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A música conecta

Alataj entrevista Maz

Por Alan Medeiros em Entrevistas 19.07.2024

Não importa quão conectado você é com o Afro House ou até mesmo com a música eletrônica como um todo, muito provavelmente você foi impactado por alguma das produções do brasileiro Maz nos últimos anos. Isso por que o ele emplacou uma sequência impressionante de hits a partir do seu remix de Banho de Folhas da Luedji Luna e tem vivido desde então um daqueles momentos de gigantesca evolução e sucesso que poucos artistas alcançam. 

A trajetória e o perfil musical de Maz são aspectos interessantes de serem analisados. Sua música, rompeu as barreiras de nicho do estilo e alcançou o mainstream sem precisar de drops chamativos, fórmulas comerciais ou o suporte massivo de grandes gravadoras — muito pelo contrário, pois 4 das 5 faixas mais tocadas do momento no seu Spotify foram lançadas pela própria gravadora, a Dawn Patrol Records. Em tempos onde o apadrinhamento é um dos ativos mais importantes do show business, esse caminho é no mínimo pouco comum e prova um fator básico desse sucesso: as pessoas gostam e se conectam profundamente com o seu som. 

Depois do sucesso do remix para Luedji Luna, Maz seguiu propondo parcerias com vocais brasileiros muito bem selecionados. Sued Nunes em Povoada, Zeca Veloso em Todo Homem, Jéssica Gaspar em Brisa e Letícia Fialho em Corpo e Canção. Como poucos artistas conseguiram fazer anteriormente, Maz e sua gravadora desenvolveram uma identidade original e conectada a música brasileira, fator que não limitou seu sucesso ao país e sim abriu portas em outros continentes. 

Hoje, além de ser um protagonista da cena nacional, um dos artistas mais requisitados da cena no momento, Maz também tem evoluído em bons passos na sua carreira global. Sua agenda de julho, agosto e setembro está bem voltada para o verão no hemisfério norte, com shows confirmados na Pacha Ibiza, Tomorrowland Bélgica, festa da Abracadabra em Mykonos, Hi Ibiza com Black Coffee e alguns bons destaques no país, como o Rock in Rio. Aproveitando essa ótima fase, Maz nos recebeu para uma entrevista exclusiva sobre vida e carreira, que você confere a seguir:

Alataj: Olá, Maz! Tudo bem? Obrigado por nos receber. Começo essa entrevista traçando um paralelo entre expectativa/realidade, pois gostaria de entender como você tem lidado com todos os incríveis acontecimentos recentes da sua carreira nos últimos anos e se todas essas conquistas eram exatamente o que você estava mirando quando iniciou seu projeto ou os planos eram um pouco diferentes?

Maz: Fala galera do Alataj, é um prazer! Eu sou fã e acompanho vocês aí há bastante tempo, desde mesmo antes de começar a tocar. Tamo junto aí, valeu pelo convite. Vamos lá!

Então, falar que todas essas conquistas eram exatamente o que eu estava mirando quando eu iniciei meu projeto, exatamente nessa sequência, não era bem isso.

Obviamente, eu sempre sonhei em conseguir espalhar minha música no Brasil e no mundo, uma coisa que está acontecendo bastante nos últimos anos, nos últimos dois anos principalmente. Mas foi fruto de muito trabalho, muito tempo se dedicando, desde 2015 que a gente está nessa, doando e focando 100% das energias na música, em produzir, em tocar, em aprender. São 9 anos esse ano, então já tem um tempo, mas eu não imaginava que as coisas fossem acontecer tão rápido. Assim, não tão rápido digo, obviamente, estou há 9 anos aí, mas de dois anos para cá as coisas realmente começaram a acontecer muito rápido, desde o lançamento da Banho Folhas e enfim, todos os outros lançamentos que a gente conseguiu fazer em sequência me abriram muitas portas.

Com certeza eu já imaginava de uma certa forma, e sempre almejei, com certeza, estar viajando, fazendo tour, tocando mundo afora, em festivais e clubes que eu sou fã também, e frequentador. Eu não imaginava que seria desse jeito, sabe? Mas com certeza já almejava estar onde eu estou hoje, mas acho que ainda tem muita coisa para conquistar, muito chão para correr, muito feijão para comer, mas é isso. [risos]

Você é um dos expoentes da atual geração de artistas que tem ajudado a colocar a dance music brasileira em um novo patamar. Como você enxerga esse movimento? Existe um senso de comunidade realmente forte e diferente do que já havia sido registrado em outras gerações?

