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A música conecta

Secret Files 015 | Villaça

Por Alan Medeiros em Secret Files 24.09.2024

O caos urbano de São Paulo pode ser uma fonte inesgotável de inspiração para artistas que se destacam em meio ao cenário eletrônico, e o projeto de João Villaça, mais conhecido apenas como Villaça, é um dos exemplos mais contundentes dessa dinâmica. Seja em formato live ou DJ set, Villaça tem como missão principal conectar referências sonoras bastante vastas, moldando uma personalidade artística que conversa diretamente com as diversas faces da Dance Music.

Com apresentações que passam por grandes festivais e clubs da nossa cena, como o Terraza Music Park, D-EDGE, Mauss Club, além do memorável Boiler Room São Paulo, Villaça vem conquistando espaço com uma proposta sonora que conecta públicos diversos. Sua presença marcante em gravadoras como Nobii Records (onde também atua como curador), ANTAM Records e LEMAIA é um testemunho do seu talento e da identidade própria que ele imprime em suas produções, como no caso da faixa Jinzo, parte do EP Risky Sciences. Esse trabalho sintetiza seu estilo envolvente, onde o analógico e o digital coexistem harmoniosamente.

Como DJ, Villaça é um pesquisador assíduo e que desenvolveu uma bagagem muito pautada pelas suas experiências de pista, dentro e fora da cabine. A nosso convite, ele nos presenteia com uma seleção de 10 faixas essenciais de sua trajetória, que revelam suas influências e o que ele considera imprescindível para garantir a energia na pista de dança. Papel e caneta, vamos lá:

1. Bobby Parker – Automatic BPM

Não tinha como essa não ser a número 1 da lista, uma música que ouvi pela primeira vez na Nova Era, em Carapicuíba, lá por 2018. Foi tocada bem no momento em que as festas que eu frequentava passaram de um som mais minimalista para uma estética mais ligada ao House e Techno old school. Essa música resume muito bem a estética sonora da qual pertenço, com timbres pesados e sujos de bateria, uma bassline ácida e melodias de tom espacial.

2. Risque III – Essence of a Dream

As influências desses pioneiros de Chicago estão tão profundamente enraizadas no vocabulário da Dance Music que muitas vezes até esquecemos que é dali que as coisas vieram. Essa música poderia tranquilamente ter sido lançada durante os anos 2010 por labels ligadas aos Deep Tech, Minimal House, ou algum release dos anos 2000 da Cadenza do DJ Luciano ou da Perlon, mas NÃO, isso é Chicago House do mais puro, feito em 1987.

3. Keith Tucker – Elektronik

Essa é uma das minhas músicas de pista favoritas da vida. Descobri ela no meu Boiler Room preferido: DJ Stingray Boiler Room x Budweiser Bogotá DJ Set. Ela é um Electro bem safadinho com uma escolha de timbres de bateria bem peculiar. Acho que o que me impactou foi a forma que o Stingray tocou ela, colocando-a depois de uma sequência massiva de Techno, usando essa faixa como uma forma de despressurizar a pista, dando aquela sensação de quase ficar sem ar embaixo d’água e depois sair e respirar. Eu achei genial, sempre que cabe, tento tocá-la exatamente com essa função de despressurização da pista.

4. Fabio Ape – Zone Range Trax

Essa daqui é maravilhosa, uma música perfeita para qualquer warm-up, em qualquer rolê dentro do universo House, Techno e suas variáveis. Ambiências lindas, melodias inspiradoras e percussões introspectivas e emocionantes, de um dos produtores mais talentosos e ousados do Brasil.

5. Telex – Discos Moskow

Esse é um clássico! O motivo dela estar na playlist é que, além de eu sempre tocá-la em gigs mais tranquilas, ela mostra que música boa é atemporal e que nós, da nova geração, temos a obrigação de saber de onde as coisas vieram. Essa música é de 1979 e você pode ter certeza que vai encontrar nela características de timbres e estruturas melódicas e rítmicas que já ouviu muitas vezes!

6. Trajano – Praiana

O Trajano é um irmão que a música me deu. Acompanho a jornada e dedicação dele há muito tempo, e para quem só conhece o trabalho dele por cima, provavelmente associa sua estética a um som bem pesado e obscuro, mas ele tem muito repertório, tanto como DJ quanto como produtor, para fazer um som cheio de groove. Esse breakbeat com uma linha de acid bem sci-fi, pianos e melodias numa vibe House, além dos vocais em português escondidos no final da música, são a prova disso!

7. Onerok – Angkor Vat

Ouvindo essa fora de contexto, ela soa simplesmente como um House, viajandona, mas House. Porém, eu a encontrei no meio de uma pasta só de Trance e Acid Techno bem pesado. Ela foi originalmente lançada em um VA em CD dentro desse universo Trance dos anos 90, onde muitas referências de gêneros se misturavam. A mensagem que fica é que você nunca sabe quando uma pérola vai aparecer na pesquisa, tenha critério, porém sempre mantenha o ouvido aberto!

8. Onur Ozer – Winter Track

Onur foi uma figura chave para a mudança estética da última década. Ele foi decisivo para que toda uma geração jovem se interessasse pela cultura do vinil e por sonoridades de máquinas analógicas. Muitos dos DJs, gravadoras e até distribuidoras que prensam as novidades em vinil atualmente, foram diretamente influenciados pela estética sonora do Onur. Essa estética old-school, misturando diversas características do universo House e Techno, está encapsulada perfeitamente nessa música!

9. Wil Do – This Is Your Life (4am Mix)

Wil Do é, de longe, uma das mentes pensantes mais admiráveis da nova geração na América do Sul. Aqui ele traz uma música que resume muito bem seu trabalho, com um uso inteligente de samples e uma energia que consegue impactar desde um rolê diurno, bebendo cerveja com os amigos, até um club lotado às 4 da manhã. Já comprei minha cópia desse!

10. Bricks and Synths – My Pandemic Song

Bricks and Synths é um nome alternativo da produtora uruguaia Michelle. A escolha dessa música se deu por conta de ela representar muito bem o clima hipnótico que muitas produções uruguaias carregam. É também uma boa introdução para quem busca conhecer mais sobre o som do Uruguai e a parte da indústria que eles representam, além de ter sido lançada na Time Passages, uma das minhas gravadoras favoritas. 

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