Há muitos outros pontos positivos a serem enaltecidos aqui: a culinária, os esportes aquáticos, os mistérios sobre Es Vedrá, os festivais de primavera, o Hippy Market, pequenos restaurantes escondidos com um custo- benefício ótimo e por aí vai. Além disso, tem toda uma sensação de pertencimento quando você anda pelas ruas e em todos os lugares a Dance Music pinta o pano de fundo. A Ilha é tão eletrônica que até existe uma ramificação chamada Balearic Beat para designar os sons que remetem à ela. Noites memoráveis, sets e b2b inacreditáveis são entregues pelos grandes nomes e talentos locais, parece um sonho. Mas como tudo, há dualidades. 

E para fechar com chave de ouro, uma informação que deixo a seu critério sobre ser um ponto positivo ou não

Pasmem: Todas as praias são de nudismo. Sim, é verdade.

Além do topless, se você quiser sentir um vento bater diferente, lá você pode. A prática não é tão comum nas praias centrais, nem mesmo obrigatória nas mais escondidas. Fique livre para escolher. Vai na fé, eu assino embaixo [risos, risos, risos]. 

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024