No início da década de 2010, a música eletrônica vivia um momento de transição. À frente dessa virada, estava a Hot Creations: selo britânico fundado por Jamie Jones e Lee Foss, que ajudou a redefinir e a apresentar o som de pista para uma nova geração, com uma estética mais quente, mais funkeada e essencialmente acessível.
Como um reencontro entre a alma da House music com raízes da Disco, Funk e R&B, revestida de uma produção contemporânea, que flertava com o Deep House, ao Electro e até o Acid, seus lançamentos tomaram as pistas e os charts, abrindo espaço para uma nova geração de artistas e expandindo o gosto do público. O selo construiu uma estética sonora que conversava com o underground, ao mesmo tempo em que abria caminho para as massas, rompendo barreiras entre as cenas, em um momento onde as fronteiras do underground com o mainstream eram muito mais contrastadas devido à época de ouro da EDM.
Nesse processo, a gravadora também foi uma grande incubadora de talentos. Nomes como Patrick Topping, Richy Ahmed e wAFF despontaram através do selo, enquanto o projeto Hot Natured conquistou um espaço inédito, com lançamentos que atingiram reconhecimento global. A criação de sub labels como Hottrax e Emerald City, permitiu o desdobramento de propostas distintas, mas que compartilhavam a mesma raiz artística. A gravadora foi uma resposta criativa ao seu tempo e, mais de uma década após a sua fundação, sua relevância ainda se sustenta, sendo a marca uma das grandes expoentes, definidoras de tendências e plataformas artísticas dentro do Tech House.
A seguir, destacamos algumas faixas que ajudaram a contar essa história e sintetizam o impacto da Hot Creations como um dos capítulos mais marcantes da década.
Jamie Jones – Ruckus (2010)
O pontapé da Hot Creations. É um híbrido dançante de Disco e Funk com vocais. Uma faixa que ainda traz um bassline marcante e uma estética quase cósmica. Um hino Jackin’ moderno, que ajudou a moldar a assinatura da gravadora.
Le Foss – U Got Me (2010)
U Got Me combina influências de Disco e R&B dos anos 80 e vocais que se desenrolam e se repetem ao decorrer da faixa, sem deixar de lado a modernidade, criando uma sensação de memória e vanguarda. Tudo ao mesmo tempo.
Hot Natured – Forward Motion (feat. Ali Love) (2011)
A faixa é uma progressão dentro do Deep House. Uma linha de baixo que se entrelaça aos poucos com camadas de sintetizadores, enquanto os vocais de Ali Love são integrados de forma gradual, culminando em um groove que, sem que você perceba, te leva direto para a pista.
Miguel Campbell – Something Special (2011)
A faixa se destaca por trazer R&B, groove e uma batida que remete ao Garage House. Lembra a vibe clássica do Daft Punk, mas com um toque mais orgânico. A progressão é construída lentamente, enquanto o riff vocal funciona quase como um mantra, dando vida a uma das tracks que mais emblemáticas deste catálogo e que marcaram em definitivo o ano de 2011, conquistando pista e rádio.
HNQO – Point Of View (2012)
Este é o lançamento que fez com que, em menos de um ano, HNQO se firmasse como uma referência brasileira no cenário internacional da dance music. A faixa, que foi um sucesso de performance em todas as plataformas digitais, carrega vocais que surgem de forma gradual, encaixando-se perfeitamente em sua evolução.
Funky Fat & Digitaria – You Bring Me Down (2012)
You Bring Me Down marcou a segunda colaboração entre Digitaria e Funky Fat. A faixa traz uma energia funky e densa ao mesmo tempo, englobando um vocal suave que se repete ao longo da track, criando um contraste com os synths e a linha de baixo. É possível observar tensão e movimento ao ouvi-la, lembrando uma atmosfera futurista. House com alma de Indie Dance e a assinatura inconfundível do Digitaria.
Hot Natured – Benediction (2012)
Um verdadeiro hino dessa trajetória! Com uma produção sofisticada que mescla Deep house, elementos de Soul e Disco, combinado com vocais de Ali Love, a faixa alcançou o topo das paradas internacionais, com uma abrangência que foi das pistas alternativas aos canais mais populares de música. Benediction é um marco essencial, tanto do trabalho da Hot Natured, quanto do selo Hot Creations.
Hot Natured – Reverse Skydiving (feat. Anabel Englund) (2013)
É quase impossível que você não tenha ouvido essa faixa tocar. A produção equilibra camadas minimalistas de sintetizadores com a voz de Anabel Englund, incorporando elementos de Deep House e um toque melódico, dando vida à faixa que se consolidou como um clássico moderno, mantendo-se relevante anos após seu lançamento.
Steve Lawler – House Record (2015)
House Record pode ser considerado um marco na transição do Deep House para uma abordagem mais techy dentro do catálogo da gravadora. A faixa traz uma linhagem de baterias que foi muito replicada nos anos seguintes, sendo até mesmo uma espécie de base para referências mais ligadas ao ‘minimal’ que se popularizaram dentro do Tech House. Além disso, foi amplamente tocada por DJs de diferentes estilos e é a primeira faixa dessa lista que traz na capa as icônicas ilustrações que permaneceram por muitos anos como parte essencial da identidade do selo.
Patrick Topping – Be Sharp Say Nowt (2017)
Sucesso absoluto nas pistas do mundo inteiro em 2017. Se teve uma faixa que realmente dominou clubs e festivais, foi essa. Além disso, Be SharP Say Nowt verdadeiramente revelou Patrick Topping para a cena global. Combinando House com uma linha vocal poderosa de LaShun Pace, ela é tudo menos previsível. Um hit atemporal que certamente será redescoberto muitas vezes.