Desde 2010, poucas gravadoras deixaram uma marca tão duradoura dentro de um estilo quanto a Hot Creations no Tech House. Pergunte a qualquer produtor do gênero em 2015 ou 2025, e o selo comandado por Jamie Jones e Lee Foss certamente estará no topo da lista de aspirações. O que a torna tão relevante é sua capacidade de ditar caminhos, em vez de segui-los. O selo britânico constrói sua jornada investindo em uma curadoria que dita tendências e explora novas direções, sem perder o foco na qualidade e no impacto que caracteriza seus lançamentos, mesmo dentro de uma abordagem mais comercial.
É nesse contexto que nocapz, um dos nomes mais promissores da nova geração brasileira, faz sua estreia na Hot Creations com o EP More Love, lançado em Dezembro de 2024. O produtor, conhecido por sua criatividade genuína e abordagem única, entrega um trabalho que reflete sua habilidade de reimaginar um estilo frequentemente saturado. A criatividade de nocapz não é um clichê e é importante que se diga isso — é uma assinatura que define a boa capacidade de construir faixas que dialogam com as pistas, mas sem perder uma identidade própria.
Seu novo release é composto por quatro faixas que exploram diferentes nuances do Tech House, com momentos que flertam com outros estilos. Midnight Thoughts, uma colaboração com Marian, traz grooves funkeados e uma estrutura que mais se aproxima do House, enquanto a faixa-título, More Love, combina elementos clássicos do Tech House contemporâneo com a irreverência característica da cena brasileira.
Com More Love, nocapz conquista um espaço em uma das gravadoras mais importantes do mundo e também reafirma o potencial do Brasil em contribuir com novos talentos e ideias para o cenário global. É um trabalho que não apenas destaca o produtor, mas também reflete a visão da Hot Creations de expandir as fronteiras criativas do Tech House. A nosso convite, ele compartilhou mais sobre ideias, fatos e inspirações que moldam este importante release em sua jornada:
A ideia
2023 foi um ano bem prolífico pra mim nos lançamentos e fez com que eu tivesse um aumento na demanda por shows no Brasil. Fui criando experiência com essas apresentações, mas sentia que os sons “peak-time” que a pista pedia eu acabava respondendo com sons de outras pessoas. Não que isso seja um problema, mas com o desejo de sempre trazer minha identidade nos sets, eu senti a necessidade de produzir uns sons mais envolventes que chamassem a galera.
Com isso recorri a sons mais acelerados do que eu costumava tocar (130-134bpm), com synths mais marcantes e uma escolha de samples mais agressiva e minuciosa. Três das quatro faixas do EP foram produzidas na mesma semana, isso me surpreendeu porque normalmente não produzo almejando um resultado, mas nesse caso facilitou bastante o processo.
A escolha da gravadora
Embora eu não goste de classificar meu som como Tech House, lançar na Hot Creations sempre foi uma grande meta pra mim. Talvez pela grande influência que o Jamie Jones tem no meu gosto musical, pela grande quantidade de tracks que eu toco da gravadora no meu set ou até mesmo pelo desejo de figurar entre os artistas referências que já lançaram por lá.
Envio som para a Hot Creations de maneira quase religiosa desde 2020. Confesso que os “Not For Me” de respostas nem doíam mais, mas algo me disse que essas faixas eram pra lá, tudo soava muito redondo como as tracks que eu curto dentro do que foram lançadas na gravadora. Acredito que esse fit alinhado com a bateria mais tech house e synths de rave dos anos 90 tornaram as faixas mais compatíveis ainda.
A Hot Creations foi a única gravadora que enviei as faixas (o que raramente faço) e ainda bem que deu certo. Um fato curioso é que eu e o Marian enviamos a Midnight Thoughts três vezes pra lá até aceitarem porque acreditamos que tinha que ser lá.
A grande influência
Cada vez mais eu venho me interessando pelos sons da década de 90. A estética, escolha de timbres e vibe da época têm me influenciado bastante nas produções, pois me remetem a pista de dança de uma maneira muito intrínseca que é o que me fez apaixonar pela música eletrônica. Nesse ano frequentei muitas vezes o D-EDGE e pude absorver cada vez mais essas influências dos anos 90 através DJs que passam por lá; sou muito grato a isso.
Acredito que esse EP pode servir bem ao catálogo da gravadora por se tratar de uma roupagem “fresh” a leitura que um moleque de 22 anos tem dos sons dos anos 90. Afinal de contas, não vivi a época, então tudo que absorvo dessas influências é diretamente relacionado a minha adolescência nas pistas de dança no final dos anos 2010.
O significado
A Hot Creations é sem dúvidas um grande marco na minha carreira. Sinto que as pessoas já consumiam meu som e curtiam a autenticidade que tem, mas o carimbo de uma gravadora como essa traz a credibilidade que as vezes eu sentia falta para o público aceitar as maluquices que eu faço no meu quarto com mais facilidade; é triste mas é verdade [risos]. Também fico muito feliz em saber que esse EP pode servir como uma grande vitrine para o meu trabalho e que se torne um convite para o público conhecer outros lados meus que não estão explícitos nesse release.
A pista dos sonhos
Fabric London. É muito doido ver o sorriso no rosto sempre quando alguém fala que já frequentou o lugar. Além de grandes referências passarem e serem residentes de lá, sinto por vídeos que o protagonismo da música no club é muito maior que as atrações e isso me cativa.