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A música conecta

Soul Button e sua visão apaixonada sobre a música. Em Janeiro ele traz o showcase da Steyoyoke ao Brasil

Por Alan Medeiros em Entrevistas 01.12.2017

A constante efervescência e o clássico perfil artístico avançado de Berlim contribuem para o surgimento de projetos com diferentes tamanhos e proporções. Techno, minimal, disco, house… todos os estilos possuem bons representantes na capital da Alemanha e isso é o que mantém a chama da cidade acessa para iniciativas variadas e voltadas a música eletrônica em frentes distintas.

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Sem se limitar a gêneros, alguns desses projetos passam a exportar o padrão de qualidade tipicamente berlinense através de mais de um estilo musical. Como um ótimo exemplo desse cenário podemos citar a gravadora Steyoyoke, comandada por Soul Button, que se tornou uma referência mundial numa linha de som mais voltada para o deep house melódico e um imprint em ascensão dentro do techno, muito por conta do seu projeto Steyoyoke Black.

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Com um filosofia de trabalho que enxerga seus artistas como parte de uma família e um time de respeito de brasileiros no catálogo, o label há muito tempo é um pedido frequente do público verde e amarelo. Em Janeiro, essa espera finalmente chega ao fim com a primeira tour do Steyoyoke Showcase em solo nacional. Soul Button, BLANCAh, Alex Justino e Binaryh são nomes confirmados da programação que deve abranger diferentes estados brasileiros e já possui uma data confirmada em Santa Catarina. Nesse bate-papo exclusivo com o frontman da gravadora, descobrimos alguns detalhes importantes da caminhada do selo. Confira:

1 – Olá, Chris! É um prazer falar com você. Pensando na forma como você se relaciona com a música, quais foram as principais mudanças nesse aspecto desde 2012, ano que você fundou a Steyoyoke?

Olá pessoal! As coisas mudam extremamente rápido na cena musical – no início era tudo sobre vocal deep house e agora acabamos produzindo ethereal techno. Nós vendiamos mp3 e agora só pensamos no streaming. Nós amávamos Facebook e agora não gostamos. Vamos ver o que está por vir!

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2 – Sua bio diz que manter uma proximidade com fãs e seguidores é algo que ajuda a manter sua inspiração criativa. Como exatamente você busca estimular isso?

É bastante difícil manter contato constante com os seguidores, mas eu adoro isso. Não acredito em artistas que são inacessíveis, sejam quais forem as razões por trás disso. No final, somos pessoas comuns. Costumo encontrar tempo para me conectar com meus seguidores através de diferentes canais de mídia. É incrível acordar com dezenas de mensagens, definitivamente me motiva a fazer e dar mais em troca. Sempre acreditei (e ainda acredito) na música como comunicação, então por que eu deveria parar de interagir com as pessoas que amam e admiram o que faço?

3 – Percebo que a Steyoyoke iniciou bastante focada em deep house e com o tempo passou a absorver atmosferas ligadas ao techno – especialmente na Steyoyoke Black. Essas mudanças se devem principalmente a um ciclo natural da gravadora ou são fruto de uma transformação dos artistas que formam o labbel?

Vocês estão totalmente certos quanto a isso. Sim, foi uma evolução musical absolutamente normal. Não posso dizer o porquê de ter acontecido, pois simplesmente não tenho uma resposta. Meu gosto musical mudou muito e ainda continua mudando. Acho que tudo aconteceu ao mesmo tempo porque começamos a nos influenciar. Nick Devon gosta de techno, Dahu gosta de música conceitual minimalista, eu gosto de melodias, BLANCAh gosta de electro, MPathy gosta de tech house, Clawz SG gosta de melodias como eu, mas ele também gosta de coisas niveladas em 124 bpm… então, acho que colocamos tudo isso junto e se tornou o que Steyoyoke e Steyoyoke Black são hoje.

4 – BLANCAh, Alex Justino e Binaryh são alguns artistas brasileiros que já lançaram na Steyoyoke. Como você enxerga o momento da produção musical do Brasil? O que cada um desses artistas conseguiu trazer de novo para o seu selo?

A cena musical no Brasil é simplesmente incrível. Mal posso esperar para estar de volta em breve. Você não imagina a quantidade de demos que recebemos de produtores brasileiros. Muitos deles são bons produtores. Há dois dias, assinei com outro artista brasileiro, porém, desta vez para o selo Inner Symphony.

