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A música conecta

Por que Daft Punk não se tornou um projeto de múltiplas turnês em estádios lotados?

Por Ágatha Prado em Editorial 02.10.2020

De uma tecnologia futurista por trás de capacetes de robô para uma reinvenção permanente e revolucionária. O Daft Punk sem dúvidas é o maior responsável para a globalização da Dance Music, sendo considerados uma das maiores influências da indústria fonográfica atual. Quem iria dizer que o Techno, o House e o Electro poderiam sair da bolha das raves e alcançar a popularização entre as multidões de todas as esferas? Pois foi através de quatro álbuns que a dupla atingiu um sucesso magnificente, seja através de Homework, o divisor de águas da década de 90, ou de Random Access Memories, que atingiu o topo das paradas da Billboard. Daft Punk conquistava seu público através de suas inimagináveis inovações e misturas sonoras e, sobretudo, com seu envolvente e estranho magnetismo oculto.

Em meio ao glamour e ao mistério, Guy- Manuel de Homem-Cristo e Thomas Bangalter nunca tiveram a intenção de entrar na pose de Pop stars, sabem o momento certo para dar as caras, mantendo sempre  seus próprios poderes decisórios, sem conceder às exigências do mercado. A dupla sempre teve controle artístico de todos os seus trabalhos, em especial o controle de sua própria imagem e identidade, impondo suas próprias regras. Um dos fatores que correspondem ao posicionamento do Daft Punk em sua cultura anti-midiática diz respeito ao sentimento underground sobre seu próprio trabalho. Para eles, o Techno é sobre o underground, e assim o underground é por si próprio uma cultura anti-estrelista.

Fotos e entrevistas também não fazem o tipo de Homem-Christo e Bangalter, já que escolheram utilizar seus capacetes desde o início do projeto em 1994 justamente para manter secreta suas identidades. A única foto da dupla sem capacetes é datada de 1996. A comunicação da dupla ao público é exposta apenas pelas suas próprias músicas, traçando caminhos estratégicos e ponderados em cada disco lançado.

Em quase 30 anos de carreira a dupla realizou apenas 48 shows. Quando o fazem, tudo é meticulosamente calculado em cada detalhe, para que suas aparições seja de fato algo extraordinário e estupendo, como no festival Coachella de 2006, onde aceitaram o convite depois de diversas rejeições e por um cachê de US$ 300.000, sendo reinvestido completamente nas estruturas do próprio show. O fato é que o Coachella, um dos maiores festivais do mundo, tentou levar o Daft Punk aos palcos por muitos anos sem sucesso, e somente aceitaram o convite quando a ideia sobre a apresentação tornou-se sólida. A memorável grande pirâmide em LED foi feitas completamente em segredo para aquela apresentação, resultando em um nível de produção jamais antes vista na história do festival, considerado por muitos o melhor concerto de todos os tempos. 

A pirâmide iniciou uma gigantesca turnê mundial, que viria a ser registrada como ALIVE 2007, consolidando a segunda grande turnê da dupla, sendo que a primeira aconteceu em 1997, logo após o lançamento do primeiro álbum. Em 2017, fãs do mundo inteiro alimentaram expectativas de que uma nova turnê aconteceria, a esperada ALIVE 2017, porém a esperança ficou apenas no imaginário do público.

É notável que a dupla não faz nem discos nem apresentações para estar em evidência na paradas musicais ou para atingir um alvo lucrativo. Para eles participar “do circo” proposto pela indústria fonográfica, assumindo grandes turnês com o propósito de se manter no estrelato, não é parte da missão do Daft Punk. “Sempre fazemos as coisas dando um passo de cada vez” disse Bangalter, em uma entrevista a Pete Tong em 2013, quando questionado se a dupla teria planos para shows. A resposta de Bangalter resume o quão meticuloso são os projetos do Daft Punk, fator este também que contribui para que a dupla não anseie apresentações apenas para cumprir agenda, e sim quando realmente algo estrondoso esteja sendo preparado. Ao mesmo tempo, o mistério e a ideia de poucas apresentações também fazem parte do conceito comercial da dupla. O Daft Punk tem consciência dos rumores que seu silêncio sob a mídia causa em seu público. Expectativas inflamadas se unem à reverência eternizada de sua obra, do culto à tecnologia até a poderosa influência sobre toda uma geração.

A música conecta.

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