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A música conecta

Funky, soul e brasilidades fazem parte do rico background de Fred Everything. Confira entrevista exclusiva!

Por Alan Medeiros em Entrevistas 10.03.2017

Fred Everything é um daqueles artistas referências quando a house music ganha as pistas. Nascido no Canadá, Fred começou a explorar a música ainda muito cedo, aos 13 anos. Em meados dos anos 90, iniciou sua jornada como DJ, sem deixar de lado suas sesions com os sintetizadores – que mais tarde renderiam grandes faixas. Ouça “Brothers & Sisters” abaixo: 

Com o avanço de sua carreira, passou a frequentar com mais intensidade o velho continente, onde desenvolveu ainda mais suas habilidades em pistas como Bomb e Soulsonic. Em 2001, Fred Everything lançou seu primeiro álbum e desde então, mantém uma agenda consistente e impressionante de releases por selos como Local Talk, Defected, Get Physical, Global Underground, Atjazz e Lazy Days Music – seu próprio selo.

Recentemente, ele participou do canal Tropicalia house.club, com um mix de 66 minutos de pura classe, onde suas referências provenientes do funky e soul se chocam de maneira certeira com uma linha de house music pulsante. Através do grande amigo Paulo Pires, conseguimos uma exclusiva com esse grande nome do house internacional. Confira o resultado do bate-papo baixo:

1 – Olá, Fred! Obrigado por nos atender. Sabemos que você iniciou sua vida musical muito cedo. De que forma os sintetizadores transformaram sua adolescência? Naquela época existiam bons meios para aprender técnicas de produção ou você teve de se virar sozinho?

Obrigado por me receber! Eu comecei a colecionar sintetizadores no final dos anos 80, então não havia realmente nada disponível para aprender – sem internet e sem revistas de verdade como hoje. Além disso, a música eletrônica era muito marginalizada e não tão popular, levaria anos para coletar equipamentos suficientes para fazer uma demo decente. Nada se compara aos padrões atuais de mixagem com infinitas possibilidades de replicações de hardware.

2 – Você nasceu e cresceu no Canadá, mas sua mudança para o Reino Unido certamente teve papel importante na consolidação de sua carreira. O que levou você a trocar de país? Chegando em seu novo destino, quais foram as principais dificuldades que você encontrou?

Eu só vivi em Londres por alguns meses em 1999. Isso foi muito instrumental na minha carreira, como comecei a tocar em alguns locais/festas icônicos no Reino Unido, bem como na Europa e solidificar alguns relacionamentos. Também terminei meu primeiro álbum (Under The Sun – 20:20 Vision) naquela época. Londres é cidade difícil de viver, eu a usei mais como um centro para viajar e fazer minhas coisas.

3 – A cena clubber britânica teve papel influenciador na construção de sua identidade sonora? Quem foram os seus principais parceiros de trabalho na música por lá?

Absolutamente! Eu fui um grande fã de música britânica desde muito jovem. Crescendo em uma dose saudável de música de Manchester (New Order, Joy Division, Factory…) e em seguida mudando para Sheffield,  som de inicio Warp Records. Tocando em lugares como o primeiro clube Plastic People em Oxford ao lado de Harri (Sub Club) e o falecido Kenny Hawkes. Nos Estados Unidos, todo mundo tocava rápido e hyped up. Eu lembro de Kenny me dizendo para ir mais devagar em uma uma noite, muito diferente da América, onde as pessoas sempre me falaram para tocar pesado. Também fui capaz de trabalhar no estúdio com pessoas como Atjazz e Mark Bell (Shaboom), entre outros, e consegui comparecer as minhas primeiras sessões de masterização.

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4 – “Someone Like You” é uma faixa que foi bastante tocada por diversos produtores ao redor do do globo. Como foi o processo criativo dela?

