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A música conecta

Kerri Chandler: the king!

Por Ágatha Prado em Storytelling 26.11.2021

Falar sobre um ícone não é uma tarefa fácil, ainda mais quando o assunto é uma lenda viva que como poucos, revolucionou e permanece revolucionando a história da House Music por completo. Os títulos de rei, mestre, mago ou feiticeiro, são igualmente cabíveis ao artista em questão: Kerri Chandler.

Com mais de quarenta anos à frente dos decks, e mais de trinta como produtor musical, Chandler revolucionou a forma de consumir a House Music. Estamos falando de um artista que começou a tocar profissionalmente aos 13 anos (!), e graças à influência ilustre de seu pai – que também era um excelente DJ – herdou uma bagagem magistral de repertório que moldaram os gostos musicais do menino Kerri, desde a infância. Jazz, Soul, Disco, Funk faziam parte da coleção de discos de Joe, pai de Kerri Chandler, e foram esses mesmos discos que giraram nas mãos do artista pela primeira vez em Nova Jersey, no Rally Racquet Club, quando era conhecido carinhosamente como DJ Little Man.

Desde então, a paixão pela música de vanguarda e a ânsia por misturar o clássico a um toque peculiar contemporâneo, passou a ser a máxima perseguida por Chandler. E relembrando, Kerri começou a discotecar em uma época em que não havia mercado em torno da cultura DJ, com a estrutura e o glamour que hoje alimentam a cena eletrônica. Naquela época, discotecar era um ato único e exclusivamente de amor à música e por fazer as pessoas dançarem.

Seu primeiro trabalho na produção musical foi lançado em 1991, pela Atlantic Records, com o single Super Love/ Get It Off, trazendo a forte influência da música gospel com um tipo de bass que aprendeu com um conselho de seu pai: “nunca lance um disco com foco nas cordas ou  nos vocais, porque é fácil de fazer. Sempre faça isso com uma bateria ou um baixo – algo curto e forte, porque você pode transformá-los gradualmente”.

E foi essa que se tornou uma das principais características de Kerri: introduzir uma complexidade única ao arranjo de suas faixas, bebendo das fontes do Jazz e dos grooves do Soul, misturado à energia da House Music. 

Desde então, Kerri nunca mudou seu estilo para seguir uma tendência. Durante essa longa jornada, sua assinatura é claro que passou por uma evolução – do House do início de Nova York ao Deep House dos anos 90 e início dos anos 2000, até sua versão atual. Conectando toques clássicos às tonalidades mais modernas, substituindo as baterias Proto-House por sonoridades mais contemporâneas, Kerri dá seu toque ainda mais magistral ao misturar novas texturas com sua paleta de Deep House clássico, usando tudo como uma tela em branco para que ele possa criar livremente com seu piano e efeitos ao vivo. 

E é através dessa habilidade especial para mesclar tradição e inovação que Kerri fez o mundo se render às suas produções, sobretudo como fez com Atmosphere pela Shelter Records, em 1993. Uma obra que permanece atual, mesmo após quase trinta anos de seu lançamento e que revolucionou as estruturas de percepção sobre a House Music

O mais interessante é ver como Kerri se voltou à esse EP por várias vezes, adicionando diversas variações que brotavam de sua mente inquieta, tornando o clássico cada vez mais contemporâneo e imortal.

E foi evoluindo na proposta de misturas e ousadias refinadas, que Kerri “Kaoz” Chandler foi construindo um Deep House  que marcou a segunda metade dos anos 90 de forma classuda, com melodias de arranjos mais maduros e profundos, sem necessariamente se prender à grandes auges, mas simplesmente mostrando a complexidade de suas bases que dão toda especialidade à forma.

Nomeado por muitos como o  “Stevie Wonder da House Music”, como vocês puderam ver ao longo do texto, Kerri assumiu alguns pseudônimos que marcaram a linha temporal de sua carreira. Iniciando como DJ Little Man ainda na infância, passando pelo codinome KAOZ 6:23 – especialmente porque segundo ele, o caos rodeava sua agenda de estúdio, lançamento e apresentações, e sobretudo toda data de 23 de junho, algo de especial acontecia em sua vida -, Kamar – por onde lançou diversas faixas pela Madhouse -, Stratosphere, e finalmente chegando a sua mais conhecida alcunha. 

https://www.youtube.com/watch?v=bDVzpl_khp8

Além do próprio estúdio, a paixão pela propagação musical de qualidade também sempre esteve atrelada aos trabalhos de sua gravadora Madhouse. O label fundado em 1992,  tornou-se predominantemente uma válvula de escape para os lançamentos de Kerri, bem como de produções de artistas que ele descobriu ao redor do mundo. O primeiro lançamento foi um pack de 6 faixas intitulado  A Basement, A Red Light & A Feelin

https://www.youtube.com/watch?v=IhOPkU_mL6Y&list=PLurTO43o-LBKqfxzOHuMvoDCHVxCx3WQQ&index=1

Pelo selo, pudemos ver produções de veteranos como Lafayette, Christopher McCray, Anthony Flanagan, Dennis Ferrer, Arnold Jarvis, além das estrelas da atualidade Detroit Swindle, Peggy Gou, Jimpster, Josh Butler, DJ Deep, DJ Steaw, Kevin Over, Black Loops, Adesse Versions, Will Saul, Dennis Quin e Demuja.

A gravadora completou em 2018, 25 anos de história, celebrando uma contribuição considerável para a história da House Music, com um legado que continua a moldar a música eletrônica até os dias de hoje.

https://www.youtube.com/watch?v=01OmxsHV67Q

Em 2012, Chandler lançou seu selo MadTech que funciona como um sub-selo da Madhouse, e ainda mais recentemente, Kaoz Theory, em homenagem ao seu apelido frequentemente usado. A MadTech foi criada por causa de todos os talentos novos que Chandler estava conhecendo, particularmente durante sua residência no DC-10 de Ibiza nos últimos oito anos. 

Como se não bastasse toda essa genialidade em constante efervescência, Kerri apesar de toda a tecnologia à sua disposição, contempla os moldes raízes de se apreciar e apresentar uma seleção musical. Quando o artista ainda era o menino DJ Little Man, frequentemente assistia os players se apresentarem no clássico formato “reel to reel”, assim como fazia o eterno padrinho da House Music, Frankie Knuckles, uma das maiores inspirações de Kerri Chandler. Foi então que o artista passou a investir no formato, chocando o público para além de seus próprios seguidores, com uma apresentação que foi lançada pela Resident Advisor, manipulando quatro decks de bobinas de fitas para uma seleção surpreendente.

O apreço pela performance evoluiu para o projeto Spaces And Places, primeiro show que Kerri Chandler apresentará no próximo dia 28 de novembro, inteiramente em formato reel to reel, no Roundhouse de Londres, com incríveis seis horas de set. O esquenta da apresentação foi divulgado pela Defected no início do mês, o que já adianta que a apresentação do mestre entrará para história.

Privilegiados foram aqueles que puderam ver de perto, o astro da House Music abrilhantando o palco do Rock In Rio de 2015, em sua estreia em terras tupiniquins. No Rio De Janeiro, Mr. Chandler dividiu o line com Matador, Pig and Dan, Davide Squillace, Mathias Tanzman e Bárbara Tucker. 

Será que teremos uma nova oportunidade imperdível, de vê-lo mais uma vez aqui no Brasil? Eu não sei vocês, mas se assim for, já estou com roupa de ir!

A música conecta.

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