Eu nunca achei que aconteceria comigo. Sempre me achei criativo o suficiente para não me deixar abalar por qualquer ‘momento de improdutividade’. Meu nome é Carlos e essa história é sobre o momento mais difícil da minha carreira (até agora).
Cargas emocionais e energéticas são assuntos que eu nunca dei tanta atenção antes, soavam pra mim como obstáculos que colocamos na vida. Talvez pra não se cobrar tanto… Eu imaginava mentes criativas como sendo mais fortes, mais capacitadas a lidar com imprevistos, sendo as únicas a passar intactas pelos labirintos dos pensamentos. Logo descobri que, na verdade, é o contrário disso. Pelo menos a minha mente criativa — meu poço inesgotável de conteúdo, ações, arte, ideias, etc, — deu seus primeiros sinais de falha no processo final de construção do meu álbum e se mostrou muito mais frágil e delicada do que eu imaginava.
Logo agora?! Logo quando eu mais precisava ser criativo, logo num momento decisivo, logo quando eu estava me cobrando mais do que nunca. Depois de pensar no tanto de pressão que eu pus em mim mesmo, me deparei com os primeiros bloqueios criativos. Fiquei meses sem conseguir fazer nada, sem conseguir solucionar um problema que eu já sabia a causa. “Mano é fácil, você sabe onde tá o problema. Se cobre menos, relaxe, fume, beba”. Nada adiantou, ainda fui “presenteado” com alguns dos sintomas de ansiedade que eu mais temia: crise do pânico e despersonalização.
Quando você trabalha com arte, geralmente, esperam que você seja foda o tempo inteiro. Que faça coisas extraordinárias e ainda com a frequência que o mercado impõe. Isso piora tudo. Quantas pessoas extraordinárias já pensaram em desistir ou já desistiram por não se considerarem o suficiente?! Eu não cheguei a desistir, mas eu juro que eu pensei diariamente nisso. Hoje em dia, com a ajuda certa, foi possível me estabilizar e abrir as portas pra criatividade novamente. Foi só um período e passou.
Hoje agradeço muito às pessoas que conseguiram ter a paciência de entender meu momento. Que nem sempre seremos os mais fodas e que ser o mais foda é uma questão de percepção.
A música conecta.