Cara, de outras gerações eu não sei dizer, porque eu não fiz parte delas efetivamente, mas eu vejo a cena hoje em dia de modo geral, a galera nova bem unida, vários núcleos aí surgindo e fazendo barulho, fazendo muita coisa boa.

Os gringos estão muito de olho na gente, estão dando muito valor, pro que a gente tem feito aqui de forma geral, sem falar de gênero X ou Y, realmente, de forma geral, a galera está representando, eu vejo a galera bem unida. Obviamente, tem intrigas, como qualquer meio, qualquer ambiente basicamente, mas de forma geral, eu vejo o Brasil numa fase muito foda, principalmente a galera que está dando muito valor fora do nosso país, e dando o valor e a visibilidade que a gente merece, enfim, tem uma galera nova vindo fazendo muita coisa boa também. Os próximos capítulos serão bonitos.

Considero que hoje no Brasil a gente tem um problema de oferta de talento/demanda de bons contratantes, o que acaba por deixar muitos talentos sem um volume de trabalho de shows que pode ser considerado ideal. Na sua opinião, existe algo que artistas estabelecidos como você podem fazer para ajudar outros artistas que estão em um momento mais inicial de carreira? 

Com certeza, tem realmente muita gente fazendo muita coisa boa e não tem tanta oportunidade assim né. Tem diversas formas da galera encurtar esse caminho, dar uma agilizada assim na trajetória dessa galera, na visibilidade, enfim, tanto dando suporte, se você fizer algum evento, e também tiver alguma influência em algum evento, indicar a pessoa pra abrir pra você, fazer um warm up ali ou tocar depois, enfim, fazer parte ali do line, e as collabs também.

Existem diversas formas assim, por exemplo, a gente como a  Dawn Patrol, eu o Bruninho, abraçamos o Riascode, que é um talentaço, paulista, super novo, tem 18 anos, 19 anos, 20 anos, não sei, o tempo tá passando muito rápido, eu não tô acompanhando direito (risos), mas é um moleque irmão nosso já, é muito talentoso e é isso, ele faz parte também do nosso núcleo da Dawn Patrol, não como um dos sócios, mas como um artista assinado pela gravadora e com todo o nosso suporte e apoio. Realmente existe esse problema de muita gente muito boa e pouca coisa legal acontecendo, pouca coisa acontecendo para suprir a demanda de pessoas para poderem se apresentar, mostrar o seu trabalho como merecem.

É legal observar que você conseguiu criar uma identidade de conteúdo e conexão com o público através das redes sociais, com uma regularidade de ações que ajudam a mostrar quem você é e comunicar todos seus compromissos artísticos. Como é pra você toda essa questão atual que obriga os artistas a serem figuras públicas ativas também nas redes?

Então, eu sempre fui muito comunicativo, isso já é uma coisa natural minha, na época de Facebook e tal, eu sempre gostei de tirar foto também, de brincar com a câmera, enfim, tinha vários álbuns com fotos, vídeos, sempre curti essa parada. No começo foi um pouco difícil, assim, só realmente botar a cara, se filmar falando uma coisa que eu não costumava fazer, até porque não tinha muito isso, eu acho, mas essa parada da comunicação é algo meio normal pra mim. E tem essa questão de você como artista se expor ali de certa forma, de ter que ser um “influencer”, não é isso, mas, enfim, essa parte do marketing é muito importante, a figura do artista, como ele se comunica, como é o contato com os fãs, etc, como ele age ali nas mídias sociais.

Mas eu acho que, na real, a galera tem que descobrir sua forma de se comunicar, se é uma pessoa mais tímida, não tão comunicativa, é legal que você ache sua forma ali para fazer sua parada e que seja de verdade, sabe? Não adianta você fazer uma parada forçada que não vai te representar também, então acho que é muito importante hoje em dia, mas é mais importante ainda você achar sua forma para fazer isso e você fazer de uma forma natural, e assim você vai conseguir se conectar com aqueles que você tem que se conectar, com as pessoas que vão ver ali na tua verdade, no teu jeito de ser, alguma coisa que eles vão gostar e vão se conectar com eles mesmos. Se não for de verdade essa conexão, dificilmente será de longo prazo, enfim, mas acho que você realmente tem que ser ativo, mas o principal é você achar sua forma de fazer, nem que não seja tão ativamente assim.

