A integração da Inteligência Artificial Generativa na música representa um dos pontos mais cruciais e controversos desta indústria em 2025, conforme identificado pelo relatório Luminate Midyear Music Report 2025: Streaming, Genre, and Fan Trends. O relatório publicado este ano indica que um em cada três ouvintes de música nos EUA se sente “um pouco” ou “muito” confortável com o uso de IA para criar instrumentais de músicas.
Este número sugere uma aceitação substancial da tecnologia quando utilizada como uma ferramenta de produção ou aprimoramento técnico. A pesquisa também aponta que o conforto com a IA é ainda mais elevado entre os ouvintes de música mais jovens, sinalizando uma tendência geracional de maior abertura à experimentação tecnológica no processo criativo.
Para uma parcela significativa do público, a IA, neste contexto, é vista como um meio para aumentar ou transformar a produção sonora, seguindo a trajetória histórica de outras inovações que amplificaram a arte humana, como dispositivos de gravação ou as estações de trabalho de áudio digital (DAWs).
Contudo, a aceitação do público atinge um limite claro quando a IA se aproxima da autoria e da identidade humana central da música: a voz. Enquanto um terço dos ouvintes se sente confortável com instrumentos gerados por IA, 44% dos ouvintes dos EUA relatam desconforto com o uso de IA generativa para criar uma nova música original interpretada por uma voz de IA. Esta hesitação sublinha o valor que o público atribui à autenticidade humana na performance vocal.
O relatório destaca ainda que a aceitação varia de acordo com a subcultura: ouvintes de gêneros como EDM e K-pop estão notavelmente “mais abertos à prática” de vozes de IA, sugerindo que em certos nichos onde a produção é altamente estilizada ou inovadora, a barreira da autenticidade vocal é menos rígida.
No que diz respeito à percepção futura da “invasão” de conteúdos de IA na música, o público demonstra uma clara distinção entre IA como ferramenta e IA como artista. A disposição para aceitar instrumentos (1 em 3) e o desconforto em relação a vozes de IA (44%) indicam que o medo não é da tecnologia em si, mas sim da substituição direta da criatividade humana. No entanto, esta “invasão” já está em curso, marcada pela ascensão de atos que parecem ser fundamentalmente gerados por IA, como The Velvet Sundown e Aventhis, desafiando a própria definição de arte.
Este último citado, um projeto de dark country que divulga o uso da IA em seu processo artístico, por exemplo, gerou mais de 5 milhões de streams em pouco mais de dois meses no primeiro semestre de 2025. A atividade de streaming significativa desses artistas sinaliza que a tecnologia transcendeu seu papel de mera ferramenta para se tornar um “concorrente direto”.
O futuro da percepção pública dependerá de como a indústria e os quadros legais lidarão com as questões existenciais e econômicas que estes artistas de IA levantam, examinando criticamente a propriedade, compensação e a autenticidade num mundo cada vez mais movido por dados.