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A música conecta

Arte e política na construção orgânica de um coletivo Subliminar

Por Ágatha Prado em Storytelling 15.09.2022

Se você for procurar pelo significado de “subliminar” no dicionário, encontrará a seguinte definição: algo que é entendido pelas entrelinhas. E pelas entrelinhas da arte em suas frentes diversas, e principalmente, pelas entrelinhas das múltiplas estéticas da música eletrônica underground, uma ideia subliminar foi ao encontro de PR.A.DO em março de 2020. 

Tudo começou com um evento multiartístico em uma república de estudantes da USP, onde PR.A.DO reuniu DJs, exposições, drinks e poesia marcando o começo de um projeto frutífero. Porém duas semanas depois, com a chegada da pandemia e a paralisação dos eventos, PR.A.DO não deixou sua ideia abater. Apostando na ampliação do projeto via internet, a Subliminar foi tomando forma e consistência com a criação de podcasts de DJs convidados, e uma forte rede de artistas e colaboradores de diversas frentes: “a comunidade abrange o trabalho de artistas de forma geral que transcendem a pista de dança. Com isso percebemos que todas as pessoas que vão para as festas também são os donos de páginas de arte no Instagram, vendedores de brechó, pessoas que divulgam o cookie da amiga, enfim, isso fez a gente se conectar de fato com nosso publicou e entender melhor quem são as pessoas que acompanham nosso trabalho” explica PR.A.DO.

No andar da carruagem, a Subliminar também foi integrando sua própria identidade dentro do cenário musical. Foi reunindo produtores que compartilhavam da mesma diretriz de abertura estética, sem limites para a criação, que PR.A.DO, 808bhz, Botella, Catib, Gabriel Ide e Lautert desenvolveram suas skills de produção musical, utilizando a Subliminar como uma proeminente incubadora criativa, não somente para eles, como também para diversos outros artistas do Brasil. “A Subliminar serviu de espaço para esses e diversos outros artistas mostrarem seu trabalho, e muitos tiveram seu primeiro lançamento com a gente”, relembra PR.A.DO.

Em tempos onde a segmentação musical por rótulos, estéticas e subgêneros tem ditado as regras do mercado fonográfico, nadar contra essa limitação previamente imposta é uma forma de manifestar a resistência pela liberdade criativa. E é baseado nessa liberdade artística que vai além da pista de dança, e da vivências das noites, que a Subliminar se inspira nas ideias do movimento Cabaret Voltaire – clube suíço que abraçou o dadaísmo e a contracultura em 1916 -, do surrealismo e da cultura urbana. “ Eu realmente tentei condensar um estilo de vida mais do que apenas a música e a noite, isso foi resultado de diversas pesquisas prévias e estudos que rolaram para desenvolver todo o conceito da Subliminar antes dela sequer ter esse nome. A ideia sempre foi criar um ambiente com fins de entretenimento e conhecimento para pessoas que querem realmente viver uma vida mais colorida pela arte, isso que dá sentido para a vida de muita gente.”

Então, como consequência das ideias compartilhadas e concebidas, começaram a vir os resultados. O V.A Mandrake chegou em outubro de 2020 dando um gás no catálogo da gravadora. Trazendo o Funk como carro-chefe, misturado aos beats do Electro, Acid e Techno, o compilado foi um sucesso nas pistas, incluindo faixas de PR.A.DO, Entropia Entalpia, Botella, 808bhz, Art Popper e Catib. “A partir disso, as pessoas que gostaram do lançamento sempre pediram a parte dois, sempre queriam mais, e esses dois anos serviram para realmente entender que a nova geração das pistas ama o Funk, e não faz sentido não misturar isso com a música eletrônica mais convencional. Apesar de algumas pessoas não gostarem, é um movimento bem ligado a nossa cultura como brasileiros, e não faz sentido ignorar como outros ciclos ignoram.” A faixa Gaiola do Pradin, do PR.A.DO, recebeu o suporte de Carrot Green e Trepanado, durante o Boiler Room no Dekmantel deste ano.

E que seja feita a vontade do público! O segundo volume do V.A Mandrake já está nas prateleiras digitais, com 20 tracks e uma reunião de artistas de diversos cantos do Brasil. Integrando o Funk tamborzão, Volt Mix, Miami Bass, com potências do Electro, House, Techno, a mensagem está nítida: Funk na pista! Os múltiplos direcionamentos que o V.A Mandrake 2 contempla, reflete a riqueza musical que compreende a diversidade cultural brasileira. A reunião de artistas nacionais do underground e suas diferentes expressões de entendimento do Funk, sintetizam a potência que o V.A entrega, assim como a genialidade que comanda a proposta da Subliminar. 

Ousado, urbano, irreverente e criativamente subversivo: Mandrake 2 está pronto para chegar chavoso nas pistas de dança de todo Brasil. Além dos já presentes no primeiro V.A, nomes como Gabriel Ide, Érica, Linda Green, Fortunato, pINKE, Seed Selector e muito mais, trazem a mensagem do Funk contemporâneo em suas variadas frentes ao longo do disco. Vale a pena aumentar o som da caixa e também acompanhar os demais lançamentos do catálogo da Subliminar

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