Lembro que há mais ou menos 10 anos se discutia sobre ser ‘cool’ ou não o uso de vocais em português na música eletrônica, uma discussão boba que felizmente ficou no passado. Você sente que hoje existe uma conexão mais ampla da música eletrônica com as vozes brasileiras de fato? Mais do que isso, o que você considera essencial na hora de escolher um vocal ou uma faixa em português para remixar?

Inclusive, pra mim, não funcionava o vocal em português com música eletrônica, pra mim eu nunca tinha ouvido uma música que realmente eu achasse que combinasse, que uma coisa fosse feita pra outra, assim. E aí, a gente discutindo com a equipe, a gente entrou em consenso que seria legal tentar fazer alguma coisa, que na época eu meio que tava com uma missão que eu tinha botado pra mim mesmo, e fazer uma música que conectassem com a massa, não só com um nicho específico da música eletrônica, mas com a massa mesmo, fazer um hitzão que eu não tinha.

A gente achou que o caminho fosse com um vocal em português, e aí eu topei o desafio e eu acabei indo por um caminho de música mais orgânico, com timbres mais orgânicos, e ainda assim fui pra timbres brasileiros, ritmos brasileiros, já que eu tava fazendo uma música com vocal português que eu tinha me permitido ali, e eu falei: “pô, vamos abrasileirar geral então”. (risos) E eu acabei indo por um som mais orgânico do que eu tava fazendo; pra fazer essa mistura de vocal em português com música eletrônica, eu acabei indo por um lado de produção mais orgânico, mais parecido com Afro House, que bebe muito da fonte do Afro, do Organic House, Deep House, enfim, e acabou saindo a Banho de Folhas, que acabou abrindo também um portal, na minha cabeça como produtor, de possibilidades, né? De uma coisa que, pra mim, antes não fazia menor sentido, não funcionava uma coisa com a outra. De uma hora pra outra, passou a fazer parte da minha identidade muito forte, e eu acho que hoje em dia, respondendo a pergunta, acho que hoje em dia é bem mais comum a galera mixar, obviamente a galera já fazia isso há muito tempo, mas sim, acho que hoje talvez seja visto com outros olhos.

E eu não tenho uma coisa, sei lá, essencial na hora que eu tô buscando uma música para remixar, a música tem que “me pegar” só, pode ser o vocal, pode ser a melodia, podem ser várias coisas, né? Mas não tem uma regra não, só vou ouvindo e sentindo.

Não podia deixar de mencionar o Coachella. A adrenalina veio mais forte na hora da confirmação ou pré apresentação? Em termos de representatividade, como você descreve e avalia essa conquista?

A adrenalina pré-apresentação com certeza foi mais forte. Antes assim, obviamente, eu fiquei emocionado, fiquei feliz pra cacete, mas eu nunca tinha ido no festival, então pra mim era uma coisa meio que novidade, já sabia do porte de tudo que representa estar dentro do festival, tocando, mas não sabia exatamente na prática como era, então assim, fiquei feliz, mas não fiquei tão emocionado. Mas chegando lá, eu vi o conto de fadas que é a parada e aí eu entendi, e a pré-apresentação, obviamente, bateu aquele frio na barriga ali, principalmente porque um dos meus pendrives estava dando problema. Na verdade, já tinha dado problema duas vezes nas duas últimas gigs, aí eu troquei o pendrive, mas estava com o pé atrás ainda, achando que fosse algum outro problema, com alguma música, e no final realmente era, tive que deletar a música.

Mas enfim, tava com essa questão na cabeça, mas deu tudo certo, ali nas primeiras músicas, já meio que testei as músicas que eu tava suspeitando que estavam dando problema, nada deu problema, e aí a pista encheu rápido e foi incrível, assim, foi uma parada que foi muito além do que eu tava esperando, imaginando, principalmente porque meus pais estavam lá, minha namorada, foi geral, meus managers também, e foi bem foda.

E representa muito pra mim isso, essa conquista. Tava somente nós três de brasileiros, eu, o Beltran e a Ludmilla. E foi uma honra inenarrável ter feito parte desse seleto grupo; a galera ter visto meu trabalho, ter curtido, ter apoiado e ter me convidado. Foi um sonho realizado, com certeza.

Recentemente você lançou uma faixa pela gravadora da Cercle. Podemos esperar algo mais dessa parceria com a marca? Um vídeo set talvez? 

Com certeza, é uma coisa que eu almejo bastante, né? Sou fã dos caras, a gente tem uma relação ótima também, já conheço eles, principalmente o Phil, a gente já é brother. E vamos ver os próximos capítulos aí, estamos fazendo nosso dever de casa aqui, espero que mais cedo ou mais tarde aconteça.

