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A música conecta

Alataj entrevista TYV

Bruno Protti aka TYV sempre foi um artista que esteve sob os radares do Alataj, inclusive no passado assinou a edição 007 do Vitrola Radioshow e também o mix de número 154 para a série Troally. O motivo é simples: pesquisas diferentes e fora dos padrões naturalmente chamam a nossa atenção, ainda mais quando o cerne gira em torno de ritmos como o house e disco, estilos que inclusive acompanham TYV desde sempre. Além do seu projeto, Bruno também é co-fundador dos selos Boston Medical Group (BMG) e Gop Tun Records, integrante do Gop Tun DJs e claro, um dos membros do coletivo Gop Tun — que graças ao trabalho de todos os envolvidos, se tornou uma das grandes marcas de eventos nascidas no Brasil, ajudando a revelar novos talentos e criando espaços mais inclusivos e intimistas; inclusive, como peça-chave na vinda de muitos DJs internacionais ao país.

E se no background da cena ele é um nome tão importante, na linha de frente não seria diferente. Como DJ, já tocou no Dekmantel, no DGTL, e em 2022 teve seu primeiro Boiler Room transmitido. Tudo isso além do seu próprio live act, paralelo aos sets com uma seleção fina de garimpagem em vinil. Apesar disso, ainda prefere o formato digital do que o físico: “confesso ser mais do mundo digital quando se trata de discotecagem. Minha forma de tocar o áudio é no estúdio”, disse em uma entrevista ao MonkeyBuzz. E isso realmente fica claro, já que suas produções são bem marcantes e frequentemente preenchidas com linhas de sintetizadores, com texturas e paisagens sonoras ricas capazes de deixar o ouvinte em um transe por alguns minutos. 

Essa profundidade e complexidade se faz presente no seu novo lançamento pela dsrptv rec, o EP Killa Plan, onde ele entrega seis faixas originais difíceis de descrever, já que não possuem uma estética sonora única e passeiam por diferentes campos criativos… um pouco de Ambient, House, Deep House, Breaks, Downtempo, mas acima de tudo um som autêntico e verdadeiro, refletindo o artista imprevisível e versátil que habita na persona de TYV — e é isso o que faz sua música ser acessível tanto em grandes eventos quanto em ambientes mais íntimos. Pegamos uma carona no lançamento deste release e aproveitamos para perguntar um pouco sobre todas as as diferentes camadas que habitam ao redor deste seu universo.

Alataj: Olá, TYV. Obrigado por nos receber. Vamos começar falando sobre seu novo lançamento pela dsrptv rec. Primeiramente, é uma gravadora que tem um fit sonoro com o som que você acredita e propaga, não é? Sem muitas amarras, explorando as linhas mais abstratas da música eletrônica… 

TYV (Bruno Protti): Super tem, bom demais ver mais um selo explorando esse campo por aqui.

Em que momento vocês se conectaram e como foi o processo até sair o lançamento de Killa Plan? A decisão de incluir as seis faixas neste release foi tomada em conjunto? 

Conheci o Augusto como “Tha_Guts” lá por 2018, ano que lançamos seu EP “Mirror” pela Gop Tun Records, desde então mantivemos contato. As três primeiras faixas do disco, ‘Boas Maneiras’, ‘Killa Plan’ e ‘Space Bass’ foram produzidas em 2019 para o live que fiz na primeira edição do festival “XAMA” em Algodões (Península De Maraú, Bahia), abri o ableton por lá mesmo, na própria venue (Tikal) com um fone “open back”, de frente para o mar no tempo livre enquanto montávamos o festival.

Tava segurando esse disco há um tempo, procurando um selo legal para soltar, quando Augusto me convidou para lançar uma faixa ambiente para um V.A que está para sair ainda, encaminhei o disco para escutar e encaixou.

O que você pode nos contar a respeito do processo criativo por trás das produções? Não é um trabalho fácil de definir, até porque você explorou diferentes nuances e camadas em cada uma das faixas. Há algum elemento em comum que conecta todas elas? 

