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A música conecta

Alataj entrevista Hernan Cattaneo

Por Jon Fachi em Entrevistas 03.09.2021

Uma carreira que se confunde com seus épicos long sets: iniciando devagar, se mantendo consistente, intenso e quando achamos que ele já entregou tudo, acelera e surpreende com feitos memoráveis. Aos 56 anos, Hernan Cattaneo conduz sua trajetória como se estivesse em um amanhecer no templo, com sua legião de fãs contemplando uma capacidade única de conduzir a pista de dança.

Nos últimos cinco anos, Cattaneo surpreendeu com shows junto de orquestras, documentário na Netflix, reconhecimento de sua cidade como destaque cultural, prêmio de melhor DJ e, principalmente, liderou das cinzas a reconstrução da cena eletrônica argentina até faze-la alcançar o respeito das grandes mídias do país. Ao mesmo tempo, sua carreira internacional permanece intacta, afinal, o título de “maestro” lhe rende uma base muito fiel em todos os cantos do mundo, do Brasil ao Japão ou Holanda – isso, é algo que poucos artistas conseguiram obter até hoje. Hernan se encontra em um patamar de não precisar competir com healiners de grandes festivais tocando sets massivos de duas horas.

“Visão é significado, significado é história”, disse Rust Cohle em True Detective. Essa frase buscada de uma das séries favoritas do argentino pode ser usada para ilustrar como sua abordagem e visão sobre música e a cena são outras, preferindo construir noites inteiras do zero fazendo o trabalho de três ou quatro DJs em clubs de referência ao redor do planeta. Quem já pegou uma data sua no Warung, sabe do que estou falando. Hernan proporciona sets que ficam para a história do lugar e das pessoas envolvidas. Discorrer sobre sua carreira renderia diversas páginas, então, arrisco a destacar na introdução desta entrevista sobre seu livro Um sonho de DJ, que talvez seu lado humano seja mais louvável do que seu talento no controle de uma boa Pioneer DJM 900 e quatro CDJs 2000 Nexus, seu setup clássico.

O carinho para com os fãs e a atenção fora dos padrões com quem lhe segue são nuances de quem entende a responsabilidade que tem perante espectadores sedentos por música com alma. Hernan compreende que as pessoas criam expectativas sobre quem você é fora do palco também. O que pensa e como age um ídolo fora daquele ambiente tão favorável? Respondemos essa pergunta com uma frase que salta aos olhos em seu livro: “É legal ser importante, mas é mais importante ser legal”, ou seja, o reconhecimento é ótimo, mas nunca será maior do que a criação de conexões com pessoas, onde frequentemente algumas acabam se tornando amigas. Hernan é um verdadeiro construtor de pontes, seja entre pessoas que sempre se veem na pista para se emocionarem juntas, seja entre produtores que sonham em ter uma faixa tocada por suas mãos, ou em toda uma comunidade em seu país que preserva o ideal da cena House Progressivo.

Foto: Arquivo pessoal – 1979, Hernan Cattaneo com 14 anos

Sua história de vida é um exemplo real de um dos conceitos mais importantes da filosofia:

‘’Demore o tempo que for para decidir o que você quer da vida, e depois que decidir, não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir’’. (Friedrich Nietzsche) 

Ao ler o seu livro você rapidamente percebe que é exatamente isso: Hernan não recuou sob nenhum pretexto, mesmo quando nenhum sul-americano jamais havia sonhado estar entre os DJs ingleses, americanos ou alemães, ele não apenas se colocou entre seus mestres como, em muitos aspectos, os superou. A mensagem principal do livro é sobre saber quem você é desde cedo, sobre paixão insana por compartilhar o que você gosta com outras pessoas e principalmente, sobre determinação no que fazer. Esse último ponto diz muito sobre a cultura argentina. É um livro que pode servir de inspiração para qualquer um, estando no mundo musical ou não. Toda a sua vida, todo o seu amor, toda a sua memória, é tudo a mesma coisa. É tudo sobre o mesmo sonho. Um sonho de ser um DJ.

Alataj: Olá, Hernán, obrigado por esta entrevista. Ao ler o seu livro, me pareceu claro que ele tem sido encarado como um legado que você deixa para as futuras gerações que também tem ‘’um sonho de ser DJ’’. Podemos encarar dessa forma?

