“Rumo ao alto e ao infinito”. Só pelo nome e seu significado, já dá para perceber que o Duc In Altum não se trata de um projeto qualquer. Por trás dele está o brasileiro Eric Frizzo Jonsson e a sérvia Arjana Vrhovac Jonsson — ela, além de fazer parte do duo ao lado do marido, integra o time do Grupo D-EDGE, atuando na parte de bookings e relações artísticas internacionais.
O Duc In Altum foi formado em 2013 e soma passagens por clubs icônicos da capital paulista como Garage, Lions, Clash, Trackers, Aloca, além do D-EDGE, claro. A estética sonora também já foi admirada pelo público internacional, Gare (Portugal), Exit Festival (Sérvia), Audio Club (Genebra) e 5A em Lisboa são alguns venues por onde a dupla já se apresentou.
Seu mais recente trabalho é o EP Pannonian Sumaré, lançado pela Cabana Music em janeiro deste ano. Nele, Arjana e Eric deixam os principais pilares musicais que sustentam o Duc In Altum, explorando linhas minimalistas que vão de encontro ao Dub Techno até o Leftfield House, sonoridades orgânicas e ambiências bem trabalhadas também se destacam em suas produções. Abaixo o duo compartilhou com a gente todos os detalhes em torno da construção deste EP:
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Pannonian Sumaré | A ideia do ep todo foi unir nossas culturas e influências, europeias e latinas e fazer duas tracks que de alguma maneira mostrasse essa união musicalmente. Por isso veio o nome Pannonian Sumaré, um decreto artístico que deveria ser mais empregado em todos meios e lugares, da união e convivência de culturas ao invés de segregar ou dividir como acontece muito nos dias atuais.
Pannonian era um mar da antiguidade na região leste europeia, hoje em dia todo esse território do antigo mar Pannonian são diversos países europeus, dando mais uma vez foco de multicultura e Sumaré é o nome do nosso bairro em São Paulo.
The Bass | Uma track mais lenta, seca, minimalista mesmo, com essa pegada mais europeia, musicalmente falando. Mas a percussão e o baixo tem sonoridades bem latinas, puxadas para bossa nova e música brasileira. O foco da música é o baixo, assim como o nome da track sugere. Nosso processo é parecido com os de produtores de Hip-hop, procuramos samples em discos e na internet também, para usar esses samples na música. Pensando nisso, resolvemos comprar um sampler chamado Mpc Live, da lendária Akai.
Como nos últimos anos estamos indo a Europa pelo menos uma vez ao ano. Neste fizemos as melhores compras, pois mesmo estando em outros países ou mesmo no avião podemos produzir, já que o aparelho é portátil e conta com uma bateria de lithium igual a muitos notebooks. Nessas viagens geralmente saem muitas ideias criativas para as músicas. Fora que esse sampler é incrível para ampliar discos, já que vem com uma entrada fono rca, assim é só colocar o cabo do toca discos na Mpc e gravar a parte que quiser dos discos; ainda conta com um HD para o armazenamento de loops, samples etc. Nessa música a ideia era ser levado pelo baixo e criar uma atmosfera ao longo do arranjo com a bateria, efeitos etc., até muita gente diz que essa música é sexy e foi feita para dançar pertinho de alguém, uma coisa que não tínhamos pensado, mas muita gente nos falou sobre esse aspecto.
Já na parte mais técnica usamos o vst Rob Papen Sub Boom Bass no sub. Gosto muito de usá-lo tanto em subs como algumas coisas percussivas. A bateria uso bastante samples de baterias analógicas como Vermona, 808, 909 etc. Ultimamente tenho usado a própria bateria analógica Vermona DRM mk3, é sempre mais orgânico quando você faz jams com equipamentos do que só usar samples, mas hoje em dia dá pra fazer muitas coisas bem legais somente com samples e o Ableton Live, acho que a chave é combinar e fazer algo fluido sem muitas regras.
Uma grande referência no nosso trabalho musical é o Ricardo Villalobos. Quem gosta desse produtor sabe que essa união européia–latina ele desenvolve com maestria em suas músicas, referências são muito importantes, mas criar uma sonoridade que tenha sua assinatura é ainda mais, acho que conseguimos isso nesta track através de detalhes como muitos glitches ao longo da track.
Prikas | O nome em romeno significa amigas, dei esse nome por influência do DJ e produtor romeno Priku, que aliás tivemos o prazer de abrir para ele ano passado no D.EDGE. A ideia surgiu porque compramos um gravador de áudio Tascam (estamos usando muito ele pra inserir sonoridades orgânicas nas músicas, principalmente vozes e efeitos) e gravei a Arjana conversando com uma amiga dela na Sérvia, dessa conversa tiramos as vozes que acompanham a track inteira. Voltando ao Brasil nos nossos garimpos de discos pela cidade acabamos encontrando um de sons dos animais da amazônia, com introduções do Cid moreira. Aliás usei um sample desse disco onde o Cid Moreira cita o Rio Amazonas dizendo: ‘O mar doce!’ em vários momentos da música.
O conceito da track surgiu entre a conversa de duas amigas, as Prikas, e se desenvolveu com a ideia de conversas de animais da amazônia. Os synths e os glitchs — fora o das vozes — são animais sonoros que eu inventei que somente existem na música. Cada glitch, chord e baixo dessa música eu tentei emular como se fosse sons de animais imaginários conversando entre eles no mar doce, ou melhor, na Amazônia. Essa é uma música mais rápida, com 126-127 BPMs, mais melódica que a The Bass e que novamente foi uma união dos ritmos latinos e europeus, em resumo uma conversa de animais da Amazônia e humanos na Servia [risos].
Na parte técnica, usei samples desse disco sobre amazônia e muitas gravações da conversa da Arjana e amiga dela com o gravador Tascam. Na parte de plugins usei bastante o Pigments da Arturia, nos chords e em um baixo. Na parte da bateria usei samples da 808 analógica gravadas em tape do Kick, alguns samples da Elektron Digitone e da Roland Mc 505 também, essa é uma track que foi praticamente feita por samples e sequenciada no Ableton Live.