Gosto de fazer as partes da música individualmente. Um dia acordo a fim de fazer somente baterias, outros pads, outro temas lead, de repente outro só corto alguns samples de filmes, cartoons ou conteúdos da internet. Depois, organizo esse material em uma biblioteca, com BPM e tom de cada arquivo, nomeando eles com tags tipo “tux_pad_river_spoken_fx“, algo do tipo. Ai aquele belo dia que você acordou inspirado, que normalmente é quando você tem um lugar em mente para tocar ou escutar aquela faixa, quando você tem um objetivo fixo para ela, começa a montar/editar a história de forma mais dinâmica em um DAW, rápida e fluida, para comprimir aquele momento, tem que ser rápido e expressivo senão começa a dar muita volta e geralmente não sai mais nada.

Gosto porque esse processo me leva a conhecer e explorar diversas fontes de criação diferentes, seja digital ou analógica.

Inclusive, uma frase que nos chamou a atenção foi algo que você disse em uma entrevista passada, afirmando que sua “forma de tocar o áudio é no estúdio”. Você é um artista autodidata? Tudo o que você aprendeu no estúdio foi explorando sozinho ou você contou com outras pessoas nesse processo de descoberta e evolução?

Não lembrava mais dessa frase, engraçado. Durante a pandemia, justamente pela falta, descobri que atuar como DJ me inspira muito e que as duas coisas andam melhor juntas, estúdio e gig, então podemos agora atualizar esse quote?!

Voltando a pergunta, essa busca foi bem sozinho sim, bem difícil e demorado, não fui aquelas pessoas que dominam com facilidade e começam a soltar coisas boas logo no início, até porque eu queria chegar numa estética que não encontrava muito nos samples na internet, então fiquei nesse impasse um tempo. Acredito que o que me rendeu o maior salto foi realmente estudar a síntese desde a base, aprendendo a se comunicar e ler qualquer sintetizador ou drum machine, com isso a coisa começou a ficar bem mais interessante pelas diversas opções que surgem, e você acaba chegando em texturas e técnicas que dão exatamente a estética que você estava procurando, além disso, a parte de teoria musical também foi na internet, estudando sempre em tutoriais etc.

Recentemente, comecei a encontrar mais produtores e trocar mais informações, isso me fez muito bem, faz você se agilizar bastante e cortar caminhos. Prado, da Subliminar me convidou para um grupo no whatsapp com produtores nacionais onde é compartilhado demos, promos, sample packs, vsts e muita informação legal sobre esse universo. Inclusive quem quiser um sample pack que enviei no grupo aqui está o link.

Um dos diferenciais da sua música é a sua habilidade em criar texturas sonoras bem ricas e profundas, certo? Existe algum equipamento eletrônico ou analógico específico que você considera fundamental no seu som? Que ajudou a lapidar sua identidade e que você se conecta de forma mais pessoal mesmo?

Certo, uso diversas formas para criar, entre elas VCV rack, Bespoke, Guitarra com pedais processados digitalmente entre outros softwares standalones como LIFE (XLN audio), amo softwares standalone.

Já tive alguns equipamentos analógicos, mas tive que vender durante a pandemia, tenho muita saudade de mexer nas máquinas, principalmente processamento e vozes. Mas, confesso que estou bem satisfeito e bem servido no digital enquanto isso, não acho que é a mesma coisa, mas no digital também é possível chegar em lugares diferentes e bem interessantes, particularmente gosto muito da estética digital, seja ela de hardware ou software.

Apesar do seu amor pelo estúdio, você também gosta de tirar um tempo para pesquisar discos de vinil. Isso ainda faz parte da sua rotina mesmo hoje em tempos tão digitais? Quais foram os últimos achados mais interessantes da sua coleção? 