Hernan Cattaneo: Sim, espero que pareça assim, pois era minha intenção desde o primeiro dia em que concordei em fazê-lo. Me interessava em contar histórias de paixões e sonhos que vão além do fato de eu ser DJ, skatista ou um cartunista. Acho que o mais interessante para mim foi escrever sobre o que está por trás disso, o que não é tão conhecido e que pode servir a quem tem paixão por algo diferente do que todos acreditam ser o caminho mais seguro.

‘’Acredito que a melhor versão de si mesmo é aquela que inclui amor e paixão.’’

Me parece que cada vez mais vemos pessoas se sentindo desajustadas com o ‘’sistema’’. Temos uma sociedade em que a maioria das pessoas trabalham em lugares e exercem profissões que no fundo não gostam. Fica claro no livro que você era um adolescente que estava buscando algo para se conectar, encontrando nos discos uma resposta e um caminho para seguir. Você acredita que a música salvou sua vida?

Sem dúvida, a música salvou minha vida. Primeiro porque desde cedo ela me encheu de felicidade, também traçou um caminho a seguir e depois porque pude fazer dela uma profissão e ter uma vida muito boa graças a isso.

Concordo plenamente com o que você diz sobre as pessoas que escolhem profissões pela segurança que proporcionam, mas estou convencido de que vale a pena lutar pelo que se ama além da previsão econômica.
Acredito que a melhor versão de si mesmo é aquela que inclui amor e paixão. Eu poderia ter sido advogado ou contador como meu pai sonhou, mas posso garantir que não teria sido tão feliz ou tão bem-sucedido quanto fui como DJ. A paixão é como um motor que você tem nas costas e que sempre o empurra para a frente.

Foto: Arquivo pessoal – 1968, Hernan Cattaneo com 3 anos

Me chamou muito atenção as histórias do início da sua carreira, onde o grande público talvez não conheça. Qual a importância da família ‘’Los Marchetti’’ em sua trajetória?

Os Marchetti e o 13º andar foram uma grande influência na minha vida. Aquele apartamento onde moravam meus amigos gerou uma atração muito especial, como um ímã. Música e amor com alta fidelidade estavam por toda parte e eu realmente gostei. Embora minhas primeiras impressões musicais tenham vindo de minhas irmãs, a dos Marchetti* foi como ir para o próximo nível para um menino de 10 ou 12 anos.

*Nota: Los Marchetti eram vizinhos do prédio em que Hernan morava no bairro Caballito, Buenos Aires. A relação de amizade com a família colecionadora de discos ajudou na expansão inicial de seu conhecimento musical. Abaixo playlist com faixas da época:

‘’A música não era algum tipo de acessório, muito pelo contrário, era tudo para mim’’. (pag. 45)

Sobre as influências que recebeu de suas irmãs mais velhas, você cita o álbum The Dark Side of The Moon, da banda Pink Floyd, como sua grande inspiração para definir seu estilo musical. Me chamou atenção a frase em que você fala que sua música tem mais ‘’denominadores em comum com esse disco do que muitos outros eletrônicos’’. Fale mais mais sobre essa relação com a banda e esse disco em especial, que também é meu favorito.

Fui uma criança muito musical desde bebê, mas Dark Side Of The Moon foi o primeiro disco que ouvi que me deixou louco com um álbum completo, pois havia um conceito do início ao fim. Além das músicas que são sensacionais e que todos já conhecem, haviam também outros elementos que me chamaram atenção.

Primeiro, sua continuidade. Naquela época (e ainda hoje) muitas canções duravam três, quatro minutos e depois terminavam com fade out e silêncio, algo que me parece horrível e nunca entendi. Dark Side Of The Moon era muito diferente. Todas as músicas foram misturadas com outras como eu nunca tinha ouvido e aquela sensação de algo hipnótico e cinematográfico me pegou completamente. Era como um álbum com uma única grande música, como um enorme mantra com climas e momentos diferentes, mas sem silêncios. Foi uma emoção contínua como eu nunca tinha ouvido antes. E então havia os efeitos que eram muito atraentes para mim. É um álbum de Rock mas cheio de sons eletrônicos. E tão pouco tinha ouvido algo assim – essa forma de gravar sons com truques estéreo, fitas e delays. A gravação usou muitas técnicas que foram introduzidas por Alan Parsons, o engenheiro de som do Abbey Road Studios, e que eram muito novas para a época. Foi um álbum muito diferente de todos os outros.

Quando a cena eletrônica como conhecemos hoje ainda nem existia, você já era DJ residente em um club local da cidade, o Cinema, ainda nos anos 80. Quão importante foi para o seu desenvolvimento técnico como DJ tocar por várias horas mixando estilos distintos?

