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Editorial | O que tornou o Skol Beats tão importante para a cena nacional

Por Caio Stanccione em Editorial 19.02.2021

Me responde uma coisa, quando você nasceu? Se você é quase um senhor como este que vos escreve, a chance de ter ido em uma das edições do melhor festival de música eletrônica que o Brasil já teve é bem alta. Afinal de contas, os line-ups do Skol Beats são algo que beiravam o inimaginável – ainda mais hoje, em um mundo pandêmico e travado em termos de fronteiras e economia -, sem falar da estrutura enorme e sempre muito bem produzida e organizada. Agora, se você nasceu dos anos 2000 para frente e não sabe o que foi esse festival, meu jovem padawan, fecha as outras abas e venha tomar uma aulinha grátis do que era uma festa de verdade. 

Bom, só pelo comercial acima você já consegue deduzir o quanto de investimento era colocado nessa festa, sendo que até propaganda na TV rolava. Sim, o Skol Beats foi uma festa que aconteceu entre 2000 e 2008, sendo que nas suas primeiras edições rolavam nos estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. 

Tendo em vista a alta popularidade que a música eletrônica e a cultura DJ tinham na virada do milênio, a marca de cerveja Skol decidiu realizar um festival para promover sua marca e produtos. Sua primeira edição aconteceu no ano 2000 e cobriu todos os estilos que estavam bombando na época como Jungle, Drum ‘n’ Bass, Trance, House e o Techno, sendo que cada vertente tinha sua tenda dedicada. Essa primeira edição do Skol Beats contou com duas festas, uma versão menor foi realizada no Jockey Club de Curitiba e a versão full do festival foi feita no Autódromo de Interlagos. 

Sobre o Line-Up? Paul Oakenfold, Armand van Helden, Frankie Knuckles, Bob Sinclar, DJ Rap, Fabio, Optical, Green Velvet, Stacey Pullen, além de nacionais como DJ Marky, Anderson Noise e Mau Mau para citar alguns. A edição curitibana contou com 15 atrações, já a versão paulistana contou com mais de 40 artistas divididos entre quatro palcos e de área para chill out, praça de alimentação, espaço para venda de roupas e merchans e uma rendez-vous área para você encontrar seus amigos. Área de encontrou? Lógico, meu filho, estamos falando dos anos 2000, não tinha WhatsApp nessa época. Aliás a internet mesmo era algo super novo e de pouco acesso por aqui. Um total de 20 mil pessoas passaram pelas duas edições.

Em 2001, a Skol contou com a parceria da marca Pepsi para execução do Skol Beats, expandindo ainda mais o festival que agora, além da edição principal em São Paulo, contava com versões pocket – se é que podemos chamar assim – em Curitiba e Rio de Janeiro. Entre as atrações internacionais bookadas em 2001 vale citar algumas como Roger Sanchez, Richie Hawtin, Level 202, John Digweed, Christopher Lawrence, Ray Keith, Bryan Gee, Andy C e para os nacionais, Felipe Venâncio, Renato Lopes e Jason Bralli. Foi nesse ano que os palcos passaram a ganhar nome próprio: Amusement Zone Pepsi, Philips Expression, Mercado Mundo Mix e Marlboro. 

Você consegue lembrar o último festival de música eletrônica/rave que envolveu grandes marcas como as citadas acima? Era muito dinheiro envolvido, então o nível do evento era elevadíssimo em todos os sentidos. Público total? 40 mil pessoas. 

Em 2002? Recebemos ninguém menos que Goldie, DJ Hype, Ed Rush, Bryan Gee, Layo and Bushwacka!, Joey Beltram, Kosheen, Groove Armada, Todd Terry, Erick Morillo, Deep Dish e Mr. C. A edição de 2002 marca o fim da era Skol Beats em outras localidades, passando a ser executado somente na cidade de São Paulo, além de também ter sido a última realizada no Autódromo de Interlagos.

De casa nova, o quarto ano do Skol Beats aconteceu no Sambódromo do Anhembi, onde pode receber o recorde de público até então, a pequena quantia de 44 mil pessoas. Para essa edição, a Skol contou com patrocinadores como Triton, Pizza Hut, Carrefour e Mercado Mundo Mix, além do retorno da Pepsi que estava lançando seu mais novo produto, a Pepsi Twist, ruim pra caralho, diz aí? Em termos de estrutura, o festival contou com cinco palcos além das tradicionais áreas de descanso, encontro, espaço para imprensa, vila dos artistas e também contava com cobertura das emissoras Band e MTV. 

Calma, tem os artistas ainda. Em 2003, o evento trouxe ao Brasil Junkie XL, 808 State, Jeff Mills, Ferry Corsten, Total Science, Makoto, Grooverider, LTJ Bukem, Bryan Gee, Mark Farina, Layo and Bushwacka!, Green Velvet, Derrick May, Slam, Dave Clarke. Meus amigos, não há club em Itajaí – entendedores entenderão – que seja capaz de bookar e organizar tamanha festa, mesmo que ela seja diluída durante um ano todo. Era faraônico. 