Uma característica que eu considero importante da sua música é a capacidade que ela possui de bater milhões de plays no Spotify, mas também alçar um #1 geral no Beatport. No seu processo criativo, você costuma visualizar mais suas produções desempenhando um papel amplo no cotidiano das pessoas ou dominando as pistas através de seus shows e de outros DJs? 

Não sei, essa pergunta é difícil. Eu não sei se eu costumo visualizar assim quando eu tô fazendo a música. Obviamente, na real, o que eu tento chegar no resultado final na música, é que ela tenha um groove, seja dançante, que ela bata bem na pista, que ela seja impactante, e as pessoas consigam não só escutá-las, mas senti-las também na pista, né? 

Enfim, seja um beat que funcione na pista, com a musicalidade, mensagens e coisas que a gente bota na música também, que é o que conecta mais com o lado streaming, e o groove dela seria uma coisa que funcionaria mais na pista de dança, então acho que o que eu tento chegar nas minhas músicas é que elas sejam gostosas de serem ouvidas, mas ao mesmo tempo, se você estiver numa pista de dança, ela vai funcionar, ela vai ter um peso, ela vai ter uma base ali, uma estrutura que tem um groove ali, um remelexo pra você dançar. Então acho que durante muitos anos produzindo, eu tô começando a, talvez, encontrar esse equilíbrio e o que funciona nos dois lados, nos dois ambientes.

Não queria finalizar antes de mencionar sua parceria com o Antdot, que assina junto com você alguns dos seus releases mais importantes. Como funciona essa dinâmica e parceria? Como é pra você compartilhar o estúdio com outros produtores?

Bruninho é meu parceiraço, tanto meu irmão, brotherzão, quanto parceiro de estúdio, de trabalho, de sócio na label. A gente troca muita coisa, trabalhar com ele é muito bom, a gente tem muita sinergia. E apesar de que a gente faz muita coisa a distância, a gente não mora junto, ele mora em Balneário Camboriú, eu moro no Rio. E normalmente quando a gente está junto é mais pra tocar assim, meio corrido. Então, poucas vezes a gente está produzindo presentemente; é constantemente, mas é mais online. E é isso, muitas vezes eu começo uma ideia e mando pra ele, ele começa uma ideia e manda pra mim, às vezes eu tenho um vocal, eu desenvolvo uma coisinha ali, ele vai, eu complemento com outra, ele mandam de volta. É bem dinâmico assim, não tem muita regra.

A gente está com ideias de fazer uns camps de produção, tirar uns dias off, alugar uma casa num lugar maneiro. Para fazer uma parada diferente assim, quando você está produzindo junto ao vivo é diferente, né? E é isso, a gente é brotherzão e a sinergia é bem boa, tanto produzindo, quanto no B2B tocando.

Minhas collabs, normalmente, eu tenho produzido muito sozinho em casa. Tenho feito muitas, mas é tudo online. Tudo via internet, galera faz de lá, eu faço de cá e aí troca, troca e aí nasce. Mas eu gosto muito de estar junto com a galera também, você acaba aprendendo muita coisa. E sinto falta disso, às vezes na correria de viagem de tour, de muita coisa pra fazer, acabo que foco mais aqui sozinho no estúdio.

Para finalizar, uma pergunta clássica do Alataj. O que a música representa em sua vida?

É profunda essa pergunta, né? Mas, a música é o meu hobby favorito. É o que eu mais gosto de lidar na vida. Tenho duas paixões na vida, a música e o surf. E a música foi o jeito que eu encontrei pra me expressar e me divertir também ao mesmo tempo.

Gosto muito de lidar com a música. Sempre escutei música de diversos gêneros possíveis da minha vida. Já tive muitas fases de só escutar isso durante, sei lá, um ano. Já passei de Frank Sinatra, à Charlie Brown, a Dr. Dre, enfim, Bob Marley, entre muitos outros. Mas a música esteve comigo na minha vida inteira, então é difícil descrevê-la em uma ou poucas palavras, porque ela tem vários estágios.

Ela sempre esteve muito presente e hoje graças aos deuses e, obviamente, muita dedicação e acreditar, consigo viver dela e encontrei uma forma de me expressar, de me divertir também. E viver disso que, pra mim, é o maior privilégio que você pode ter hoje em dia. Primeiro você encontrar o que você ama e depois viver disso, tá maluco? Isso é um privilégio. O que a música me representa é isso.

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