Foi muito importante. Naquela época nós DJs tocávamos em clubs às sextas-feiras, sábados na matinê, sábados à noite e domingos, então havia muito tempo para aprender o trabalho dos DJs. Cada dia tinha um público diferente e era ideal para ganhar experiência.

Nos dias que a boate não abria, eu passava a noite inteira praticando mixagens para depois ficar melhor no final de semana. As pessoas em geral não gostavam muito de House, então nós programávamos de forma que a cada duas ou três músicas tínhamos que colocar algo mais conhecido para manter a pista sempre cheia.

Em minha opinião, existem três momentos chaves do início da sua carreira que ficam evidentes na leitura. O primeiro quando você viu um DJ pela primeira vez. O segundo quando você descobre um mundo novo ao receber os primeiros discos de House Music vindos de Nova Iorque. E o terceiro quando você encanta um super astro da Dance Music, que depois te levaria pelo mundo com ele. Alejandro Pont Lezica, Frankie Knuckles e Paul Oakenfold. O quanto eles impactaram sua vida?

Eles impactaram muito e marcaram minha vida por completo.

  • Alejandro foi o primeiro DJ profissional que vi. Ele me mostrou um panorama totalmente diferente do que eu conhecia como DJ amador. Foi como ver o futuro e todo um mundo que já existia lá fora, mas que nunca tinha visitado – vivi como uma grande revelação e me fez perceber que o que eu fazia como uma brincadeira na minha casa também tinha uma versão muito mais atraente e interessante profissional.
  • Frankie foi fundamental porque vê-lo foi como fazer um DJing Master em Harvard repetidas vezes. Já conhecia muito bem o trabalho de um DJ, mas com o Frankie aprendi muito sobre a personalidade do DJ, a identidade, a forma de colocar música, os tempos e os tempos, sets longos, abrir uma noite ou encerrá-la. Isso me inspirou a ter confiança em fazer apenas o que eu gostava. Frankie tinha um controle incrível da cabine e hipnotizava a pista com suas músicas, mas principalmente com sua maneira de colocar música sem compromisso.
  • E Paul foi quem me levou de DJ local a internacional – de Buenos Aires ao mundo – algo que naquela época era impossível de imaginar já que no cenário internacional eram quase todos DJs ingleses, norte-americanos ou alguns alemães. Paul foi o primeiro DJ a deixar de tocar em clubs para encher estádios. O inventor dos DJs superstar e entre outras coisas foi também quem começou girar pelo mundo com o seu próprio DJ de warm up, algo que nunca tinha acontecido antes. Ele abriu todas as portas para que eu pudesse me tornar o que sou hoje. Além disso, eu também lancei meu primeiro álbum duplo internacional – Perfect Presents – Hernan Cattaneo – South America, 20 anos atrás e a partir daí minha carreira disparou para níveis que eu nunca teria sonhado, tenho muito claro que dificilmente teria acontecido sem a sua participação.

A sua paixão pela House Music é algo impressionante. Você chegou a vender seu carro para poder ir a NY ver o Frankie Knuckles tocar, certo? Conte-nos melhor sobre aquele momento de descoberta de um novo mundo musical.

Quase por acaso, em 1987, recebi alguns discos de House Music que era um gênero novo e que eu não conhecia em nada. Gostei instantaneamente, pois era uma mistura de tudo o que eu gostava. Um som emocional de Soul ou black music, mas com uma base rítmica um tanto eletrônica mais ao estilo europeu.

Frankie era o principal impulsionador e em pouco tempo percebi que para saber mais e aprender sobre este novo som tinha que ir vê-lo e ouvi-lo em NY. Naquela época nós, DJs, não ganhamos dinheiro, mas eu vivia muito atualizado, pois investia tudo que ganhava na compra de cada vez mais vinis a cada semana. Então, a única maneira de comprar uma passagem era vender meu carro e ir para os EUA ver o FK.

Eu gostava do meu carro, mas era muito mais importante para mim aprender tudo o que pudesse com Frankie e me tornar um bom DJ de House. Cada vez que viajava, eu chegava muito cedo para que pudesse ficar ao lado de sua cabine (the sound factory club) para que eu pudesse vê-lo fazendo sua mágica do início ao fim.

Um curiosidade que gostaria de relembrar é a da época em que você fazia viagens a Porto Alegre para comprar discos que não se achavam em Buenos Aires. Você cita no livro artistas brasileiros, quais você ouvia?

