A primeira sexta-feira de abril (04) marcou a estreia de Puka pela Abyssal Deep. O experiente DJ e produtor brasileiro, que ao longo de sua carreira adquiriu um notável reconhecimento pela sua habilidade em produzir sons voltados para a pista de dança, fez o seu debut na gravadora do também brasileiro Meca com um EP de duas faixas, Heart and Soul e Like Us.
A Abyssal Deep estreou em novembro de 2023 e é uma das marcas brasileiras mais consistentes dentre as gravadoras com trabalho iniciado nos últimos anos. O selo comandado por Meca, que despontou na pandemia e rapidamente conseguiu captar uma grande audiência, explora uma variedade de estilos, sempre com toque emocional e profundo, que também estão presentes na identidade musical de seu fundador.
O EP de Puka representa o décimo quarto lançamento do selo e tem uma narrativa criativa bastante interessante. Heart and Soul é um Breakbeat que bebe de referências clássicas do Electro rumo ao encontro do House. Já Like Us é um Indie Dance, mais explosivo e voltado para a pista, até por conta de seus 129 BPM — peak time, de fato. A nosso convite, Puka mergulhou (e talvez o nome dessa coluna nunca tenha feito tanto sentido) nos detalhes que dão vida a este novo release. Confira abaixo:
A ideia
Minha inspiração para este EP veio da conexão de longa data com gêneros como Hip Hop, Electro House e Breakbeat. Sempre fui fascinado por essas sonoridades mais enérgicas e cheias de identidade. A faixa Heart and Soul nasceu justamente desse desejo de resgatar uma atmosfera mais clássica do Breakbeat — algo que remetesse às raízes, mas com um toque atual e autoral. O vocal é mais melancólico, porém combina perfeitamente com a faixa.
Já Like Us segue por um caminho diferente, voltada para o Indie Dance. Essa escolha não foi por acaso. Meu último lançamento com o Meca, pela gravadora Watergate Records, de Berlim, também teve essa estética. Quis manter essa coerência artística e, ao mesmo tempo, explorar novas camadas dentro do estilo.
No fim das contas, a ideia central foi criar duas faixas com identidades distintas, mas que conversassem entre si dentro de uma mesma atmosfera underground. Elas se complementam nesse universo mais denso, introspectivo e, ao mesmo tempo, feito para a pista.
A escolha da gravadora
A relação com a Abyssal Deep nasceu de uma amizade sólida com o Meca. Fomos apresentados por um amigo em comum há alguns anos, e desde então cultivamos uma parceria tanto pessoal quanto profissional. Já havíamos produzido faixas juntos, lançado por outras gravadoras, e essa conexão foi se fortalecendo com o tempo.
Quando recebi o convite dele para lançar pela Abyssal, fiquei realmente muito feliz. Foi um momento especial, porque além de ser uma oportunidade de colaborar com alguém em quem confio e admiro, era também uma chance de criar algo que conversasse diretamente com a identidade da gravadora. Produzi as faixas pensando exatamente nessa proposta. Ao mesmo tempo, quis entregar um trabalho que trouxesse a minha assinatura como produtor.
A grande influência
A principal inspiração para Heart and Soul veio de uma faixa que sempre admirei muito: Sunglasses at Night, do Tiga. É uma música com uma identidade muito marcante, que carrega aquele clima denso e misterioso característico do Electro. Quando comecei a trabalhar em Heart and Soul, essa referência surgiu quase que naturalmente, como uma base emocional e estética para o que eu queria construir. Busquei trazer esse espírito à tona, dando meu próprio toque e atualizando a linguagem para o momento atual da cena.
Já Like Us tem uma trajetória diferente. Ela nasceu como uma continuidade do caminho que iniciei no meu último lançamento com o Meca, pela Watergate Records. Quis manter aquela pegada voltada para o Indie Dance, com uma estrutura progressiva, feita para a pista. A ideia era capturar a energia do peak time, mas sem perder a profundidade e a pegada mais underground que vem marcando minhas produções recentes. É essa dualidade entre emoção e pista que me inspira.
O significado
Esse trabalho representa um marco importante na minha trajetória, especialmente por trazer algo novo para a minha carreira. Eu já havia experimentado sonoridades diferentes em estúdio, mas ainda não tinha tido a oportunidade de lançar algo nessa linha. Com Heart and Soul, me aproximei do Breakbeat de uma forma mais profunda, explorando uma atmosfera inédita tanto para mim quanto para o público que acompanha meu trabalho.
Foi uma escolha intencional de apresentar algo diferente, algo que trouxesse uma nova roupagem para minha identidade sonora e expandisse o meu universo musical. Para quem já me segue há mais tempo, acredito que esse EP chega como uma surpresa positiva — é uma evolução, um passo adiante dentro da estética que venho desenvolvendo.
Em termos de carreira, esse lançamento simboliza uma fase de experimentação consciente, onde me permito ousar mais nas produções e, ao mesmo tempo, manter uma coerência artística com tudo o que construí até aqui.
A pista dos sonhos
Me considero muito realizado por tudo que já conquistei até aqui — pelos clubes, festivais e pistas que tive a oportunidade de viver intensamente no Brasil. Cada uma dessas experiências contribuiu para a minha trajetória e moldou o artista que sou hoje.
Mas se for para falar sobre uma pista dos sonhos, ela está na Europa. Tenho um desejo muito forte de me conectar com o público europeu, com a cena e com os artistas de lá. Existe uma troca muito rica acontecendo naquele cenário, e acredito que esse EP tem tudo para encontrar ressonância nesse contexto: sonoridades mais densas, texturas emocionais, uma vibe underground que conversa com o que vem sendo produzido e tocado por lá.
Meu desejo é que Heart and Soul e Like Us alcancem essa conexão — que as faixas encontrem espaço não só na Europa, mas também no mundo inteiro. Esse EP é uma entrega que vai além da pista, é sobre criar pontes e expandir horizontes.