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A música conecta

Alataj entrevista Gumiber

Por Laura Marcon em Entrevistas 14.04.2021

Resultado da amizade e afinidade musical de Leonardo Gumiero (imã / Ankou) e Thomas Berti (Marrakesh), Gumiber é um projeto recém-lançado, mas com história antiga. Entre jams e produções realizadas há alguns anos, a dupla resolveu revisitar esses encontros musicais e compartilhar com o público sonoridades diferentes das que apresentam em seus outros projetos.

O EP de estreia chama-se O Que Vejo E O Que Quero Enxergar e foi lançado pelo LogoLogo, label também encabeçado por Thomas, juntamente com Daniel Tupy e Leonardo Migdaleski. Além de selo musical, LogoLogo também tem foco em expressões estéticas e visuais. Conversamos com Thomas sobre esse novo projeto, a relação dentro do estúdio com Leonardo, um pouco sobre a banda Marrakesh e outros assuntos. Confira.

Alataj: Olá Thomas, tudo bem contigo? Obrigada por conversar com a gente! Você faz parte da banda Marrakesh e agora engrena em um novo projeto, Gumiber. Como e quando surgiu essa ideia?

Thomas Berti: Olá, por aqui tá tudo certo! Agradeço desde já a oportunidade e vamos lá. A Gumiber surgiu num tempo que passei com o Leonardo Gumiero na chácara do meu avô, lá no final de 2018. Produzimos bastante coisa e, ano passado, entre várias fuçadas de gaveta, decidimos revisitar e finalizar as duas músicas presentes no nosso single duplo.

Mais especificamente sobre o EP de estreia, como aconteceu esse projeto criativo e de estúdio junto com Leonardo?

Nós já tivemos outros projetos juntos antes mesmo da Marrakesh e desde então sentíamos vontade de fazer algo novamente. Temos uma grande afinidade musical e esse lado mais experimental foi algo que sempre passava batido. Mas digo que foi bem natural. Lá na chácara miramos pra muitos lados e esse foi o som que fluiu e nos pareceu certo no momento. Levamos todo nosso equipamento e tentamos criar de uma forma mais “real” e sincera, seja usando sintetizadores analógicos ou sampleando tudo que tinha à nossa volta. O resultado tá aí pra todo mundo conferir.

O nome do EP é intrigante e sendo assim fica a nossa pergunta: o que de fato vocês veem e o que gostariam de enxergar? Como conseguiram contextualizar essa ideia através das faixas?

Vejo tantas coisas e ao mesmo tempo nada. Gostaria de ver menos pra ver mais. Esse tema da visão era recorrente e assim que encontramos num texto do fotógrafo Wolfgang Tillmans a frase “What do I see, and what do I want to see?” decidimos ficar com ela. A interpretação fica a critério de quem vê (ou não vê) [risos]. Vemos nas faixas um resumo disso tudo. Dá pra perceber cada mínimo detalhe – e estivemos atentos a cada um deles – das músicas quando se ouve o todo? Absorvemos tanta informação mas negamos quantas outras? Assim como foi pensado no filme “Algures”, que também é o clipe de “O Que Vejo”: a atenção pede por atenção.

Falando um pouco sobre a sua banda, no último mês a Marrakesh lançou o EP Knots com uma levada que vai do Trap a um Pop mais sério. Como aconteceu a ideia e processo de produção do trabalho?

O EP veio de um fluxo de produção mais individual na banda, ainda mais com a pandemia. Tivemos que aprender a trabalhar separados e confiar um no outro. Um processo novo, mas muito válido também. Sinto que tivemos mais tempo para expressar o que cada um queria em cada faixa. Muitas vezes nem tinha muito o que acrescentar, pra falar a verdade. A sonoridade era algo que a gente já vinha experimentando. Muitos rolês que a gente fazia em 2019 já tinham as músicas como trilha sonora e era sempre divertido ouvir elas. Acho que veio muito de fazer um som que a gente gostaria de ouvir nesses momentos.