Em meados dos anos 80 eu e meu grande amigo Julio Lugones viajamos para Porto Alegre pois no Brasil havia duas coisas muito importantes que não se conseguia na Argentina: maxi singles de músicas europeias e americanas com versões bem diferentes das que tínhamos e também um grande número de discos de bandas brasileiras muito procuradas em Buenos Aires que pouquíssimos DJs tinham, como Gilberto Gil, Paralamas, Guilherme Arantes e muitos outros. Tudo também em versões estendidas que as gravadoras davam a você. Enquanto na Argentina as gravadoras não ligavam nem para os DJs nem para as versões estendidas, no Brasil eles nos atendiam muito bem e nos davam uma grande quantidade de discos que valiam ouro para nós.

Foto: Ano 2000, La Plata – Buenos Aires

Antes de se mudar para a Europa, você foi residente por muitos anos na Pacha de Buenos Aires, colocando House/Progressive House todos os finais de semana e tocando junto dos DJs ingleses que começavam a vir para a América do Sul. Quão importante foi esse club para criar uma identidade progressiva tão forte na Argentina?

Puff !!! Mas como foram bons aqueles anos! A Pacha da BA era uma bomba e no final dos anos 90 recebia os melhores DJs do mundo todas as semanas. Sasha, Deep Dish, Nick Warren, Danny Rampling, Danny Tenaglia, John Digweed, Lee Burridge, Danny Howells e uma lista interminável de tops que estavam influenciando o gosto musical dos clubbers argentinos todos os sábados com seus sets. Com muito orgulho posso dizer que, ainda hoje, todos esses DJs têm mais seguidores na Argentina do que em seus próprios países. Eu era o residente, então abri ou fechei as noites, pude ficar perto deles e aprender muito também.

Você menciona no livro que quando lançou seu selo (Sudbeat) em 2009, não era o melhor momento devido a mudança geracional que o House Progressive estava passando, depois de estar no auge por 10 anos. Como você tem observado a posição dessa cena no contexto global da Dance Music? Eu sinto que o Techno está dominando o coração dos jovens novamente, porém, existe espaço para todos os estilos terem DJs na linha de frente, concorda?

É verdade, felizmente a partir de 2010 o cenário global é composto por muitos “nichos” musicais diferentes uns dos outros e cada um representa um estilo com DJs e fãs desse som. Isso permite que todos os produtores e DJs tenham relevância dentro de sua bolha sem a necessidade de prestar atenção no som está na moda em um nível massivo.
Acho que é uma mudança muito favorável para desenvolver a identidade e personalidade musical de cada pessoa sem depender da opinião da mídia, que geralmente foca no som do “momento” e nada mais. Todos nós sabemos como é o jogo das modas e também que o que está quente hoje será esquecido em poucos anos.

‘’Podemos defini-lo como o gênero dos gêneros, porque pode-se encontrar em suas composições algo de House e algo de Techno, mas também de Trance, Tribal ou breakbeat.’’ (pag. 207- em relação ao House Progressivo)

Em 2005 você já havia conquistado quase tudo que um DJ global pode querer, residência em Ibiza, ranqueado entre os 10 melhores DJs do mundo da DJ Mag, os maiores festivais em horário nobre. Porém, aquele ano determinou um antes e depois na sua vida, que é quando aparece Jackie, sua esposa. Como é conciliar a vida de “frequent flyer’’ com a família?

É verdade, em 2005 “parecia” que tinha tudo e mesmo assim não estava muito feliz. Sempre sonhei em constituir família e sentia que aos 39 estava começando a perder a oportunidade de conquistá-la. Mas de repente e em uma daquelas situações que acontecem uma em um milhão, eu conheci Jackie e minha vida mudou completamente. Para conseguir um bom equilíbrio entre a família e uma carreira global (o que é muito agradável mas muito exigente) é essencial estar com a pessoa certa e Jackie é a responsável por tudo correr muito bem.

Passo metade da minha vida em casa e a outra metade voando pelo mundo e o seu apoio é fundamental. Não só eu e minha profissão, mas muito mais importante, estar sempre pronta para conter nossas três filhas que também precisam muito dos pais.

A sua mudança de Londres para Barcelona com certeza foi algo importante na sua carreira. Você teve o privilégio de acompanhar de perto o ‘’Barça de Guardiola’’ com aquele time que encantou o mundo e é considerado um dos maiores da história. Conte-nos sobre esse momento da sua carreira e sua relação com o futebol.