Amo pesquisar música, acho que as 2 coisas estão conectadas, funciona melhor para mim quando vivo a criação e a pesquisa. Sobre vinil, amo muito enquanto é inclusivo, não gosto muito quando se torna exclusivo e inacessível (aquele “eu tenho você, não tem”), importante é como você manipula e utiliza aquilo, ou com o que você vai mixar. Pode-se dizer sim que estou bem mais no universo digital ultimamente, tomei essa decisão e estou vivendo isso há um tempo. Alguns achados recentes para a coleção: 

IC-RED – GOOD FUN

The Mole – Baby, You’re The One

Hidden Spheres – By & Bye

Anika – No One’s There

Além do TYV, você também tem outros projetos paralelos como o Vontades Aleatórias, DJ Giant, fériasdasférias… Você vê esses projetos como oportunidades para se aventurar em territórios musicais que talvez não se encaixem dentro do âmbito do TYV, ou há uma interação mais complexa entre eles?

Separo os projetos pelo forma que produzo cada uma das faixas, quando tem um processo diferente, acaba dando uma cara diferente, então merece um nome e conceito diferente, que acomode isso.

Como por exemplo, fériasdasférias são gravações e takes gravados sem pós edição, o que combina muito com o universo do modular, que no processo não existe começo e fim, é um grande loop que você vai manipulando, então quando acha que chegou em algo que gosta e tem todas as ferramentas prontas, você performa e grava. DJ Giant já tem uma proposta mais solta que constitui a edição de samples no DAW, chegando em edits para tocar ao vivo, lançando tudo junto uma vez por ano sempre em janeiro e disponível por alguns dias no Bandcamp. Quem quiser baixar, criei alguns cupons gratuitos que você encontra neste link, com os lançamento de 2023 e 2024.

E saindo da parte de produção musical, você também tem um papel fundamental por trás de outros projetos da Gop Tun, e da gravadora Boston Medical Group… qual é o nível de envolvimento que você tem com cada uma dessas iniciativas no seu dia a dia? Elas se complementam de alguma forma ou você encara como coisas distintas artisticamente?

Acabo me dedicando a maior parte do tempo a Gop e Gop Records mesmo, no BMG tenho um parceiro que está mais à frente de tudo que é o Eduardo Ramos, então isso ajuda. Sim, são abordagens distintas em cada projeto, o que liga elas é que todas estão relacionadas a minha música. Como é grande o volume das tarefas, é ótimo que seja dessa forma, assim você tem um bom balanço das coisas, o que ajuda na sanidade mental, afinal, ainda tem que tirar um tempo para produção própria, pesquisa e afins.

Falando sobre o momento atual, no que você está mais envolvido? Quais são os próximos projetos a saírem do papel?

Envolvido no segundo semestre da Gop Tun, muito mas muito animado mesmo com os eventos que temos até o final do ano, o Festival Não Existe tá ficando realmente especial, estamos contentes e ansiosos para compartilhar. Além disso venho me dedicando bastante às gravadoras e no momento estou trabalhando numa faixa com o Vermelho, remixes para Capetini, Gigios e Fugaz, além de uma faixa para o selo do meu amigo Tuxe, Tandera Records.

Para finalizar, a pergunta clássica do Alataj, o que a música representa na sua vida? Obrigado!

Por um momento achei que fosse perguntar a minha música favorita da vida, o que seria impossível de responder [risos].

Significa exatamente tudo, mas tudo mesmo. Todos meus melhores amigxs e pessoas mais importantes da minha vida foram presentes nesse universo, dos ambientes e situações que a música me colocou e me orgulho muito disso, ter o privilégio de participar de uma comunidade que ofereço mas que recebo em troca. Tenho certeza que ainda tem muita coisa para acontecer, muitos sentimentos que a música ainda vai me dar.

Killa Plan está disponível no Bandcamp, Beatport, SoundCloud, Spotify e demais plataformas digitais.

Conecte-se com o TYV: Instagram | SoundCloud | Spotify

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