Em 2004, o Skol Beats dá mais um salto e se torna a festa oficial de aniversário da cidade de São Paulo, que comemorou os seus 450 anos na data. Aqui podemos observar uma ligeira mudança na curadoria do festival, já que artistas como Benny Benassi e a terrível Satisfaction – e Fischerpooner foram bookados. Além deles, Basement Jaxx, Marco V, Dave Clarke, Darren Emerson, Photek, Roni Size e Josh Wink também participaram da quinta edição do evento. 

O público total foi de 50 mil pessoas e os ingressos esgotaram no mesmo dia que foram postos à venda. Sim, quase 50 mil ingressos foram vendidos em um único dia, num valor de 55 reais, que corrigidos seria algo em torno de 180 reais. Faz a conta de quanto o Skol Beats arrecadou em ingressos e pensa se algum outro festival fez a mesma coisa na última década.  

Se liga nesse vídeo da hora – e de certa forma bizarro – da Band fazendo a cobertura da edição de 2004

Em 2005, o Skol Beats contou com a potência total de 1.200.000 watts – um milhão e duzentos mil – em sistemas de som, e eu arrisco dizer que ninguém mais teve o culhão e dinheiro para repetir esse feito. Até um slogan foi criado para essa edição: a festa mais contagiante do planeta. Alguém tem dúvidas? Fucking um milhão e duzentos mil watts de potência sonora. Pra empurrar tudo isso, entre os internacionais o festival teve Mylo, Faithless, Erick Morillo, Sasha e John Digweed – com um set de seis horas que outros festivais tentam copiar -, Pete Tong, Layo and Bushwacka!, High Contrast, DJ Zinc e Friction. Duração total do evento? 21 horas. Público total? 55 mil cabeças, 

Chegando na reta final do festival, 2006 trouxe ninguém menos que The Prodigy – e eu fui – para o Brasil. Vocês não estão ligados o quanto esse show era aguardado por todos aqui, eu lembro certinho do rebuliço que foi saber que teríamos Prodigy aqui. Além deles LCD Soundsystem, DJ Hype, Andy C e Wrecked Machines eram atrações que também eram fortemente desejadas e esperadas pelo público. 

Foi nessa edição que a tenda DJ Marky and Friends gravou o DVD Live In Brazil. Aliás, a maior tenda de 2006 foi essa, com um total de 2.400 metros quadrados de espaço e que contou com a participação dos MCs Eksman, Stamina, Dynamite e Lucky.

E mais um pequeno feito para o Skol Beats em 2006: foi neste ano que ele se tornou o maior festival de música eletrônica do mundo, com mais de 207 mil metros quadrados de festa e 90 atrações nacionais e internacionais em sete espaços. Público? Novo recorde, 59 mil pessoas. 

O penúltimo Skol Beats, em 2007, contou com uma grande mudança. Agora o festival era executado em dois dias seguidos, devido a problemas de locomoção constatados no ano anterior. Para as atrações internacionais, o festival recebeu 20:20 Soundsystem, The Crystal Method, Simian Mobile Disco, Laurent Garnier, Miss Kittin, Friction, Fabio e Grooverider, David Guetta, Sander van Doorn, Afrika Bambaataa, TC Izlam e Q-Bert. Um parabéns especial pro MSTRKFT que meteu um WO no role e deixou uma galera putaça. 

Outro ponto aqui nesta edição foi a alta no preço do ingresso que passou a ser 120 para cada dia antecipado ou 200 reais para os dois dias, outra coisa que deixou todo mundo muito puto. 

Quem viu, viu. Mas quem não estava lá pode sentir o gostinho desse b2b entre DJ Marky e Laurent Garnier

Enfim, chegamos no último Skol Beats, realizado em 2008. A novidade aqui é que o festival recebeu curadoria do público em sua grande maioria, onde por votação decidiram quais artistas iriam se apresentar no festival, além de escolherem o formato que o festival teria. Miguel Migs, Pendulum, Digitalism, Gui Boratto, DJ Marky, Christian Smith e Dubfire foram os grandes nomes desta edição, essa que foi muito menor em comparação às outras e contou com um público estimado em 16 mil.  

A festa foi feita para ser menor, os problemas que a edição de 2006 teve com superlotação empurra-empurra e pormenores passou a assombrar o festival, por isso do tamanho reduzido. Fora que as atrações já não eram em abundância como antigamente. Mas tudo isso foi perfeitamente planejado, a Skol tinha outros planos para continuar o festival.

Em 2009 a Skol decidiu encerrar o festival e passou a organizar o Skol Sensation, o qual eu me recuso a falar sobre nesse editorial. O tiro no pé mais doído de uma marca na hora de escolher como prosseguir com a realização de um evento. 

Consegue entender a importância do Skol Beats pro Brasil? Se não fosse ele, não existiram os superclubs e “grandes festas” – entre aspas mesmo, porque grande era o Skol Beats – que temos hoje, muito menos o Brasil ouviria a música eletrônica que ouve hoje e menos ainda estaria inserido na rota da música eletrônica mundial.

Obrigado, Skol Beats. 

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