Seth Troxler é um dos artistas mais conhecidos da cena underground quando falamos em house e tech house. Com uma abordagem bastante singular e destemida, ele desafia os limites do convencional em tudo aquilo que põem a mão, seja no campo da música, da arte, da cultura, da tecnologia ou do que for. Essas características ele também leva para cima dos palcos, construindo sets ousados e arriscando entregar às pessoas à sua frente algo que elas provavelmente não estavam esperando, mas sempre com um gingado diferente do que costumamos ouvir de qualquer outro DJ; é aquela premissa do 8 ou 80, uns amam, outros odeiam. Apesar disso, uma coisa não dá pra negar: ele é um cara muito divertido, eloquente e que tem registros épicos e engraçados como esse vídeo viral de 2010 — fucking bats!
Essa criatividade no DJing e na produção talvez se deva ao longo tempo de carreira que ele já possui na música… afinal, logo após terminar o ensino médio, com 18 anos, ele já estava tocando no Panorama Bar e no Robert Johnson, na Alemanha, isso ainda nos anos 2000. Loucura, né? De lá em diante sua carreira apenas cresceu mais e mais, atingindo seu “ápice” popular em 2012, quando foi eleito o DJ número #1 do mundo no ranking Top 100 DJs do Resident Advisor — apesar disso, em uma entrevista recente para o mesmo portal, ele afirmou que “DJs não atingem seu ritmo antes dos 40 anos”, o que reforça a afirmativa de ser um cara polêmico.
Nem caberia citar aqui os principais clubs e festivais do mundo nos quais ele já tocou (que foram praticamente todos), mas vale pontuar que esse status de fama como um DJ global parece ter aberto um caminho de liberdade e aventura à sua frente, o que deu origem a projetos que vão além da música, como seu restaurante Smokey Tails, inaugurado no ano de 2013 em Londres, ou mesmo a sua escalada ao Monte Kilimanjaro, em 2016, numa ação de caridade que buscava arrecadar 1 milhão de dólares. Como ele diz em sua própria biografia: “vivo para trabalhar em projetos e construir ideias que ficam no ponto onde arte, comércio e ideias se encontram”, para ele, isso é realmente a essência da vida.
A cozinha do Smokey Tails. Foto: divulgação 
Escala de Seth Troxler ao Monte Kilimanjaro. Foto: arquivo pessoal
E se formos falar de música, parece que encontrar uma definição se torna uma tarefa ainda mais complicada, afinal, nem ele mesmo gosta de se rotular. Num bate-papo com a Forbes, em novembro do ano passado, ele foi enfático: “O melhor gênero é nenhum gênero […] Eu realmente tento não ser definível”, e é exatamente isso o que o torna diferente dos demais. Você até pode ter uma vaga ideia do que irá ouvir na pista, House, Tech House, ok… mas com certeza ainda será surpreendido em diversos momentos. Essa liberdade de tocar sons diferentes dando o seu próprio toque, até mesmo de fora da música eletrônica, é o que faz Seth ser especial e foi o que o levou à posição de destaque na indústria. Sem preocupações, sem egos, apenas sorrisos e muita diversão.
Tanto que ele gosta de experimentar não apenas em cima do palco, mas também no estúdio, mostrando que seu ímpeto criativo ainda está bem calibrado. Na metade do ano passado, ele fundou o novo selo Slacker 85, onde arte e moda se encontram em busca de destacar sons excêntricos e abrangentes, com estéticas não convencionais. A estreia rolou através do single Pills, seguida depois por uma compilação de quatro faixas com participações de Troxler, Jackmaster, Ghoulish e Cesar Merveille com André Baum. No post de lançamento, ele escreveu: “Nunca tive uma gravadora só para mim. Aqui estarão todas as minhas ideias sem filtro. Sem compromisso. Estou cansado de ser legal, de manter postura. […] Eu queria fazer algo que representasse a mim, a você e a todos que conheço. Um canal para minha mente estranha, sombria e bizarra”, mais Seth Troxler que isso, impossível.
Mas o Slacker 85 é apenas um exemplo das suas vastas e multifacetadas capacidades, tanto que ele também comanda o projeto Lost Souls of Saturn, ao lado de outra mente criativa, Phil Moffa. Na última sexta (02), saiu um álbum fresquinho que exemplifica muito bem a proposta do LSOS — uma experiência sonora que ultrapassa os limites da percepção. Reality mistura música, animação e ilustração e foi lançado acompanhado de uma história em quadrinhos com realidade aumentada, inclusive com uma exposição na W1, importante espaço público de exposição de arte em Londres.
Atualmente, Troxler não vive mais aqueles dias hedonistas do passado, muito pelo contrário, está num momento mais caseiro, morando em Zurique, na Suíça, aproveitando mais a esposa, os filhos e desacelerando das turnês aos poucos. Ele não quer ser lembrado pelas coisas polêmicas que disse ou fez no passado, mas sim pela música ou pelas coisas com as quais contribuiu e foram relevantes para a cena, sejam elas artísticas ou culturais. Apesar dessa maturidade maior como pessoa e como DJ, quando ele assume a cabine em uma festa é como se o espírito jovem de 20 anos atrás retornasse ao seu corpo, acendendo uma chama que faz a pista de dança ferver.
+++ Seth Troxler e Brasil: uma relação de match especial no carnaval
A prova disso será neste carnaval, já que ele tem três grandes eventos pela frente: dia 09 na Circoloco, no Rio de Janeiro, dia 10 no S.O.M Festival, em Trancoso, na Bahia, e dia 12 no CarnaRARA, novamente no Rio, festa que ele mesmo ajudou a criar lá trás, em 2020, em formato gratuito. Será uma oportunidade e tanto de ver esse grande DJ mais uma vez em terras brasileiras, compartilhando todo seu amor com um público que deve retribuir na mesma medida.
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