Trabalhar em cinco é muito diferente que em duas pessoas? Como funciona o brainstorm criativo e workflow da banda no estúdio?

Menos é mais [risos]. Mas falando sério, trabalhar em cinco nem sempre é tranquilo, ainda mais se os cinco gostam de opinar. É um aprendizado diário. Tem que confiar muito um no outro, mas acredito que já chegamos nesse ponto. No EP muito partiu do Bruno e do Lucas. Eles sempre se encontravam pra produzir e depois nos mostravam o que tinham feito. A partir daí era um passa-passa de sessão de Ableton, cada um com seu forte.

As faixas desenvolvidas em ambos os projetos aconteceram mais ou menos no mesmo período? Você sente que Thomas do Gumiber influencia o Thomas do Marrakesh e também o contrário?

O processo de finalização das faixas da Gumiber cruzou um pouco com as coisas da Marrakesh, mas nada que atrapalhasse um ou outro. Acho que tudo que fazemos acaba influenciando todos os projetos, mas vejo mais como uma forma de liberdade criativa. A Gumiber tem um som que sempre quis fazer, mas não vejo encaixando na Marrakesh e o contrário também. Abriu espaço pra um foco maior em cada projeto, fazendo o que precisa ser feito em cada um.

O Que Vejo E O Que Quero Enxergar foi lançada pelo LogoLogo, selo criado por você, seu colega de banda Daniel Tupy e Leonardo Migdaleski. Em que momento e por que vocês sentiram a necessidade de ter a própria plataforma para lançar suas faixas?

A ideia da LogoLogo surgiu em 2017, quando o Leo fazia umas festas lá em Curitiba. Na época, meu estúdio ficava muito próximo da casa dele e acabávamos nos encontrando quase todos os dias. Papo vem, papo vai e a vontade de um selo foi surgindo. Acabamos desistindo da ideia na época e revivendo ela ano passado. Sinto que foi o tempo certo. Em 2020, o Dani estava com o EP quase pronto e eu com a ideia de terminar as faixas da Gumiber, mas sem algum lugar ou meio propício pra lançar. Nisso juntou o útil ao agradável e decidimos começar algo nosso.

Vimos também que a LogoLogo também tem um foco na expressão estética e visual. Aliás, você também é responsável pelos visuais que acompanham o EP. Conte-nos um pouco mais sobre esse viés da gravadora e esse seu lado artístico.

Nas primeiras conversas sobre o selo já falávamos sobre não ser só sobre música. Todo mundo faz tantas coisas e adoramos isso. Até tínhamos dúvida se chamávamos de selo ou algo como ecossistema. Então vídeos, fotografias, textos, publicações impressas, vestuário… tudo nos atrai. Da minha parte, sempre tive interesse por outras áreas fora das musicais. A LogoLogo tem sido uma espécie de laboratório pra mim e isso não tem preço. A ideia é sempre que possível implementar um “algo mais” nos nossos lançamentos e conteúdos, sempre com carinho e atenção pra chegar ao público da melhor forma possível.

Um ano após o início da pandemia e ainda seguimos em momentos muito delicados. Como você passou por todo esse período até agora? O que você espera de 2021, pessoalmente e como profissional?

Sou muito grato por ter sido tranquilo por aqui até agora. Apesar de tudo, pude continuar fazendo minhas coisas de casa. Assim como muita gente, estava esperançoso pra 2021 mas já estamos em Março e a situação não tem previsão de melhora. Por enquanto tenho feito o que me é possível pra me manter ocupado. A LogoLogo está com planos de lançamentos, Marrakesh produzindo álbum novo, trabalhos de design, trilhas sonoras e por aí vai.

Para finalizar, uma pergunta tradicional do Alataj: o que a música representa em sua vida?

Música é uma coberta quentinha quando tá frio.

A música conecta.

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