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A música conecta

Alataj entrevista Andc

Por Louise Lamin em Entrevistas 05.12.2022

O que é preciso fazer para furar a bolha da cena eletrônica underground mundo afora? Se para essa pergunta existisse uma resposta precisa como uma receita de bolo, cada fatia valeria cerca de um milhão de reais. Isso porque, a fórmula para conquistar suportes relevantes vai muito além de talento ou sorte. É preciso que haja sinergia musical, conexão rítmica, a mesma autenticidade e paixão compartilhada. E é isso que, ao que tudo indica, o som do brasileiro Andc tem despertado na lenda viva do Techno, Richie Hawtin, há cerca de um ano. 

Leandro Comiran, nome por trás do projeto musical, iniciou sua jornada pela Dance Music em 2016, na discotecagem. Dois anos depois vieram as primeiras produções, tendo como principal referência sons de artistas como Ben Klock, DVS1, Oscar Mulero, Rodhad e Jeroen Search. A partir daí, se prendeu à sina de fazer as pessoas se desligarem do momento presente através da dança, criando tracks de sonoridade hipnótica, minimalista e sci-fi, dignas de filmes de aventuras espaciais, sem deixar de lado o toque de gingado cativante. 

Dessa forma, chamou a atenção do titã Richie Hawtin, conhecido não somente por ser uma grande influência do Techno, como um visionário em tecnologia musical, sendo pioneiro no teste e uso de diversos aparelhos e softwares de produção. O britânico, radicado no Canadá, já levou a música de Andc para palcos de clubes e festivais como Awakenings, Movement Music Festival, Secret Project Festival e Kompass Klub. Algumas das tracks frequentemente encontradas na setlist do artista são Microscopic Shifting, Reality Is An Illusion, Persecution e Stuck In A Parallel Reality

Agora, conversamos com o brasileiro para saber mais detalhes desse suporte de peso e conhecer mais a fundo sua carreira e conquistas até aqui. Confira a entrevista! 

Olá, Andc! Obrigada por conversar com a gente. Antes de falarmos sobre sua relação com o Richie, queremos saber um pouco mais a respeito de sua trajetória na música eletrônica. Como foram os primeiros passos da sua carreira e como você se sente por ter chegado onde está hoje?

Andc: O início nunca é fácil, é um universo de informação de coisas técnicas que não fazia ideia. A discotecagem em si não foi o maior dos desafios. Eu tocava em casa e sempre que ficava ruim eu voltava as faixas e tentava de novo. Observava muito DJs Sets e em como os artistas mixavam, como soava, então tentava reproduzir. Já na produção musical o processo foi mais lento e árduo, o conteúdo disponível gratuito é amplo, porém repetitivo e muitas vezes superficial, mas é essencial para começar a sair algo. Demorei algum tempo pra começar a ter algo razoavelmente parecido com uma música, tanto que o lançamento do meu primeiro EP não faz muito tempo. Eu e meu sócio VCR criamos a Technoteca para lançar nossas próprias festas, visto que não nos davam oportunidade para tocar, já que ninguém nos conhecia. A partir de então comecei a tocar em outros locais e festas, os passos são curtos e o processo lento, mas ele acontece. Eu estou muito feliz com meu progresso. O Leandro de 2 anos atrás jamais imaginaria que em tão pouco tempo sua música estaria no mundo todo e nos maiores festivais e clubes.

Hoje suas produções estão mais voltadas para um Techno minimalista, foi assim desde o princípio? Como você construiu essa identidade sonora? 

Sim, antes de começar a produzir eu sempre fui inspirado pelo Techno minimalista, sempre foi meu objetivo atingir tal sonoridade, mas como todo iniciante nada saía como eu imaginava ou queria. Sinceramente, na minha própria avaliação, ainda não cheguei onde desejo, tenho esse sentimento de que vou consolidar ainda mais minha assinatura. Já a construção desse meu conceito artístico vem de absorver muito do que minhas referências vêm apresentando e/ou apresentaram no passado recente. Uma espécie de mistura do que eu amo no Techno de 2014~2016 e algumas novas influências dos últimos 2 anos.

Bom, há cerca de um ano você conquistou os primeiros suportes do Richie Hawtin! Imaginamos que tenha sido um momento incrível. Como aconteceu essa conexão entre vocês? 

Meu primeiro suporte que me recordo foi justamente do Richie e já no Awakenings. Então foi um sentimento de euforia absurdo. A faixa em questão foi uma collab com o ASKE e depois disso eu nunca mais duvidei do “Downloaded for Richie Hawtin” (risos). Até então ele vinha tocando ‘Tears of the Seas’, collab com Masseran, outra música desse EP. Esse Awakenings foi logo no fim de 2021 e no Réveillon o Richie fez uma livestream de ano novo em que ele pediu pros artistas mandarem faixas pra ele tocar. Não perdi tempo e mandei umas 8 faixas. Pra minha surpresa ele tocou 5 faixas nessa live. Desde então tenho enviado músicas para ele e a relação foi estabelecida.

Qual momento em que o Hawtin tocou uma track sua mais te impressionou?

Acho que foi no Neopop Festival em Portugal. Isso porque tem uma gravação em vídeo e a resposta da pista foi incrível. Dá pra ouvir todo mundo gritando na hora do drop. Sem falar no tamanho do stage e na iluminação rolando junto com a faixa. Toda essa energia em algo que você fez é gratificante, lindo de ver.

Além dele, você também conta com o suporte de outros nomes relevantes na cena, como  Freddy K, The Lady Machine, Insolate e tantos mais. A que você atribui essa abertura do mercado ante seu trabalho? Alguma dica para jovens produtores que também buscam suportes relevantes? 

Muito disso vem de dois fatores cruciais. O primeiro é o bom relacionamento que eu cultivo com alguns artistas da cena. Isso abriu muitas portas pra mim e uma delas foi o lançamento na Liberta do Vini Honório. Isso nos leva ao segundo fator que é o belo trabalho feito pelo selo no lançamento e distribuição do meu trabalho. Sem isso nada teria acontecido. Minha dica é: cultive relações duradouras e principalmente verdadeiras. Claro que isso sozinho não garante nada, tem que vir em conjunto com a qualidade do seu trabalho, ou seja, continuem estudando e se aprimorando. Sempre digo que a sorte é a junção de qualidade e oportunidade, uma não funciona sem a outra.

Você está prestes a lançar a música mais importante da sua carreira, pela Suara Music. Nos conta mais a respeito desse release? 

Esse lançamento, pra minha surpresa, foi a convite do Coyu. Eu abri meu instagram e tinha uma DM dele falando que gostaria de lançar meu projeto na Suara. Eu fiquei tipo… “oi??” foi desconcertante (risos). A partir daí eu enviei algumas faixas pra ele, infelizmente eu tinha pouco material finalizado. Por isso, acharam melhor lançar 1 faixa no VA que, na época, estava por vir.

Além desse lançamento, mais alguma novidade prevista para os próximos meses que já possa nos adiantar? 

2023 tá vindo forte. Estou com 3 EPs assinados e serão pela Primitive State do Anders e Dannie de São Paulo, R3volution Uncod3d do Michele Mausi da Holanda e Nin92wo do Alex Justino de Goiânia. Nesses EPs estão vindo algumas das faixas que o Richie tocou, inclusive.

Por fim, nossa clássica pergunta de encerramento: o que a música representa pra você? Obrigada! 

Música é sinergia. Ela nos une, não há diferenças, todos somos um em um só momento.

A música conecta.

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