Obrigado. Essa faixa foi feita de uma forma bem diferente. Sempre tento mudar a forma que trabalho para não soar o mesmo. Para essa música, eu estava brincando com algumas amostras do meu artista favorito de Jazz moderno, Kamasi Washington. Seu álbum foi a trilha sonora de grandes mudanças em minha vida: uma mudança no relacionamento e me mudei de volta para Montreal após 8 anos vivendo em San Francisco. A amostra vocal veio de uma acapella que um amigo meu, Charlie (Colossus/King Kooba), me deu e eu armei para a música. A mensagem da canção estava diretamente falando do meu novo relacionamento com uma mulher que eu conheci há 20 anos e só recentemente nos encontramos novamente, e estamos juntos desde então. Eu queria manter as coisas peculiares, então adicionei algumas percussões de uma gravação que eu fiz de mim batendo alguns placas de metal na minha casa velha, quase como minha antiga vida encontra minha nova vida. Pezzner supostamente era pra ter colaborado nela, então ele fez um remix que nunca saiu e eu usei a amostra da sua versão, e misturei tudo no estúdio de um amigo meu em Montreal em alguns alto-falantes ATC grandes.

5 – Ainda sobre processo criativo, qual perfil você mais se identifica no que diz respeito a trabalho no estúdio: aquele que começa um projeto com a ideia final na cabeça ou aquele que simplesmente deixa as coisas acontecerem?

No momento, estou tentando deixar as coisas acontecerem. Eu costumava me preocupar tanto com o que deveria fazer e nunca conseguia fazer nada. Agora, vou para o estúdio sem nenhum julgamento e apenas toco e deixo as maquinas rolarem e gravo o máximo que posso. Tento não julgar ou pensar demais no processo, apenas deixo que venha naturalmente ao invés de forçar.

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6 – Seu currículo é composto por remixes e colaborações com nomes importantes, como Deetron e Catz n’ Dogz. O que há de mais bacana nessa troca de experiências entre artistas?

Colaboração tem sido uma grande parte da minha carreira. Minha discografia é 50% originais e 50% remixes. Eu gosto de trabalhar por conta própria, mas em algum momento isso pode ficar um pouco solitário e você pode continuar girando com as mesmas ideias. É por isso que também adoro ter alguns convidados vocalistas em alguns dos meus projetos. No caso de Deetron, eu pedi para ele remixar uma das minhas faixas e para Cat’z n Dogz, eu tinha feito uma edição de uma das faixas intro no álbum deles, eu gostei muito dela mas era muito curta e suave para tocar. Eles amaram o que fiz e me mandaram as partes originais para incluir no álbum de remix deles. Colaborações geralmente começam comigo entrando em contato com alguém. Se você não perguntar, a resposta vai ser sempre não!

https://www.youtube.com/watch?v=8l5irXxtogY

7 – Em suas faixas é possível identificar referências provenientes do funky e soul. Quão importante é para um produtor de música eletrônica estar conectado com outros estilos? Você tem algum conhecimento sobre a música genuinamente brasileira?

Sim, é verdade. Eu tive uma grande fase de influência da black music. Embora nesses dias, eu também gosto de misturá-los alguns dos anos 80 da nova onda de influência e até mesmo a música eletrônica ambiente do inicio dos anos 90. Também tive uma grande fase de música brasileira. Eu costumava ouvir muitos artistas contemporâneos como Joyce, Seu Jorge, Azimuth bem como clássicos da Bossa Nova. Amo muito o espirito da música brasileira, acho extremamente romântico. Eu quero dar os créditos a Far Out Recordings de Londres, por ter me apresentado tanto dessa música.

8 – Gigs, relases, novidades… quais são seus planos para 2017?

No momento, estou trabalhando duro na minha gravadora Lazy Days. Nós começamos um novo negócio de disco com Juno no Reino Unido, há muito material para lançar antes do verão. O próximo EP é uma pequena coleção de remixes inéditos que eu fiz para Crazy P, Roach Motel e Franky Selector. Depois disso, há uma compilação de Art Of Tones, um single do Hollis P Monroe, um duplo A Side remixes do nosso aniversário de 10 anos com Jimpster remixando uma faixa do Martin Iveson (aka Atjazz), e eu remixando Art Of Tones e alguns outros lançamentos. Também tenho algumas colaborações com Hollis P, uma saindo pela Suol, e alguns originais e remixes, incluindo um para DJ Gomi feat. Joe Cardwell, saindo na Nervous em breve. Sobre as Gigs, estou indo para Miami em breve para tocar com Tony Humphries, Danny Krivit e Miguel Migs em 25 de março, voltarei para Nova Iorque em breve, e estarei de volta na Croácia neste verão para o Defected Festival. Espero muito que eu possa voltar para o Brasil nesse meio tempo, faz um tempo desde minha última turnê lá.

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9 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa na sua vida?

Não quero soar muito cliche, mas música é tudo para mim, e sempre foi.

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