Alex Justino produziu 2 faixas fantásticas e as pessoas ainda as amam. É uma pena que foi lançado apenas um EP. Não demorou muito para que o adorável Binaryh se tornasse parte da família. Rene sempre entrega faixas com uma qualidade de som inacreditavelmente incrível, ele é um bom produtor e engenheiro de som, ambos nos ajudam muito. Cami está sempre disponível, não importa o que for e com a ajuda de Rene, nós mixamos as faixas dos novos artistas. Por último, mas não menos importante – BLANCAh. BLANCAh é tudo. Em primeiro lugar, ela é uma amiga e, em segundo lugar, ela traz cores… em tudo que ela faz.

4 – Falando especialmente da BLANCAh. Como você chegou até o trabalho dela? De que forma ela tem contribuído para o sucesso da gravadora nos últimos anos?

Conheci ela há 5 anos. Eu estava tocando no Brasil, ela se aproximou e disse: “Você veio de Berlim, certo?”. Em seguida me falou uma das melhores coisas que já ouvi na vida: “Hoje você abriu um mundo completamente novo no meu cérebro”. Ela segurava um adesivo da Steyoyoke.

Não quero exagerar, mas acho que a Steyoyoke ainda está de pé graças à sua energia, sugestões, motivação e seu caráter positivo. Definitivamente amo ela, menos quando ela não fala comigo porque está ocupada tirando fotos para o Instagram.

5 – Em 2018 você deve trazer o showcase da Steyoyoke para o Brasil, certo? O que está sendo planejado e o que já pode ser anunciado até aqui?

Estamos trabalhando em algumas datas para a região Sul e Sudeste e já temos uma data para o Showcase da Steyoyoke em Florianópolis em janeiro. Não posso dar muitos detalhes agora, mas posso dizer que faremos shows incríveis com nossos artistas.

6 – Berlim é um polo especial para a música eletrônica global, não é mesmo? De que forma a cidade tem contribuído para a sua evolução enquanto artista? Quais são seus programas preferidos fora da música eletrônica por lá?

Berlim foi um polo especial para a música eletrônica global, na minha opinião. Se você olhar de fora, ainda é a principal cidade da música eletrônica, há festas legais em todo lugar e você pode se divertir ouvindo grandes artistas em pequenos clubes undergrounds. Mas tudo mudou bastante nos últimos anos e o lado underground da cidade se foi. Nos últimos 5 anos, os ingressos dos clubes subiram de 5 a 15 euros, ainda que continue barato comparado a Amsterdã ou Paris, os promoters começaram a ver o business, e isso mudou muito. Ainda tive sorte de mudar pra cá há 12 anos e definitivamente tirei tudo o que pude tirar desta cidade – a inspiração mais extrema para um artista. Mudei de Londres para Berlim e minha vida mudou completamente. Vamos ver qual é a próxima cidade, acredito que poderia viver e criar em Madri ou Lisboa e não me importaria de mudar para perto do sol e dos territórios virgens. Além das festas, adoro Berlim por todas as exposições de arte e os escritórios com espaço aberto, onde tantas pessoas diferentes de todo o mundo se encontram.

7 – Manter as contas de uma gravadora independente saudáveis é certamente um dos grandes desafios do mercado fonográfico até o momento. Como você busca equilibrar esse lado na Steyoyoke?

Até um ano atrás, vivíamos confiando nas vendas de MP3, mas agora é bastante desafiador. Pouquíssimas pessoas compram música, pouquíssimas pessoas compram disco ou merchandise, ninguém compra CDs, mas Spotify, Apple Music e Deezer estão nos salvando. Adoro o conceito, acho que a música deve ser gratuita e viver com as pessoas que escutam nossa música apenas nesses serviços de streaming – é a melhor forma. Spotify ou Apple Music custam definitivamente €10 por mês, é um ótimo negócio e faz isso tudo ser sustentável.

8 – Para finalizar. Nós enxergamos a música como uma forma de conexão entre as pessoas. Na sua opinião, qual o grande significado dela em nossas vidas?

A música provoca emoções e sentimentos. Uma canção pode fazer você dançar, chorar ou se sentir incrível. Eu sempre distingui a palavra faixa da palavra canção. Uma faixa é apenas uma colagem de sons, uma canção é algo que lhe dá uma emoção. Vivemos em um mundo onde as notícias da TV fazem você deprimir, há tanta negatividade ao redor… então eu ainda acho que a música é algo que pode nos dissociar de todos os problemas diários e nos dar esperança. Minha citação favorita caberia perfeitamente aqui: “Dançar não é apenas se levantar, sem dor, como uma folha voando no vento; dançar é quando você despedaça o seu coração e se eleva acima do seu corpo e fica suspenso entre os mundos.” Jalaluddin Rumi.

A música conecta as pessoas! 

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