Amo futebol desde criança, mas sempre joguei MUITO mal. Sou torcedor do Boca Juniors, mas a violência no futebol argentino me fez parar de ir aos estádios há muitos anos. Em 2006 viemos para o Barcelona quando Reikhard, Ronaldinho e Deco ainda estavam lá. Messi ainda era um jovem da reserva que começava a aparecer.

Algum tempo depois Pep Guardiola assumiu o controle, e aos poucos se formou o melhor time de futebol que vi em toda minha vida com Messi, Xavi, Iniesta, Busquest Dani Alves, uma escalação maluca que será muito difícil de repetir. Acho que conquistaram 13 dos 15 títulos que participaram – números incríveis com um jogo muito bonito para assistir e curtir. Muito triste ver o Leo agora ter que sair tão repentinamente, recebendo um tratamento totalmente fora de sintonia com quem foi o melhor jogador da história do clube.

Foto: Sunsetstrip, fev 2020, Buenos Aires

Em mais de três décadas como DJ profissional você já se apresentou em centenas de clubs de todos os cantos. Porém, você reserva algumas páginas para falar de alguns dos seus favoritos, entre eles o Warung e o Stero em Montreal. O quão importante é ter clubs como “casas” na carreira de um artista?

Tive o privilégio de me sentir em casa em alguns dos melhores clubs do mundo e poderia dizer que é algo como jogar em casa no Maracanã ou no Camp Nou. Warung e Stereo são sem dúvida os dois melhores clubs das Américas e para mim é um orgulho fazer parte de seus line-ups por tantos anos.

O carinho do público no Brasil é incrível e como já disse várias vezes, cada vez que vou tocar me sinto em casa. Mal posso esperar para voltar ao Templo de Itajaí para um daqueles long sets de muitas horas que tanto o público quanto eu gostamos muito.

‘’Sou muito agradecido. Sei que a vida de um DJ global é um grande privilégio e trato de não perder de vista como era tudo quando comecei e onde estou agora’’ (pag. 164)

Os últimos cinco anos da sua carreira foram impressionantes, Teatro Colón, Campo de Polo na reconstrução na cena em Buenos Aires, Sold Out no Warung, prêmio de melhor DJ, documentário na Netflix e agora um livro. Você acredita que esse auge tem sido maior do que o início dos anos 2000-05?

É um pico diferente, talvez com um foco mais individual. Nos anos 2000/5 fiz parte de um grande grupo de DJs que promoviam um som e uma indústria basicamente inglesa. Tínhamos todo o apoio do establishment e da mídia para o nosso coletivo. O som progressivo estava na moda em todos os lugares, então era como se o vento estivesse a seu favor o tempo todo.

Depois de 2007, o som que estávamos promovendo perdeu popularidade e muitos dos DJs principais, bem como as marcas e a mídia foram para um lugar mais moderno como Berlim, o que deixou alguns DJs um pouco “desamparados” e nos obrigou a começar um caminho mais solitário na estrada. Alguns de nós permaneceram fiéis à nossa identidade e personalidade e, felizmente, muitos fãs ao redor do mundo apreciaram isso. Aos poucos, uma boa cena foi montada novamente e os últimos cinco anos têm sido espetaculares em todos os níveis.

Foto: Campo de polo, Buenos Aires, bairro Palermo, fev 2020

‘’De menino era mais idealista e depois fui entendendo que há que viver e deixar viver, cada um tem seu trabalho, seu estilo, e no fundo os países que tem a melhor cena de música eletrônica são os que em cada estilo tem representação.’’ (pag. 118)

Existe ainda algum sonho que você gostaria de realizar como DJ na cena eletrônica? Como tem encarado essa volta a “frequent flyer” com todos com muita vontade de te ver tocando long sets novamente?

Muitas vezes eu disse que uma das coisas mais interessantes do nosso mundo eletrônico é a sua dinâmica. O tempo todo está mudando e isso significa que sempre há coisas novas e interessantes para ouvir e fazer, por isso o panorama é muito atraente.

Depois de fazer os shows Connected ficamos com vontade de fazer outros baseados em nossas músicas e felizmente eles já chegam no próximo mês no Teatro Gran Rex (Buenos Aires) onde, junto com Soundexile e alguns convidados, faremos versões ao vivo de nosso repertório e é um projeto que estamos muito animados.

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