MARRØN jogou basquete profissionalmente por mais de uma década e representou a Holanda nas Olimpíadas de Tóquio 2020 no formato 3×3. Logo depois, Jesse Voorn decidiu abandonar completamente o esporte para se dedicar 100% à uma carreira no Techno. Cofundador da EERSTE COMMUNIE, uma das festas mais aclamadas de Amsterdã, MARRØN desenvolveu um som que funde suas raízes africanas com o Techno berlinense. Em seus sets rápidos e extremamente rítmicos, ele aplica a mesma resistência física e mental que é necessária em esportes de alto rendimento.
Nesta semana, ele chega ao país como um dos headliners do festival UNDER+HAIL, que acontece nos dias 14 e 15 de novembro em São Paulo. O evento une a expertise da Under Division e da Hail The Light em dois dias dedicados à música eletrônica independente, com mais de 20 artistas confirmados. MARRØN se apresenta na sexta-feira (14) no Palco Máquina, trazendo sua pegada tribal do Techno para o público brasileiro. O festival ainda conta com outros nomes de peso como Rebekah, Vermelho, Vinicius Honorio e DJ Marky.
Por trás da transição atlética e do sucesso da EERSTE COMMUNIE, a trajetória de MARRØN demonstra como diferentes formas de excelência podem se conectar. Quatro aspectos fundamentais explicam como ele transferiu sua mentalidade olímpica para o Techno neste que é apenas o início da construção de uma identidade artística sólida.
Este é o Raio X do Alataj.
Gravação de sets autorais
MARRØN desenvolveu uma obsessão particular: gravar sets para si mesmo, buscando constantemente aprimoramento e “encontrando vícios” em sua própria música. Essa prática, mesmo que solitária, se tornou seu principal método de evolução artística, muito antes de tocar para grandes públicos.
Um desses sets gravados em casa, parte de sua série Bakabusi, viralizou especialmente em Berlim, fazendo-o considerar a música mais seriamente. A prática de se ouvir criticamente criou uma autoconsciência técnica: a capacidade de ser simultaneamente performer e audiência de seu próprio trabalho.
A estratégia do tédio calculado
MARRØN adotou uma filosofia que pode parecer um pouco contraintuitiva: busca faixas que soem “entediantes” quando tocadas sozinhas, mas se tornem “incríveis” quando combinadas. Essa abordagem exige uma compreensão precisa de como elementos musicais interagem em camadas.
Tocando em até quatro decks, ele constrói dinâmicas através da subtração e adição de elementos, não através do aumento de BPM. Prefere alterar fluxos de energia pela seleção musical, criando narrativas longas que mantêm o interesse sem recorrer a mudanças óbvias de intensidade.
DNA cultural como identidade
O nome MARRØN homenageia os Cimarrones do Suriname, povos africanos que desafiaram a escravidão e fugiram para as florestas em busca de liberdade. Essa inspiração histórica se traduz diretamente em sua música: sons rápidos e rítmicos que carregam desobediência e autonomia.
Seu estilo funde elementos percussivos do Afro Deep com o Techno berlinense, criando uma sonoridade tribal e hipnótica. MARRØN costuma tocar entre 138-145 BPM, mas insiste que o som mantenha swing e o lado mais humano, priorizando uma abordagem minimalista com graves pesados e precisos.
Evitando virar referência cedo demais
MARRØN identifica seu maior desafio atual como “tornar-se referência a partir de um hype”, uma preocupação que mostra como ele entende a importância da longevidade artística ao invés de se apoiar num sucesso temporário, que pode comprometer sua autenticidade se não tomar cuidado.
Sua estratégia envolve manter padrões elevados enquanto resiste à tentação de aproveitar o momento atual de forma precipitada. Sendo assim, ele trata o sucesso como algo temporário que precisa ser constantemente conquistado, não como conquista definitiva.